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O ponteiro do relógio parecia debochar de mim. Já passava das duas da tarde e Hikaru ainda não havia voltado. As mensagens continuavam sem resposta. O silêncio dele doía mais do que as escoriações no meu corpo.
Foi então que o médico entrou novamente no quarto, segurando uma prancheta. O rosto estava neutro, mas seus olhos... havia algo ali, como se pesasse as palavras antes mesmo de abri-las.
- Laura - disse com uma voz calma, quase paternal. - Seus exames estão todos normais. Nada grave por causa do acidente. Mas há algo importante que precisamos conversar.
Meu coração acelerou. Senti um frio na barriga. O tipo de frio que antecede um vendaval.
- O Beta-HCG deu positivo. Parabéns... você está grávida.
Por um momento, não consegui reagir. Minha mente congelou. Grávida? De verdade? Eu olhei para o teto branco, depois para o soro pendurado, depois para a porta... esperando, desejando, que Hikaru entrasse e ouvisse isso comigo.
Mas ele não estava ali.
O médico continuou falando, dando instruções, sugerindo o pré-natal... mas tudo parecia distante, abafado, como se eu estivesse debaixo d'água. Só uma frase ecoava na minha cabeça:
"Você está grávida."
Depois que o médico saiu, fiquei sozinha com a notícia. Passei os dedos pela barriga, tentando sentir algo - qualquer coisa - que confirmasse que aquilo era real.
Hikaru precisava saber. Ele sempre disse que sonhava em ser pai. Ele falava disso com os olhos brilhando. Mas agora... onde ele estava?
Já passava das três quando recebi alta. Voltei para casa com a sensação de que tudo tinha mudado e, ao mesmo tempo, nada fazia sentido. Hikaru continuava me ignorando não atendeu minhas ligações. Não respondeu mensagens.
Mas, no fundo, algo me dizia que as respostas queria, era algo que não estava pronta para ouvir.