O Uivo da Lua Escondida
img img O Uivo da Lua Escondida img Capítulo 10 Os Ossos da Alcateia
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Capítulo 10 Os Ossos da Alcateia img
Capítulo 11 A Carne e a Maldição img
Capítulo 12 Lobos sem Nome img
Capítulo 13 A Canção dos Mortos-Vivos img
Capítulo 14 Sangue que Uiva img
Capítulo 15 A Lua sobre os Condenados img
Capítulo 16 A Última Pedra do Norte img
Capítulo 17 Trono do Exílio img
Capítulo 18 As Cinzas do Trono img
Capítulo 19 O Nome que Queima img
Capítulo 20 O Grito do Nome Perdido img
Capítulo 21 A Loba que Rasgou o Véu img
Capítulo 22 O Sussurro dos Corvos img
Capítulo 23 O Nome Esquecido img
Capítulo 24 A Alcatéia Partida img
Capítulo 25 O Uivo da Terra img
Capítulo 26 As Garras do Exílio img
Capítulo 27 Os Dentes da Lua img
Capítulo 28 A Voz das Cinzas img
Capítulo 29 O Filho Esquecido img
Capítulo 30 O Grito da Loba Morta img
Capítulo 31 A Lua e o Espelho img
Capítulo 32 O Filho que Restou img
Capítulo 33 O Lobo no Gelo img
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Capítulo 10 Os Ossos da Alcateia

O silêncio, para um lobo, é mais mortal que a fome.

Selene aprendeu isso no primeiro dia sob a tutela de Ravhan. Não havia palavras, apenas gestos e sombras. O exilado riscava runas no solo, fazia com que ela imitasse os passos dos antigos, obrigava seu corpo a mover-se como fera e espírito ao mesmo tempo. Cada erro custava sangue, e o sangue, ali, não era moeda leve.

Ela jejuava. Dormia entre pedras. E, quando errava, Ravhan colocava a presa do primeiro Uivo sobre sua garganta e a forçava a suportar o peso de todas as vozes que ecoavam dela. A dor não era física - era ancestral. Como se todas as lobas mortas em sua linhagem uivassem em reprovação.

No terceiro dia, ele a lançou em uma caverna selada com sal negro.

- Aqui estão os ecos da sua alcatéia. Enfrente-os sem abrir a boca. Se gritar... perderá a língua.

Selene entrou. Escuridão. Vozes que não eram dela. Sussurros de mãe, de irmã, de amante, de loba. Todos os erros de sua existência transformados em formas feitas de sombra.

Ela lutou. Calada. Arranhando chão e ferindo as memórias com garras que ainda aprendiam a nascer. Quando saiu, estava coberta de cortes - mas seus olhos... eram olhos de quem viu o fim e continuou.

Enquanto isso, Elías vagava pelas encostas das Terras Vazias. Sentia falta de Selene. Sentia o perigo. Mas algo o guiava: um cheiro antigo, mistura de sangue seco e promessas quebradas.

Seguiu o rastro até um campo esquecido, onde pedras fincadas formavam o símbolo da primeira alcatéia caída. Os Ossos dos Onze, como eram chamados. Traidores? Mártires? Ninguém sabia. Mas Elías sabia que ali havia algo errado.

Os ossos haviam sido desenterrados.

- Isso não é natural... - murmurou, ajoelhando-se.

Encontrou marcas de garras, mas não de lobos. Encontrou tecidos rituais dos Filhos do Fim, manchados com um símbolo que congelou seu sangue: a lua partida com três cortes - o sinal do pacto.

Atrás dele, uma voz familiar falou:

- Você não deveria estar aqui, Elías.

Ele se virou, devagar.

Era Vael, o antigo companheiro de matilha. Aquele que jurara lealdade à Lua e à Selene.

- Você? - Elías rosnou. - Traiu tudo?

Vael sorriu. Mas era um sorriso triste.

- Eu sobrevivi. Isso foi tudo o que fiz. O resto... foi consequência.

Sacou garras banhadas em cinza ritual.

- Eles estão voltando. E quando voltarem, Selene será um obstáculo. Você também. Então... peço perdão agora, antes de fazer o necessário.

Elías se ergueu. Os olhos dourados. As veias pulsando.

- Tarde demais pra perdão. Cedo demais pro enterro. Mas vamos resolver isso aqui.

As garras colidiram sob a lua muda. Entre pedras marcadas pela memória da matilha, dois lobos brigavam - não por glória, mas por verdade.

Do alto de um penhasco, Ravhan observava Selene em transe.

- Queime as vozes antigas. Construa as suas com ossos.

E no fundo do templo partido, algo antigo se mexia.

O primeiro eco do Uivo... despertava.

            
            

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