Capítulo 3 Rejeitada por Todos

O sol ainda não havia nascido quando Aria se levantou da cama, sentindo o peso da noite ainda sobre seus ombros. O silêncio da casa era ensurdecedor, e ela não conseguia deixar de pensar no que a aguardava a cada novo dia que começava. O casamento com Darian estava desfeito, e ela agora se via sozinha, não apenas com seu filho, mas com a dor das rejeições que pareciam vir de todos os lados.

Aria caminhou até o quarto de Tom, seu pequeno refúgio. Ela o encontrou ali, dormindo profundamente, seu rostinho angelical iluminado pela luz suave da manhã que filtrava pela janela. Ele estava em paz, inconsciente do turbilhão que se passava na vida de sua mãe. Ela sorriu para ele, uma tentativa amarga de encontrar consolo em seu filho, mas o vazio em seu coração parecia crescer a cada momento que passava.

Ela se sentou na beirada da cama, passando a mão pelos cabelos de Tom, com o olhar distante. O que aconteceria com ele agora? O que aconteceria com ela? Durante todo o tempo em que esteve com Darian, ela sempre acreditou que seria aceita, que encontraria seu lugar ao lado dele, ao lado da família dele. Mas, depois de tudo, ela se sentia mais rejeitada do que nunca.

A dor da separação era insuportável, mas o que realmente a corroía era a sensação de abandono por parte da família de Darian. Sua falta de lobo sempre foi um estigma, uma marca que a fazia sentir-se como uma estranha no próprio mundo. Desde o início, ela soubera que seria diferente, mas esperava que, ao casar com Darian, ela fosse aceita de alguma forma. O que ela não esperava era que a rejeição fosse tão profunda, tão fria.

Livia, a prima de Aria, sempre fora um reflexo das expectativas que a família de Darian tinha para sua esposa. Ela era a mulher "perfeita", com um lobo forte e um espírito livre, qualidades que todos admiravam. Mas Aria... Ela era a filha sem lobo, a mulher que nunca poderia alcançar o ideal, a mulher que parecia sempre estar à margem, observando os outros viverem em sua plenitude. A família de Darian nunca fez questão de esconder o quão distante ela estava de ser a "esposa ideal". Aria sempre soubera disso, mas a dor de ver Darian se aproximar de Livia, de vê-la ocupar o lugar que um dia ela acreditou ser seu, parecia ser um golpe final.

O relacionamento com a família de Darian nunca foi fácil. Quando ela e Darian se casaram, ela foi bem-vinda com uma cortesia fria, uma aceitação forçada, mas sempre esteve claro que ela nunca foi realmente parte daquela família. Seu lobo ausente a tornava inferior aos olhos deles. Eles não precisavam dizer, porque ela podia ler nas expressões deles, nas palavras não ditas. Ela sempre foi tratada como uma forasteira, como alguém que não merecia o lugar ao lado de Darian.

Mesmo agora, após a separação, Aria sabia que o olhar deles sobre ela não mudaria. Ela não seria mais a esposa de Darian, mas continuaria sendo a mulher sem lobo. A mulher que não poderia se encaixar nas expectativas daquelas pessoas, que sempre preferiram Livia, com sua presença magnética e seu lobo forte. Aria se sentiu como uma sombra, um reflexo distorcido de tudo o que ela queria ser.

Ela suspirou, levantando-se e indo até a cozinha para preparar o café. Tom acordaria logo, e ela precisava manter a rotina. Ela tinha que ser forte, por ele. A vida deles não poderia parar. Mas, apesar de tudo, Aria sentia um peso enorme sobre os ombros, como se estivesse carregando o peso do mundo. Ela queria acreditar que o amor de Tom seria suficiente para curar as feridas, mas as lembranças do que ela havia perdido, do que a rejeição de todos significava, eram difíceis de ignorar.

Aria preparou o café, as mãos tremendo ligeiramente, e quando se sentou à mesa, não pôde deixar de pensar nas palavras que sua sogra sempre disse, sem querer: "Você nunca será uma verdadeira parte da nossa família." Essas palavras ecoaram em sua mente com a mesma clareza do primeiro dia em que as ouviu. Ela sempre tentou ser o suficiente, sempre tentou se encaixar, mas agora, sem Darian, sem a estrutura familiar em que ela havia se apoiado, ela se via sozinha.

Tom desceu as escadas, esfregando os olhos, e Aria sorriu para ele, tentando esconder a dor. Ele era o seu tudo, a razão pela qual ela levantava da cama todas as manhãs, a razão pela qual ela não se entregava ao desespero. Ele não merecia ver sua mãe destruída, e Aria estava determinada a ser forte para ele, mesmo que sua própria alma estivesse quebrada.

Enquanto Tom tomava o café, Aria pensava em tudo o que teria que reconstruir. Ela já não tinha mais Darian ao seu lado, e as portas da família dele estavam fechadas para ela. Mas Tom... Tom seria a razão de sua força. Ela o protegeria, daria o melhor de si para ele. A rejeição que sentia de todos ao seu redor não deveria afetar o amor que ela tinha por seu filho. Ela sabia que, ao menos, ele jamais a rejeitaria.

Com o passar dos dias, Aria tentava encontrar algum tipo de normalidade na sua nova realidade. Ela se concentrou no trabalho, em sua vida como mãe, nas pequenas coisas que ainda podiam lhe dar algum conforto. Mas cada vez que ela se encontrava sozinha, as lembranças do casamento, da traição de Darian e da rejeição constante de todos à sua volta a assombravam.

Aria sabia que estava em um ponto de virada. A vida que ela conhecera agora era apenas uma memória distante, e ela teria que aprender a se reerguer sozinha. O processo seria doloroso, mas necessário. A dor da separação, a dor da rejeição, tudo aquilo a tornaria mais forte, mais resistente. Ou, pelo menos, ela tentaria.

Mas, por enquanto, Aria se agarrava ao que tinha: seu filho, Tom. Ele era tudo o que ela precisava para continuar lutando, para não ceder ao vazio que ameaçava engolir sua vida. Ela sabia que o caminho seria árduo, mas também sabia que não havia outra escolha se não seguir em frente. Mesmo que fosse a passos pequenos, mesmo que fosse doloroso, ela teria que seguir, por ela mesma, e principalmente por Tom.

            
            

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