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"Tudo o que ele queria era um sinal. Tudo o que ela fazia era levantar muros."
Dylan aparece de novo. Claro que aparece. No culto de jovens, no grupo de oração, até no curso de doutrina. Parece que ele lê a minha agenda e se teletransporta pra cada lugar. É irritante.
Ou talvez... um pouquinho intrigante. Só um pouquinho.
- Você de novo? - pergunto, cruzando os braços assim que o vejo se aproximar no pátio da igreja.
- Eu ia dizer o mesmo, mas percebi que você só aparece onde eu estou. - ele responde com aquele sorrisinho cafajeste gospel que me dá nos nervos.
Reviro os olhos. Ele ri.
- Você tem problema em ficar calado, Dylan?
- Só quando a conversa é boa demais pra deixar morrer.
- Ah, então você considera isso aqui uma conversa? Eu chamaria de... provocação gratuita.
Ele levanta as mãos, como se estivesse se rendendo.
- Tá bem, tá bem. Paz do Senhor. Tô tentando ser amigável.
- Tenta menos.
Silêncio. Mas é um silêncio que pesa como olhar. Ele me observa, sério por dois segundos, como se tentasse decifrar alguma coisa no meu rosto.
- Você sempre usa essa armadura toda? Ou é só comigo?
A pergunta me atinge como um choque. Por um instante, penso em responder com outra patada. Mas algo no jeito como ele pergunta... me desarma.
- Eu só não gosto de perder tempo com quem fala bonito demais e mostra pouco.
- E eu só não gosto de fingir que não gosto quando gosto. Principalmente de você.
Fico vermelha. Droga. Ele percebe.
- Dylan... - começo, tentando recuperar o controle da conversa. - Você nem me conhece.
- Ainda. Mas tô disposto a conhecer. Mesmo com toda essa muralha de sarcasmo.
Ele está tão confiante, tão... leve. E eu tão desconfiada. Mas tem algo ali. Uma fagulha. E, pior, meu coração parece gostar desse embate.
- Olha, se isso é algum tipo de joguinho seu, eu não brinco disso.
- Não é um jogo, Helena. É só... interesse genuíno. E talvez um pouco de teimosia.
Dou um meio sorriso. Involuntário. Maldito.
- Você vai se decepcionar.
- Eu corro o risco.
Ele se afasta, e quando acha que não tô olhando, ele olha pra trás. E sorri.
Mas eu tô olhando. E, por um segundo, deixo o coração fazer o mesmo.
⌇﹒⊹ ₊˚.⋆ 𓂃𓈒𓏸 jasmines & cafés ⊹˚₊⋆.𓂃𓈒𓏸
Sento no banco da igreja com as meninas como se o mundo tivesse girado cinco vezes em volta da minha cabeça.
- Você parece nervosa. - Sofia diz, me olhando de lado.
- Eu tô calma. - minto. Mal consigo segurar o copo de suco.
Beatriz ri.
- Calma com o rosto todo vermelho? Vai dizer que não foi ele de novo?
Reviro os olhos, mas me entrego no olhar de "sim, foi ele".
- Ele me persegue, gente. Sério. Aparece em tudo. Em todo lugar. Se eu disser que vou pra vigília das mulheres de oração, ele aparece lá com uma bíblia gigante e um sorriso nojento.
Sofia tenta conter o riso.
- E você tá brava por quê? Porque ele sorri bonito demais ou porque você tá começando a sorrir de volta?
- Eu não tô sorrindo de volta.
Beatriz arqueia uma sobrancelha.
- Helena, você sorriu. A muralha de Jericó deu uma tremidinha ali. E eu tava longe, mas eu vi.
Cruzo os braços.
- Ele é só... irritante. Do tipo que tenta quebrar suas defesas com conversa fiada e frases de impacto. "Você sempre usa essa armadura toda?" Pfff.
- Ai, que romântico. - Bia diz, colocando a mão no coração.
- Isso é manipulação emocional e disfarce de charme. Vocês assistem série demais.
Sofia me olha com aquele jeitinho calmo e certeiro.
- E mesmo assim você não foi embora. Mesmo assim, você sorriu.
Suspiro. Jogo a cabeça pra trás.
- Eu tô ferrada, né?
As duas falam juntas:
- Tá.
Sofia e Beatriz seguem falando, mas minha mente já não está mais ali. Tá no sorriso dele. No jeito que ele me olhou como se já soubesse o que tem por trás da muralha. Como se... me enxergasse.
E eu odeio isso.
Porque quando alguém enxerga demais, pode também machucar.
Aperto o copo de suco com mais força. O plástico faz um barulho esquisito e Sofia me olha de novo, como se conseguisse ouvir meus pensamentos.
- Lena... não dá pra correr de tudo pra sempre, sabia?
- Eu não tô correndo. - respondo rápido demais. Beatriz ri baixo.
- Tá quase virando maratonista.
Mordo o lábio. Olho pro altar vazio, onde logo vai começar o louvor. E em silêncio, quase sem perceber, eu falo pra Deus:
-"Pai... se esse cara for problema, me dá sabedoria. Mas se for promessa... me dá coragem. Porque eu não sei lidar com isso."
Talvez seja besteira. Talvez seja só um cara insistente, intrometido e encantador. Ou talvez seja algo que nem meu coração tá pronto pra nomear.
Respiro fundo.
- Não gosto de gente que chega invadindo.
- Mas às vezes, a gente só precisa de alguém que bata e fique esperando a porta abrir. - Sofia responde, como se tivesse lido minha alma.
Olho pra ela. Depois pra Bia, que me encara com um sorrisinho suspeito.
- Vocês gostam dele, né?
- A gente gosta de te ver viva de novo. - diz Beatriz, simples assim.
E essa frase me desmonta mais do que todo o flerte do Dylan.
Porque talvez... talvez eu também esteja começando a me sentir viva de novo. Mesmo que eu não saiba direito o que fazer com isso.