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NA TARDE seguinte, Jasim saiu da sala que havia escolhido para trabalhar próximo à creche. Ele parou em frente à barreira de vidro para espiar a creche no andar inferior.
Sami estava sentado em uma cadeirinha. Jasim franziu o cenho. Seu filho parecia despender a maior parte do dia em cadeirinhas com brinquedos e playgrounds, como um prisioneiro. Sami estava seguro, mas entediado.
Jasim se lembrou do vazio de sua própria infância. Ele nunca conhecera a mãe e não fora capaz de conviver com o pai até que tivesse 10 anos.
Jasim nunca teve ninguém para abraçá-lo quando chorava; sua educação havia sido excessivamente rígida. Ele tinha sido educado desde muito cedo em uma academia militar no exterior, onde aprendera uma disciplina rígida e um autodomínio, assim como a forma de lidar com as agressões físicas e as travessuras que os garotos mais novos faziam quando os funcionários não estavam perto. Seu pai sempre fora uma figura distante, e as conquistas de Jasim nunca foram suficientes para agradá-lo.
Por causa de sua educação tão severa, Jasim estava ávido para assegurar que o seu filho tivesse uma infância diferente.
Ele o observara quando Sami ergueu uma torrada do prato que lhe fora servido e, então, acidentalmente derrubou-a no chão. Sami estendeu um dos bracinhos para tentar apanhar a torrada novamente. O menino percorreu os olhos ao redor, visivelmente procurando atenção, mas ninguém apareceu para ver o que tinha acontecido. Finalmente, Sami inclinou a cabeça para trás e começou a chorar. Seu filho era a imagem da tristeza e ninguém estava sequer tentando confortá-lo. Diversas crianças estavam precisando de atenção, e era um desafio para as assistentes cuidar de todas. No entanto, Jasim não poderia assistir à cena sem fazer nada pelo filho.
Ele entrou na creche e caminhou a passos largos na direção de Sami. Ao se aproximar, Jasim ergueu-o nos braços. Agarrado ao pai, Sami continuou chorando de maneira inconsolável.
– Vou levar o meu filho mais cedo para casa – informou Jasim à diretora e, pegando outra torrada do prato, ele a ofereceu a Sami. Imediatamente, a criança parou de chorar e, agarrando a torrada com as mãozinhas, levou-a até a boca.
Jasim saiu da creche com Sami em seus braços e se dirigiu à equipe de seguranças e aos assistentes que os aguardavam.
Elinor trabalhou obstinadamente durante a tarde, apesar de estar com medo de que pudesse cair no sono sobre o teclado a qualquer momento. Ela quase não dormira na noite anterior e acordara com uma forte dor de cabeça. Elinor teve que fazer um verdadeiro esforço para ir ao trabalho, e as dúvidas que a atormentaram durante a madrugada continuavam interferindo em sua concentração. Será que ela deveria dar uma segunda chance ao casamento pelo bem de Sami? Essa seria a melhor coisa que ela poderia fazer pelo filho? Sacrificar os seus próprios desejos e permitir que Sami ficasse no seu lugar de direito, como um herdeiro do trono de Quaram? Por quanto tempo Jasim permaneceria em Londres?
Mas havia uma coisa que ela não poderia mudar. Jasim era o pai de Sami. No entanto, Elinor amava o filho com todo o seu coração e temia que o pai pudesse interferir em suas vidas.
No final do expediente, Elinor entrou no elevador e desceu até a creche. Ela ficou aliviada ao ver que os seguranças de Jasim não se encontravam do lado de fora do local.
Ao entrar pela porta, Elinor olhou ao redor do ambiente em busca de Sami e sentiu o corpo ficar tenso ao ver a expressão alarmada no rosto de Olivia.
– O que há de errado? – Elinor quis saber.
– O príncipe levou Sami depois do almoço. Eu pensei que você soubesse – admitiu ela.
– Jasim o... levou? – indagou Elinor, chocada.
– Ele disse que iria levá-lo para casa.
Pela primeira vez em sua vida, Elinor desmaiou. Quando recuperou a consciência, ela notou que estava sentada em uma cadeira e com a cabeça reclinada.
– Respire fundo – pediu Olivia, tentando ajudá-la.
– Elinor, eu achei que não teria problema, porque ele é o pai de Sami.
– Sim, eu sei. – Elinor inspirou profundamente.
Reunindo coragem, ela lutou contra o medo que atrapalhava a sua capacidade de pensar com clareza. Será que Jasim teria levado Sami para Quaram? Ela temia que o marido fosse insensível o bastante para lutar por seus interesses de uma maneira agressiva.
– Está se sentindo melhor? – indagou Olivia esperançosamente. – O príncipe mandou um carro para vir buscá-la.
Ao erguer os olhos e avistar dois seguranças que a aguardavam na porta, Elinor sentiu uma onda imediata de alívio. Jasim não mandaria um motorista vir buscá-la se tivesse a intenção de levar Sami para o exterior sem que ela soubesse.
Mesmo assim, como ele ousara apanhar Sami na creche sem dizer nada a ela?
SENTINDO-SE NERVOSA e impaciente, Elinor entrou na biblioteca da casa, onde Jasim a recebeu.
– Onde está Sami? – Ela quis saber.
– Está dormindo no quarto do andar superior. Vou levá-la até ele...
– Quero falar com você primeiro. – E, erguendo o queixo, ela prosseguiu: – Você não tem o direito de apanhar Sami na creche sem a minha permissão! – condenou Elinor rigorosamente.
Jasim a encarou com frieza.
– Eu sou o pai dele. Vou agir de acordo com o que for melhor para omeu filho. Sami estava aborrecido e não recebeu a atenção que eu esperava dos funcionários da creche. Por isso eu o tirei de lá – respondeu ele serenamente.
– Você não tinha esse direito. Tem ideia de como eu me senti quandodescobri que você o havia levado? – indagou ela furiosa. – Eu estava com medo de que você o tivesse levado para Quaram e eu nunca mais pudesse ver o meu filho.
– Felizmente, eu tenho mais bom senso do que você – disse Jasim secamente. – Eu não faria isso a você ou a Sami.
– Mas deveria ter me avisado sobre os seus planos.
– Eu tentei telefonar.
Elinor apanhou o celular e, quando ligou o aparelho, verificou que diversas chamadas perdidas haviam sido registradas. Ela se sentiu um pouco mais calma. Ao menos, ele tentara contatá-la.
– Quanto à sua permissão, por que eu deveria ter pedido? Por acaso,você pediu a minha permissão quando me privou de todos os contatos com o meu filho por um ano?
– Aquilo era diferente. Eu tive bons motivos para agir daquela forma.
– Não, você não teve – contestou Jasim. – Só se eu fosse agressivo você poderia ter tido uma desculpa aceitável para ignorar os meus direitos como pai. Quando você abandonou o nosso casamento, estava pensando apenas em si mesma e em como você se sentia no momento. Eu me recuso a acreditar que você tenha pensado em como aquela decisão poderia ter afetado a minha condição de pai.
Elinor ficou tensa.
– Como esperava que eu me sentisse depois de ter ouvido o que Yaminah lhe disse no dia do nosso casamento? – indagou Elinor ferozmente. – Será que eu deveria ter ignorado a minha repugnância pela forma com que se aproveitou de mim para pensar se você seria ou não um bom pai?
– Eu não me aproveitei. Você está disposta a me lembrar dos meus supostos pecados, enquanto ignora os seus próprios – observou Jasim com frieza. – Quando você desapareceu, eu fiquei em uma posição difícil com a minha família.
– Qualquer mulher teria fugido depois de uma cerimônia medonha! –devolveu Elinor. – Você odiou cada minuto e nem mesmo se importou em esconder o que sentia!
– Eu estava agindo sem o conhecimento do meu pai e me sentia constrangido por isso.
– Eu lhe dei a oportunidade de desistir do casamento antes de a cerimônia começar – lembrou-lhe Elinor.
– Isso são palavras vazias e inúteis – ridicularizou Jasim. – Negar odireito de um nascimento legítimo ao nosso filho o teria condenado a uma vida nas sombras. Ele jamais poderia conhecer a minha família ou reivindicar o seu lugar de direito entre eles. Eu não conseguiria viver com essa culpa.
– É claro que você teria me ajudado se tivesse me explicado isso naépoca – argumentou Elinor. – Mas você me manteve distante como se eu fosse uma estranha, então eu não vou me desculpar por não saber o que estava acontecendo nos bastidores! Não demonstrou nenhuma consideração pela forma como eu me sentia, e eu nunca, jamais irei perdoá-lo por isso!
Jasim ficou perturbado com a resistência dela sobre um assunto que ele considerava trivial. Um casamento era um casamento; ainda estavam casados, ainda eram considerados legalmente marido e mulher.
Dirigindo o olhar a ela, Jasim fitou os lábios sensuais e depois os seios fartos e perfeitos. Um forte desejo o invadiu, fazendo com que sentisse o coração bater mais forte no peito.
– Não ouse me olhar dessa maneira! – avisou Elinor, ciente do climasensual que se formava, ao mesmo tempo em que sentia uma onda de calor se espalhar pelo corpo.
– Você é minha esposa – falou Jasim lentamente. – E eu não estive comnenhuma outra mulher desde o dia em que você me deixou.
Elinor ficou surpresa ao ouvir a intimidade daquela declaração. Ela acreditava que o casamento tivesse sido apenas uma mera formalidade e não esperava que ele tivesse permanecido fiel durante a separação. Aliás, Elinor pensava que ele fosse querer o divórcio. Enquanto estava grávida, ela havia tristemente imaginado Jasim levando mulheres sofisticadas para a cama e enlouquecendo-as com seu carisma da mesma forma que a enlouquecera naquela noite. Ao saber que ele havia praticado o celibato, como ela, Elinor não pôde deixar de sentir uma imensa satisfação.
– Eu sabia que iria encontrá-la – acrescentou Jasim em um tom de vozrouco.
– Eu gostaria de ver Sami – declarou Elinor avidamente, desesperadapara escapar da perigosa atmosfera e afastar as poderosas imagens sensuais que começavam a se formar em sua mente.
Ao notar o rubor na face delicada de Elinor, Jasim ficou entretido até se perguntar se ela estaria fingindo um embaraço para impressioná-lo. Contudo, as suspeitas dele quanto à verdadeira natureza de Elinor haviam mudado. Certamente, uma mulher interesseira jamais abandonaria o casamento com um homem tão rico quanto ele e ainda permaneceria afastada sem reivindicar uma pensão fabulosa. O modesto escritório em que ela trabalhava também não se encaixava na visão cínica que fizera dela, Jasim reconheceu interiormente, ao mesmo tempo em que se perguntava se a ligação dela com Sami seria realmente profunda. Será que ela amava o filho de verdade? Ou Sami estava sendo uma arma usada contra ele?
Jasim a acompanhou até o quarto, onde uma criada estava sentada em uma poltrona próxima ao berço para atender qualquer necessidade da criança. Zahrah havia sido igualmente cuidada, Elinor se lembrou. Enquanto observava Sami dormir profundamente, Elinor sentiu um nó se formar em sua garganta. Apenas o pensamento de perdê-lo era o suficiente para deixá-la em pânico.
– Como poderemos resolver essa situação? – indagou ela a Jasim, aflita.
– Temos apenas duas opções. Ou eu levo Sami comigo para Quaram ouvocê nos acompanha até lá como minha esposa – declarou Jasim, ao mesmo tempo em que repousava uma das mãos nas costas de Elinor e a conduzia de volta à escadaria.
– Você acredita que essas são as únicas opções que eu tenho? – exclamou Elinor, assim que entraram na biblioteca.
– É claro que se escolher permanecer em Londres, onde poderá seguirdiscretamente com a sua vida, eu poderia recompensá-la por entregar Sami aos meus cuidados. Você seria uma mulher muito rica – informou Jasim, determinado a avaliar a intensidade da ligação que ela possuía com o filho.
Elinor o fulminou com o brilho dos olhos.
– Você honestamente acredita que eu seria capaz de lhe vender o meu filho?
– A decisão é sua e vender é uma palavra desnecessariamente emotiva –Jasim respondeu suavemente.
– Não, é uma palavra tão ofensiva quanto a sua oferta. Eu concebi Sami,eu o trouxe a esse mundo, puramente porque o queria e o amava. Eu nunca o entregarei aos cuidados de ninguém, e, acredite, nem todo o dinheiro do mundo seria capaz de mudar a minha decisão! – declarou Elinor fervorosamente.
Jasim se aproximou dela e alcançou-lhe as mãos.
– Fico muito feliz em ouvir isso. Naturalmente, Sami precisa da mãe.
Você deve ir para Quaram comigo...
Elinor tentou se desvencilhar das mãos dele, mas o esforço foi inútil.
– Eu preciso ir com você? Quero dizer, e se eu fosse para Quaram e morasse em algum local próximo, onde eu pudesse ver Sami?
Jasim franziu as sobrancelhas.
– Eu não vou dignificar essa sugestão tola com uma resposta.
– Bem, se eu pergunto coisas tolas que o deixam irritado, de quem é aculpa? – defendeu-se Elinor. – Foi você quem me seduziu, me levou para a cama e não usou proteção!
– Será que já não passamos desse estágio? – indagou Jasim. – Por quenão deixamos essa raiva no passado e seguimos em frente? Eu vivo no presente e, quando olho para Sami, eu não vejo um erro, eu vejo o futuro da minha família...
– Mas o que você sente quando olha para mim? – Elinor quis saber. – Eu sou um erro que não pertence ao seu mundo!
Repousando uma das mãos na cintura dela, ele a puxou para mais perto de seu corpo. Elinor podia sentir o membro rígido por baixo do jeans que ele usava.
– Eu acho que você pertence – falou ele com a voz rouca.
– Isso é apenas sexo! – exclamou ela, tão cheia de emoção e frustraçãoque poderia ter se debulhado em lágrimas. Elinor estremeceu, lutando contra a sua própria fraqueza.
Fitando-a diretamente nos olhos, ele declarou com um sorriso devastador:
– Você também gosta de sexo, aziz.
– Nós precisaremos de muito mais do que isso para que o nosso casamento dê certo – disse ela com firmeza.
– Fique comigo esta noite – pediu Jasim, intensificando o brilho dosolhos castanhos escuros. – Vamos recomeçar.
Elinor se desvencilhou do abraço dele.
– Isso está fora de questão.
– Eu tenho que pegar um voo para Quaram em 48 horas – declarouJasim com seriedade. – A saúde do meu pai está muito debilitada e eu não posso ficar no exterior por muito tempo. – E, dando um profundo respiro, ele informou: – Preciso da sua resposta o mais rápido possível.
Infelizmente, um marido relutante disposto a oferecer uma noite de sexo selvagem não era uma proposta tentadora. Ao menos não para uma mulher sensata e com algum orgulho, Elinor pensou. Ela podia ter sido uma completa idiota com relação à Jasim 18 meses atrás, mas isso não significava que ela teria que passar o resto da sua vida pagando por esse erro.
– Você foi educado aqui na Inglaterra, não foi? – Ela quis saber.
Jasim ergueu as sobrancelhas.
– Não completamente. Eu comecei a estudar aqui quando estava com 16anos.
– Jasim, eu não quero ser sua esposa – declarou ela rigidamente. – Eutenho muito respeito pelo seu passado, sua família e a importância de Sami para você, mas eu pretendo criar o meu filho aqui na Inglaterra. Quando Sami estiver mais velho, ele poderá decidir onde deseja morar.
Jasim lançou um olhar frio para ela.
– Esse não é um acordo aceitável. Posso ter sido educado no exterior,mas eu nasci como segundo filho e a minha criação foi muito diferente da criação de Murad. Sami é o primogênito e meu herdeiro. Não posso permitir que você o mantenha aqui.
Elinor estava tensa.
– Eu não estou pedindo que você permita alguma coisa, estou lhe dizendo que eu não quero viver em Quaram!
Os olhos escuros de Jasim brilharam de raiva.
– Você não vai ditar as regras para mim. Agradeça por eu ter lhe oferecido uma escolha. Sami é de vital importância para a sucessão e a estabilidade de Quaram, e eu não descansarei até que possa levar o meu filho de volta para a minha província, porque esse é o meu dever.
– Você está me ameaçando? – Elinor quis saber.
– Estou insistindo que você considere a sua posição e o futuro de Samiusando o bom senso, em vez de um sentimentalismo tolo e um total egoísmo – falou Jasim com severidade. – Sami não será aceito como um governante no futuro se ele for estranho ao nosso povo. Ele não poderá aprender a nossa cultura e o nosso idioma a distância. Se negar essa experiência a ele, você fará de Sami um intruso.
Elinor cruzou os braços frente ao peito, num gesto defensivo.
– Eu realmente o odeio por me pressionar dessa maneira!
– Eu faço o que deve ser feito – contestou Jasim com frieza. – Você temque encarar a realidade. Sami não é um menino comum.
Elinor não estava contente por ter de ouvir essas verdades. Ela sentia que Jasim a havia cruelmente colocado em uma situação intolerável, na qual ela deveria sacrificar o seu próprio futuro ou o futuro do seu filho. Separar o filho de um pai que um dia poderia ser rei certamente estimularia incertezas e divisões que tornariam a vida de Sami mais difícil quando ele se tornasse um adulto. Como ela poderia agir contra os interesses de Sami?
– Eu quero ir para casa com Sami agora – pediu ela.
Alguns minutos depois, Elinor observava enquanto Jasim se inclinava para apanhar Sami no berço. Embora estivesse acordado, Sami ainda estava sonolento e estranhava o ambiente ao seu redor. Jasim foi surpreendentemente gentil com o filho, e Sami repousou a cabeça sobre um dos ombros largos dele.
– Ele está começando a me conhecer – observou Jasim, esboçando umsorriso de satisfação.
Nesse mesmo instante, Sami espiou a mãe e estendeu os bracinhos para tentar alcançá-la. Apesar de estar extremamente estressada, Elinor exibiu um sorriso doce e abraçou o filho, enquanto Jasim lhe contava sobre a torrada que Sami havia deixado cair no chão. Só então Elinor entendeu o motivo de Jasim ter interferido e retirado o filho da creche.
– Eu não poderia deixá-lo chorando daquela maneira – comentou ele.
Elinor percebeu que também estava começando a conhecer Jasim melhor, ou ao menos um lado dele que ela nem sonhara que pudesse existir. Quando se referia a Sami, parecia que Jasim era tudo, menos frio, objetivo e crítico. Elinor reconheceu interiormente que deveria considerar o que seria melhor para o seu filho.
– Se não houver outro jeito e tiver que ser feito para o bem de Sami, euirei concordar em morar em Quaram – declarou Elinor assim que alcançaram a base da elegante escadaria.
– Essa é a decisão certa, e eu não lhe darei motivos para se arrepender –assegurou Jasim num tom macio de voz.
Elinor chegou em casa e preparou uma lista de afazeres que teria que cumprir antes de sair de Londres e partir para Quaram. Ela ficou até tarde conversando com as amigas sobre os planos que tinha em mente.
Na manhã seguinte, Elinor pediu demissão do emprego e Jasim insistiu em levá-la ao shopping para que ela pudesse comprar roupas apropriadas para um clima mais quente. Ela ficou impressionada com o número de roupas que ele considerou necessário e incrivelmente perturbada pelo evidente conhecimento que ele tinha sobre o que as mulheres apreciavam em seus armários.
– Você deve ter tido muitas mulheres em sua vida, não é mesmo? – Elaquis saber.
– Certamente, eu tenho muita experiência – respondeu Jasim serenamente. – Mas não seria apropriado discutir esse assunto com você.
Elinor apertou os dedos contra as palmas das mãos com força, cerrando os punhos. Ela odiava a ideia de ele ter tido experiências com outras mulheres.
– Eu não diria precisamente que gostaria de discutir sobre isso. Mesmoporque eu já havia desconfiado que você fosse um mulherengo.
– Você tem o direito de ter a sua própria opinião – observou Jasim, recusando-se a discutir com ela em um local público.
Embora fosse verdade que ele tivesse sido um mulherengo no passado, Jasim não se envergonhava desse fato. Os casos que ele tivera sempre foram discretos e conduzidos de maneira franca.
Ele havia aprendido que muitas mulheres ficavam satisfeitas em lhe proporcionar companhia e prazer em troca de uma vida social brilhante e presentes caros. Sexo nunca havia sido complicado para ele, mas Jasim estava começando a suspeitar que o sexo dentro do casamento pudesse ser um grande desafio. Ele olhou para Elinor e notou a tensão que ela exibia nos traços delicados do rosto. A julgar por sua experiência, ele sabia que todas as mulheres adoravam ser mimadas. Naturalmente, havia presumido que ir às compras pudesse melhorar o humor de Elinor e agradá-la.
No entanto, isso não parecia estar funcionando. Qual era o problema dela?
Por que ele a agradava menos que a outras mulheres, que ficavam fascinadas e ansiosas para retribuí-lo quando ele demonstrava interesse? Por que Elinor estava sentada ao lado dele, fitando a coleção de lingeries com expressão de crítica? De súbito, um brilho de malícia surgiu nos olhos dele...
Elinor se sentia frustrada. Como de costume, Jasim havia ignorado as questões que ela lhe fizera e continuava distante. Ele não queria que ela o conhecesse melhor.
Assim que ele a levou até uma boutique exclusiva de lingeries, repleta de variedades de minúsculas peças íntimas feitas em cetim, seda e renda, Elinor ficou literalmente chocada. Enquanto ela permaneceu imóvel ao lado dele, Jasim examinou o que estava na vitrine e fez uma generosa seleção de roupas íntimas que Elinor nem sequer sonhava em usar. Ela se sentiu totalmente ultrajada. Como ele ousava fazer essas compras íntimas para ela?
Sentindo os nervos à flor da pele, Elinor lançou um olhar furioso para Jasim, logo que entraram na limusine.
– Nem morta eu usaria esse tipo de lingerie! – protestou ela.
Exibindo um brilho divertido no olhar, ele declarou:
– Eu prefiro vê-la bem viva quando estiver usando esse tipo de lingerie, para que eu possa demonstrar a minha admiração.
– Jamais! – exclamou Elinor, sentindo as faces se aquecerem.
Jasim traçou com um dedo o contorno do queixo de Elinor.
– Nunca se sabe, aziz. Quem pode dizer o que nos espera no futuro?
– Certamente não será nada dessa natureza, eu lhe asseguro! – devolveuela furiosamente.
Virando o rosto para a janela da limusine, Elinor perdeu o olhar na paisagem, enquanto se concentrava na viagem que teria que fazer na manhã seguinte. Ela teria que viver em um país diferente e sabia que precisaria de toda a sua coragem para se adaptar e encarar esse novo desafio...