Cheguei a casa exausto daquele pequeno-almoço forçado.
"Vou descansar um pouco," anunciei. Ninguém pareceu importar-se.
Fechei a porta do quarto.
Mais tarde, acordei com uma discussão dos vizinhos do lado.
"Divórcio? Mas eles pareciam tão felizes!"
Isabela, que passava no corredor, comentou em voz alta para Ricardo, que estava na sala: "Há pessoas que se separam por tudo e por nada. Falta de compromisso."
A hipocrisia dela era inacreditável.
Saí do quarto. "Estás a falar de nós, Isabela?"
Ela olhou para mim, surpreendida. "Claro que não, João. Estava a falar dos vizinhos. És tão mesquinho, sempre a pensar que tudo é sobre ti."
Ricardo interveio, o pacificador. "Calma, Isabela. O João só está sensível."
Desisti. Não havia amor, não havia compreensão. Para quê lutar?
Virei-lhe as costas e voltei para o quarto.
Na manhã seguinte, Tiago entrou no meu quarto com um envelope.
"A mãe mandou entregar isto."
Abri. Eram os papéis do divórcio, com a assinatura dela.
Olhei para Tiago. "Sabes o que isto significa?"
Ele sorriu. "Sim! Que vais embora e o Ricardo pode ser meu pai!"
A alegria dele era genuína. E dolorosa para mim.
"Sim, filho. Significa que vou embora."
Comecei a arrumar as minhas coisas. Poucas, na verdade. A maior parte da minha vida tinha sido dedicada a eles.
Limpei o pó dos móveis, como se estivesse a limpar os vestígios da minha presença.
Um vizinho bateu à porta. "João, não vais à festa da escola do Tiago? É hoje a apresentação dos projetos."
Festa da escola? Eu não sabia de nada.
Corri para a escola.