Capítulo 3 Silêncio e Despedida

De repente, minha boca secou. A voz simplesmente... não saía.

Fiquei paralisada, como se meu corpo tivesse se desconectado da alma. O ar parecia preso nos pulmões, as pernas não obedeciam aos comandos do meu cérebro. Só conseguia olhar. Olhar ele ir embora.

Ali estava Hikaru. Postura ereta, passos firmes, a silhueta que tantas vezes procurei no meio da multidão agora sumia diante dos meus olhos - sem pressa, sem hesitação. Eu ainda conseguia ver sua nuca, os ombros largos, a calma no andar. Mas não houve sequer um olhar para trás.

Nada.

Ele foi embora como se não deixasse nada para trás. Como se eu... não fosse nada.

E então, o mundo desabou ao meu redor. Fiquei ali, imóvel no saguão do prédio, transformada em uma estátua com olhos marejados. O silêncio gritava dentro de mim. As perguntas vinham como socos no estômago:

Por quê?

Por que agora?

Por que desse jeito?

A única coisa que ele disse antes de partir foi:

"Estou voltando para o Japão."

A frase martelava na minha mente. Fria. Seca. Vazia.

Sem um abraço.

Sem um beijo.

Sem um olhar.

Sem uma explicação.

Como se os sete anos que vivemos lado a lado não significassem absolutamente nada.

Subi ao apartamento sem me dar conta de como cheguei lá. As pernas se moviam, mas minha mente ainda estava parada no saguão. Senti como se o mundo estivesse girando sem mim.

Ao entrar, tudo ainda carregava o cheiro dele. A caneca preferida na pia. Um livro virado de cabeça para baixo no sofá. A camisa dele pendurada na cadeira. Tudo igual - menos ele.

Revirei gavetas, abri o armário, procurei sinais, alguma pista, qualquer coisa que pudesse me explicar como o respeitado, atencioso e apaixonado Dr. Hikaru Minato pôde simplesmente desaparecer da minha vida... sem ouvir uma palavra minha.

Sem saber que estou grávida.

Como ele pôde? Como alguém consegue ser tão frio? Até ontem, ele me abraçava no escuro e sussurrava que me amava. Até ontem, fazíamos planos. Até ontem, o futuro tinha nosso nome.

E agora, ele se foi.

Me senti... abandonada.

De novo.

Primeiro, minha mãe biológica me deixou. Agora, Hikaru. Como se amar alguém fosse um convite ao abandono. Como se, por mais que eu amasse, nunca fosse o suficiente para alguém ficar.

Caí no chão da sala, abraçada à própria dor. Chorei até não restar força. Até não restar resistência. Só o vazio - e uma vida crescendo dentro de mim que ele nem sabe que existe.

Sete anos de amor. Sete anos de cumplicidade.

E agora... só restava o silêncio.

Um silêncio que escondia mais do que a ausência.

Escondia um segredo.

Uma verdade.

            
            

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