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A noite parecia mais viva do que o dia.
O quarto de Elara mergulhava em silêncio, interrompido apenas pelo som do vento roçando as janelas. A lua cheia pairava no céu, derramando um feixe prateado sobre o lençol branco. Por um instante, ela acreditou ter despertado. Mas não - estava além do sono, em um lugar onde o tempo não existia e tudo era feito de névoa.
Um campo se estendia diante dela.
Infinito. Silencioso. Coberto por flores pálidas que emitiam uma luz suave, quase viva. E no centro, aguardava uma figura.
Era uma mulher - ou algo que se assemelhava a uma. Vestia branco, mas não um branco comum: era uma tonalidade que lembrava a luz líquida da lua, oscilando como bruma sobre a pele. Seus cabelos caíam como véu de névoa. E seus olhos... continham estrelas. Eram vastos como o céu e antigos como o próprio silêncio.
Elara se aproximou sem saber por quê. Sua pele formigava. Dentro dela, o lobo - aquela presença adormecida - ergueu a cabeça.
A mulher sorriu.
- Filha da Lua e do Sangue - disse, e sua voz não cruzou o ar, mas atravessou o espírito. - Você foi marcada antes do primeiro suspiro. Seu destino já está escrito nas constelações.
Elara quis perguntar quem ela era. Mas, no fundo, já sabia.
- Selune... - sussurrou.
A deusa inclinou a cabeça, os olhos cheios de ternura e presságio.
- Dentro de ti habitam duas forças. Uma herdada da minha luz. Outra, nascida da escuridão de um ritual corrompido. Você é passagem. É resposta. É risco.
Uma dor atravessou o peito de Elara como uma lança invisível.
- O que eu sou? - perguntou, a voz embargada.
Selune se aproximou e tocou sua testa. O frio de seu toque era reconfortante, como o vento das montanhas.
- Você é o elo. E o fim.
E quando o tempo certo chegar...
Você será o uivo que rompe o véu.
O campo começou a dissolver-se. As flores se tornaram poeira de estrelas. Selune se transformou em luz. E por fim, restou apenas uma última frase, sussurrada entre a doçura e a gravidade:
- Desperte, Loba Branca. O mundo precisa de você.
Elara acordou com um grito preso na garganta, o coração acelerado. O quarto ainda estava ali. Mas algo era diferente. A noite, mais densa. O luar, mais forte.
E dentro dela...
Pela primeira vez...
A loba respondeu.