Capítulo 5 O Passado de Aria

As noites eram as mais difíceis. Quando o silêncio caía sobre a casa e Tom já estava dormindo, Aria não conseguia evitar que seus pensamentos vagassem para o passado. Seu coração ainda estava pesado com o peso da separação, mas, naquele momento, era o passado que a consumia. Tudo o que ela já tinha tentado esquecer agora voltava com uma força avassaladora. O olhar distante de Darian, os sorrisos trocados com Livia... tudo isso a fazia reviver os anos de dor que havia experimentado ao lado da família que a criou.

Ela sempre soubera que não era igual aos outros. Desde pequena, Aria sentiu que não se encaixava. Era fácil perceber, pelas pequenas coisas, como a diferença entre ela e os outros se fazia presente. A cada reunião familiar, a cada celebração, ela estava sempre um passo atrás, uma sombra. Seu próprio pai e sua mãe adotiva nunca foram cruéis com ela, mas Aria sabia que sua presença nunca foi desejada da mesma forma que os filhos biológicos da família. Não importava o quanto ela tentasse, não importava o quanto ela se esforçasse para agradar, sempre havia algo faltando. Ela não tinha o lobo, e isso, por mais que tentasse esconder, a tornava uma estranha dentro de sua própria casa.

O lobo era a marca do verdadeiro pertencimento, a conexão com a verdadeira natureza dos lobos, e, por não ter essa bênção, Aria sempre foi vista como inferior. Enquanto seus irmãos e os filhos biológicos de seus pais adotivos tinham seus lobos se manifestando quando jovens, ela crescia sem saber o que era isso. Sem a sensação de poder, de conexão, de ser parte de algo maior. Isso a fazia sentir-se à margem de tudo e de todos. E, no fundo, ela nunca foi capaz de lidar com isso completamente.

Era como se, desde que se lembrava, estivesse sempre tentando encontrar uma maneira de ser aceita. Ela tinha um lugar à mesa, mas era como se esse lugar fosse temporário. Sempre ficava à margem, observando enquanto os outros se conectavam, sentiam a força do lobo em si mesmos. Ela se sentia como uma impostora em sua própria vida, uma estranha no lar que deveria ser seu porto seguro.

Quando Aria se casou com Darian, ela achou, finalmente, que teria um lugar definitivo. Ele, o Alfa forte e respeitado, teria visto algo nela, algo que valesse a pena, apesar de sua falta de lobo. Ela acreditava nisso, e, por um tempo, até se convenceu de que poderia ser feliz. Mas, à medida que os anos se passaram, a verdade sobre a rejeição velada começou a se infiltrar em seu casamento. Darian, apesar de amar seu filho, nunca a amou da maneira que ela desejava. Ele a queria, mas sua alma ansiava por algo mais, algo que ela não podia oferecer. Seu lobo nunca apareceu, e com isso, ela sempre soubera que havia algo faltando entre eles, algo que ela não podia preencher. Ao longo dos anos, essa ausência foi se tornando mais evidente. As brigas começaram a se tornar mais frequentes, e a sensação de desamparo só aumentava.

Mas havia algo ainda mais doloroso. As palavras de Darian, quando ele finalmente a rejeitou, ressoavam em sua mente. Ele tinha sido claro: "Eu nunca te amei da forma que você pensa, Aria. Eu sempre estive com você porque era conveniente, porque não sabia o que mais fazer. Você é a mãe do meu filho, e isso é tudo o que você é para mim." Essas palavras foram um golpe direto em seu coração, uma marca indelével que ela nunca poderia apagar.

Ela fechou os olhos, tentando afastar o peso da lembrança. Sua mente, no entanto, se recusava a deixá-la em paz. A dor não era apenas do fim do casamento, mas também da dor mais profunda de saber que, apesar de todos os seus esforços, ela nunca foi capaz de ser suficiente. Não para Darian, não para a família dele, e, principalmente, não para si mesma.

Mas Aria sabia que não podia se render à tristeza. Ela tinha Tom, e isso sempre a manteve de pé. O sorriso do seu filho, seu pequeno raio de sol, foi o que a fez lutar todos os dias. Mas isso não significava que a dor fosse mais fácil de suportar. Era como uma faca, sempre cortando mais fundo, lembrando-a constantemente de que ela nunca seria a mesma coisa que os outros – nunca teria o lobo, nunca seria parte do que todos ao seu redor pertenciam.

Em seus momentos de solidão, ela se perguntava se, em algum momento, a vida poderia ser diferente. Ela poderia ser mais do que a mulher sem lobo que todos viam? Ela poderia encontrar algo que a fizesse se sentir inteira, algo que a fizesse se encaixar em algum lugar? Talvez Ronan, o melhor amigo de Darian, fosse a chave para isso. Ele sempre olhava para ela de uma maneira diferente, uma forma que a fazia sentir-se mais do que apenas a estranha. Mas, ao mesmo tempo, Aria sabia que isso complicaria ainda mais as coisas. Ela não queria ser vista como a mulher que estava se jogando nos braços de outro homem, especialmente não quando seu casamento ainda estava fresco e a dor ainda era crua.

Mas o que ela realmente queria era encontrar a paz. A paz consigo mesma, com sua própria identidade e com a vida que ela havia escolhido, apesar de todas as suas dores e frustrações. Ela não tinha o lobo, mas isso não significava que não podia ser poderosa de outras maneiras. Talvez, com o tempo, ela pudesse entender e aceitar quem ela realmente era – alguém que, apesar de tudo, ainda tinha o direito de viver a sua vida.

A verdade era que, no fundo, Aria se sentia como uma exilada em sua própria existência. Ela estava sempre tentando provar algo a todos, tentando se encaixar, tentando ser boa o suficiente para aqueles ao seu redor. Mas, mais do que nunca, ela começava a entender que, para ser verdadeiramente feliz, ela precisaria, primeiro, aprender a se aceitar. Se ela fosse capaz disso, talvez então o lobo que sempre lhe faltou se manifestasse de uma maneira diferente, não em forma de poder sobrenatural, mas em algo mais fundamental: a força de sua própria alma.

                         

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