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"As decisões que mais importam são as que mais nos assustam."
- Bom dia! - digo quando chego na cozinha e vejo meus pais lá, tomando café.
- Bom dia, filha! - responderam em coro.
- Senta para tomar seu café, menina! - minha mãe falou, com um sorriso carinhoso.
Me sento na cadeira e começo a colocar um pedaço de bolo de cenoura no prato, sentindo os olhares curiosos sobre mim. A tensão na mesa é palpável, e logo percebo que não posso mais adiar a pergunta.
- Podem falar logo o que estão querendo saber? - falo, tentando disfarçar meu nervosismo.
- Nada não. Só queríamos saber como foi o show. Você queria tanto ir. - meu pai foi o primeiro a se pronunciar.
- Ah, se for sobre isso, foi bom. Aquele lugar estava tão cheio da glória de Deus. - falo, lembrando do evento que tanto ansiei para ir. - As meninas e eu nos divertimos muito. Comemos bastante também.
- Hum, que bom. Isso eu já esperava. - minha mãe falou, e a sensação de desconforto na mesa aumentou. Seus olhos estavam focados em mim, como se tentasse descobrir algo mais. - Mas o que não foi bom?
- O que? Como assim? - pergunto, sem entender.
- Você disse que o show foi bom, mas o que mais aconteceu? O que além disso não foi? - perguntou, com uma curiosidade que não pude ignorar.
Olho para meu pai, em busca de algum tipo de ajuda, mas ele finge não perceber. Ele apenas continua a beber seu café, como se a conversa não estivesse acontecendo.
- Nada! - respondo, mais rápido do que gostaria. - Só fiquei estranhando um homem velho que estava olhando para Sofia com malícia. - falo, omitindo o que realmente me incomodou: a raiva que eu senti ao ver o comportamento de Dylan.
- Misericórdia! Por isso que eu não gosto de te deixar ir sozinha para esses eventos. - ela fala, preocupada. - Tá ouvindo o que sua filha está falando, Antônio? Um perigo. Nós não deveríamos ter deixado ela ir.
- Mãe! Nem aconteceu nada demais! Deixa de drama. - falo, mordendo um pedaço de bolo, tentando minimizar a situação.
- Nada demais, Helena? - ela começa a reclamar, como sempre. - Eu não confio em você andando sozinha à noite. Graças a Deus que vocês chegaram em casa em paz.
Antes que ela continue com o discurso, o celular vibra. O som interrompe a conversa e, por um momento, o silêncio toma conta da mesa. Olho para o celular e vejo a notificação:
Número desconhecido
Oi. Aqui é o Dylan!
Estou aqui no lado da sua casa, preciso conversar com você.
- Oxi, o que esse homem quer comigo? - falei alto demais, e logo senti os olhares desconfiados de meus pais.
- Algum problema, Helena? - perguntou meu pai, colocando a xícara no pires.
- Não, nenhum. - respondo, tentando soar natural. - É só as meninas do grupo mandando mensagem. Posso ir responder.
- E sua comida? Não vai comer? - minha mãe perguntou, desconfiada, pois nada passava despercebido aos olhos atentos de Dona Marta.
- Não vou não, mãe. Estou sem fome. - respondi rapidamente, tentando fugir do olhar dela.
- Depois quero conversar com você, senhorita. - ela falou, apertando os olhos, como sempre fazia quando queria ser séria.
Dona Marta, com seus 47 anos, era uma mulher forte, resiliente e cheia de fé. Superprotetora, como toda mãe, e um pouco desconfiada. Seu Antônio, por outro lado, era mais reservado e sério, mas a sua relação com a filha era de muito carinho. Ele nunca ousava desafiar Marta, pois conhecia bem o seu temperamento.
Subo para o meu quarto, sem querer prolongar a conversa. Frente ao espelho, olho para minha aparência. Um vestido florido azul, com uma sandália branca bonitinha. Ajeito alguns fios do meu coque despojado e passo gloss. Mentalizo o que devo fazer quando estiver na frente de Dylan. Vou dispensá-lo, simples assim.
Abro a porta do quarto sem fazer barulho e saio pela porta da frente, tentando ser discreta. Procuro Dylan e, ao não vê-lo, dou a volta pela casa e o encontro na outra calçada. Ele está encostado num carro, vestido com uma camisa off white e calça jeans. Ele está tão bonito quanto no evento, sem dúvida. Seu cabelo castanho está bem penteado e a postura dele é confiante, mas algo no jeito de ele se apoiar no carro faz com que eu me pergunte se ele é realmente alguém em quem posso confiar.
Quando chego perto dele, Dylan sorri para mim. Agora percebo que ele tem covinhas.
- Oi, querida! Como você está? - ele pergunta, me analisando com aquele olhar intenso, como se estivesse vendo além de minha roupa e do meu rosto.
- Oi. Eu estou bem. - respondo de forma cautelosa, tentando não revelar meu desconforto. - O que você quer falar? E como sabe onde eu moro?
- Ah, foram as suas amigas que me passaram seu número e o seu endereço. - ele diz, de forma pensativa. Agora, ele já não me olha diretamente. Está fitando o chão, com um olhar distante. Parece que tem algo importante para dizer.
- Aquelas meninas me pagam! Não acredito que deram meu número a um estranho! Pior, deram o meu endereço! - digo, incomodada. Mas, antes que eu possa continuar reclamando, a voz de Dylan me interrompe.
- Elas me conhecem há muito tempo, não se preocupe. Mas não é sobre isso que eu quero falar. - ele suspira, e posso ouvir sua respiração pesada. Quando ele levanta os olhos e os encontra com os meus, a tensão entre nós parece aumentar.
- O que é então? - pergunto, com uma pitada de nervosismo.
- Eu detesto enrolação, então vou direto ao ponto. - ele diz, com um olhar sério agora. - Eu estava pensando se você não queria assinar um contrato comigo.
Fico em silêncio por um momento, tentando processar o que ele disse. Contrato? O que ele está falando?
- Contrato? Como assim? Não é possível que seja o que estou imaginando. - falo, tentando controlar a emoção na voz, mas a surpresa é evidente.
- Eu detesto enrolação, então vou falar logo. - ele diz, parecendo impaciente. - Meus pais estão me pressionando para que eu case logo. Segundo meu pai, um homem só é realmente bem-sucedido quando tem uma família. Eu não queria casar agora, mas não param de insistir. Então, eu estava pensando...
- Pensando o quê? - pergunto, sentindo o choque crescer dentro de mim.
Ele faz uma pausa, como se estivesse pesando as palavras, e então fala, sem rodeios:
- Eu estava pensando se você não queria assinar um contrato comigo. Um contrato de casamento.
Eu começo a rir de nervoso. Não é possível. Ele está me pedindo em casamento? E mais, casamento por contrato?
Olho para ele, tentando me controlar. A proposta é absurda, mas percebo que ele não está brincando. Ele parece sério. E então, no final, ele solta a parte que me faz parar para pensar:
- Você iria sair tão beneficiada quanto eu, se fizer isso. - ele fala, com um sorriso maroto, como se soubesse que estou prestes a sucumbir à tentação.
- Dylan. - o chamei, agora mais curiosa. - O que eu ganharia com isso? Quais os benefícios?
- Você receberia uma boa quantia no final do contrato, para usar como quiser. Moraria comigo num apartamento luxuoso, sem os seus pais te controlando. E seria esposa de um dos advogados mais ricos da cidade. E, claro, de um homem lindo, né? - ele sorri, como se estivesse tentando me seduzir com as palavras.
Sinto um calafrio. Minha mãe sempre dizia que coisas fáceis demais têm um custo. Mas qual seria o custo desse contrato? Será que estou disposta a arriscar?
- Eu vou pensar no assunto, tá bom? - falo, tentando esconder o nervosismo, mas já sabia que estava jogando o jogo dele.
Ele põe as mãos na minha cintura e me puxa para perto, com aquele sorriso encantador. O cheiro dele me faz perder o foco, e a tensão entre nós aumenta.
- Pois pense com carinho, você não terá nada a perder com esse casamento, minha noiva. - ele sussurra no meu ouvido, o que me faz estremecer.
Então, ele me dá um beijo rápido na bochecha. Pareceu durar uma eternidade. Seu olhar cheio de intensidade me segue enquanto ele se afasta, com um sorriso malicioso nos lábios.
- Tchau, minha noiva. - ele diz, e minha mente explode de confusão.
Corada e sem saber como reagir, resolvo entrar na brincadeira.
- Eu falei que iria pensar, não tem nada certo ainda. - digo, tentando soar mais firme, e então, com um sorriso travesso, acrescento - Tchau, noivo!
E assim, entro na minha casa, ainda sentindo os olhos de Dylan me acompanhando. Assim que fecho a porta, escuto o som do carro se afastando.
O que foi isso? Suspiro e corro para o meu quarto, a mente em turbilhão.