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"Deixa eu dizer que te amo. Deixa eu pensar em você."
- Marisa Monte
Voltar de uma festa sempre é difícil, principalmente quando se está usando um salto de 7 cm e ficou mais de 6 horas em pé sem sentar um segundo. Minha sorte é que Bia e Sofia estão me acompanhando até em casa, como prometeram aos meus pais. As ruas estão quietas, com quase nenhuma movimentação, apenas um ou outro bar aberto aqui e ali, e nada mais. Isso me dá certo medo de andar sozinha, sei que nunca estou, mas nunca lembro disso. Mas três mulheres andando sozinhas à 01:00 da manhã fazem parecer que somos frágeis e medrosas.
Saio dos meus pensamentos quando Beatriz começa a falar sobre um homem que estava na festa, que, segundo ela, não parava de olhar para Sofia. A ideia de um homem daquela idade a observando com interesse me deixa ligeiramente assustada.
- Ai, amiga, eu não posso fazer nada se eu reparei nele te olhando daquele jeito. - Beatriz fala, sem controlar a língua. - Deve ser daqueles velhos que nunca casaram e, quando vêem uma menina nova, se interessam. Eu não gostei dele.
- Mas também, um velho daquele querendo as meninas novas... Ainda bem que ele não faz parte da nossa igreja. Imagina! - Eu falo, exasperada, gesticulando com a mão.
- Sim, eu estava me sentindo enjoada com tudo aquilo. - diz Sofia, com um tom meio sério.
- Mas, mudando de assunto, o que vocês acharam do show do Alessandro? - pergunta Beatriz.
- Eu achei incrível! Com certeza foi uma experiência e tanto. Nunca esperei ouvir tantos cantores que eu gosto em um dia só. - falo, animada ao lembrar da Laura Souguellis cantando de forma linda e calma.
- Eu amei também. A presença do Espírito Santo estava palpável ali. - Sofia diz, com calma.
- Também não tenho palavras para descrever esse momento! - diz Beatriz com tanto entusiasmo, mas eu mal presto atenção. Quando olho à frente, vejo aquele cara que sempre cruzo pelo caminho quando passo por esta rua. Ele está vestindo uma camisa social branca elefante, com uma gravata azul marinho, e uma calça social do mesmo tom da gravata. Vejamos, ele tem bom gosto.
Percebo o olhar dele em mim e me perco naquela intensidade. Esqueço-me das minhas amigas por um momento.
- Dylan!! - grita alguém, e logo percebo que é Beatriz.
- Aonde você está vendo ele, menina? - pergunta Sofia, olhando ao redor.
Beatriz aponta para o homem de moto, que, ao me ver, começa a acenar para ela. Logo ele para ao nosso lado, e as minhas amigas começam a cumprimentá-lo.
- Dylan, como você está? Nunca mais te vi por aqui. - diz Sofia, com uma simpatia que me faz me sentir deslocada.
- Ah, Sofia, ando bem ocupado no trabalho. Mal tenho tempo para mim. - ele responde, olhando para ela, mas logo seus olhos se voltam para mim.
Eu o encaro com estranheza. Nunca tinha ouvido falar dele, e muito menos sabia que minhas amigas eram tão próximas dele. Olho desconfiada para Beatriz e Sofia, que parecem nem perceber o que está acontecendo.
- Faz tempo que não te vejo, Dylan. Você some do nada e aparece do mesmo jeito. - diz Beatriz, do seu jeito irreverente.
- Também estava com saudades de você, Bia. - ele responde com um sorriso. E que sorriso lindo. Se o homem já era bonito, agora ele tinha um ar de galanteador. Percebo que ele me observa mais intensamente, e então percebo o olhar das meninas, principalmente Bia, que tem um sorriso de orelha a orelha.
- Oi. Eu sou Dylan. E você? - ele pergunta, me olhando com curiosidade.
Fico paralisada, ainda olhando para ele, com uma leve carranca. Ele sorri, esperando a minha resposta.
- Oi. Não, eu não vou me apresentar. Não gosto de falar com estranhos e muito menos estou afim de conversar. - falo, disfarçando o susto que tomei quando ele falou comigo.
Ele começa a rir de uma maneira que fez meu coração bater um pouco mais rápido. Quem ele pensa que é? Decido que não vou mais aguentar as piadinhas desse estranho e começo a andar mais devagar na frente, deixando as meninas para trás. Até que ouço uma voz dizendo:
- Eu não sou um estranho. Sou um advogado! - Dylan diz, com um tom de diversão na voz.
Que cara chato!
Eu paro e, sem me virar para ele, devolvo, com um tom irônico:
- E eu sou uma irmãzinha da Vida Eterna!
Para a minha surpresa, Dylan fala algo impossível de acreditar.
- Que sorte a minha então! Eu também sou de lá.
Olho para ele, sem acreditar, e coro e levemente quando ele me analisa com os olhos e me dá uma piscadinha, acompanhada de um sorriso encantador e, ao mesmo tempo, muito, muito sínico.