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O frio a possuía antes mesmo que ela voltasse a si. Não um frio comum, mas ancestral - como se brotasse do próprio solo e se enroscasse em seus ossos.
Tentou abrir os olhos. A dor veio primeiro. A luz, depois - enevoada, sem contorno, como se o mundo ainda não tivesse decidido se existia.
Estava deitada sobre folhas úmidas. O cheiro era de terra molhada e tempo esquecido. Cada músculo parecia recém-nascido, como se seu corpo tivesse sido esculpido há poucos instantes.
O silêncio ao redor não era natural. Era atento. Observador.
Ela tentou se mover, mas falhou. Algo dentro dela - ou alguém - não queria que ela corresse ainda.
"Quem sou eu?", pensou, e a pergunta soou como um eco sem resposta.
Quando finalmente conseguiu se sentar, o mundo ainda girava devagar. Árvores altas a cercavam como colunas de um templo esquecido. Havia musgo cobrindo as pedras, e a névoa parecia sussurrar seu nome sem saber ao certo como pronunciá-lo.
O corpo doía em lugares que ela não sabia nomear. E dentro de si, havia algo ainda mais inquieto que seus ossos - uma presença, uma pulsação. Uma espera.
Passos ecoaram.
E então, entre as árvores, uma sombra surgiu. Não ameaça, mas presença.
Seus olhos dourados a observaram com cuidado. Não havia voz - só entendimento.
A figura estendeu uma mão.
E mesmo sem saber quem era, Elara aceitou.
Porque algo dentro dela sussurrava que aquele toque... era o começo de tudo.