Renascidos Para Amar: O Ciclo Quebrado
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Capítulo 1

Sofia Pereira sentiu o cheiro de desinfetante e abriu os olhos lentamente.

A luz branca do hospital feria sua vista.

Lágrimas escorriam sem parar pelo seu rosto. Rafael estava morto.

Seu Rafael.

Morto por causa dela.

Na vida passada, ela o tratou com frieza e desprezo.

Ele a amava profundamente, mas ela só tinha olhos para Tiago Alves, um playboy que só queria o status de sua família.

A imagem da noite da festa da alta sociedade invadiu sua mente.

Rafael foi drogado.

Para não ceder aos efeitos da droga, para não traí-la, ele se trancou na câmara fria de um hotel.

Passou a noite inteira lá.

Aquilo comprometeu gravemente sua saúde.

Mas ela não sabia, não se importava.

Só depois da morte dele, quando encontrou o cofre com as cartas, gravações e um diário detalhado, ela entendeu.

Entendeu a profundidade do amor e do sacrifício de Rafael por ela e pela família Pereira.

Ele era um escudo silencioso, protegendo-a de tudo e de todos, inclusive dela mesma.

E ela o destruiu.

A dor em seu peito era insuportável.

"Rafael..." ela sussurrou, a voz rouca.

Se ao menos ela tivesse uma segunda chance.

Uma única chance para consertar tudo.

De repente, uma tontura avassaladora a tomou.

O quarto do hospital girou.

Escuridão.

Sofia piscou, confusa.

O barulho alto de música eletrônica e conversas animadas a ensurdecia.

O cheiro de perfume caro e álcool impregnava o ar.

Ela conhecia aquele lugar.

A festa. A maldita festa.

Ela olhou para as próprias mãos. Jovens, sem as marcas do sofrimento.

Seu coração disparou.

Ela renasceu.

Na noite em que tudo começou a dar errado.

A urgência a dominou. Rafael.

Ela precisava encontrar Rafael.

Lembrou-se vividamente daquela noite.

Rafael, sempre discreto, observando-a de longe com aqueles olhos castanhos cheios de uma tristeza que ela, na época, ignorava.

Ela, por outro lado, estava ocupada demais flertando com Tiago, exibindo sua arrogância como um troféu.

Lembrou-se de ver alguém oferecer uma bebida a Rafael.

Ele hesitou, mas aceitou por educação.

Minutos depois, ele começou a passar mal.

Suor escorrendo pelo rosto pálido, a respiração ofegante.

Ela viu, mas não fez nada. Achou que era fraqueza dele.

A culpa a esmagou como uma tonelada.

Ela precisava agir, e rápido.

Procurou desesperadamente por ele no meio da multidão.

Finalmente, o avistou perto de uma saída de serviço, cambaleando.

Ele estava pálido, os lábios arroxeados.

"Rafael!" ela gritou, correndo em sua direção.

Ele se virou, os olhos arregalados de surpresa ao vê-la.

"Sofia? O que... o que você quer?" a voz dele era fraca, trêmula.

"Você não parece bem. O que aconteceu?" ela perguntou, tentando manter a voz calma.

"Eu... eu não sei. Estou tonto, com calor..." ele murmurou, quase caindo.

Ela o segurou.

Na vida passada, ela o teria empurrado, dito algo cruel.

"Você bebeu demais, seu fraco."

Ou: "Não me envergonhe na frente dos meus amigos."

Lembrou-se de suas palavras exatas, e sentiu o gosto amargo do arrependimento.

A crueldade dela o empurrou para a câmara fria.

Para o início de seu fim.

As consequências daquela noite foram devastadoras.

A saúde frágil dele, as internações constantes, a tosse seca que nunca o abandonava.

Tudo porque ele tentou protegê-la, proteger a honra do casamento deles, mesmo que ela não se importasse.

Ele nunca a culpou. Nunca disse uma palavra.

Sofria em silêncio, enquanto ela continuava sua vida fútil.

Agora, olhando para ele, tão vulnerável, a determinação dela se solidificou.

Não haveria câmara fria desta vez.

Ela não permitiria.

"Vem comigo," ela disse, a voz firme.

Pegou a mão dele, surpresa com o quão fria estava.

Ela o puxou para longe da festa, ignorando os olhares curiosos.

Encontrou um quarto de hotel vazio, provavelmente usado pelos funcionários.

Agradeceu mentalmente por sua família ser dona da rede de comunicação que patrocinava o evento, o que lhe dava certo acesso.

"Deita aqui," ela o ajudou a se sentar na cama estreita.

Correu para o pequeno frigobar, pegou uma garrafa de água.

"Bebe isso. Devagar."

Ele obedeceu, os olhos ainda fixos nela, uma mistura de confusão e algo mais que ela não conseguiu decifrar.

Ela pegou uma toalha pequena no banheiro improvisado, molhou com água fria e começou a limpar o suor do rosto dele.

Ele estremeceu ao toque dela.

"Sofia... por quê?" ele conseguiu perguntar.

Ela parou, olhou nos olhos dele.

"Porque eu fui uma idiota, Rafael. Uma completa idiota."

Sem pensar duas vezes, ela se inclinou e o beijou.

Um beijo hesitante no início, depois urgente.

Ela precisava sentir que ele estava vivo, que ela podia mudar o futuro.

Rafael ficou tenso sob o toque dela, surpreso demais para reagir.

O beijo de Sofia era diferente de tudo que ele esperava dela.

Não havia frieza, nem desdém. Havia... desespero? Paixão?

Ele estava confuso. Seu corpo ainda lutava contra a droga, mas a mente tentava processar a mudança repentina dela.

Ele queria afastá-la, perguntar o que diabos estava acontecendo.

Mas uma parte dele, a parte que a amava há tanto tempo, respondeu ao beijo.

O corpo dele relaxou um pouco, e ele a puxou para mais perto.

A intimidade entre eles foi explosiva, uma mistura de culpa, desejo e uma necessidade desesperada de conexão.

Para Sofia, era uma forma de penitência, de tentar apagar as memGesórias dolorosas.

Para Rafael, era um momento de pura confusão e entrega.

Quando tudo acabou, eles ficaram em silêncio, deitados lado a lado na cama estreita.

Sofia observava o teto, o coração ainda acelerado.

Ela tinha mudado uma coisa. Uma coisa crucial.

Mas e Rafael? Ele também teria renascido?

Se sim, ele se lembraria da crueldade dela? Do sofrimento dele?

Na vida anterior, o amor de Rafael era um segredo bem guardado.

Ela só o descobriu tarde demais, através de suas palavras escritas.

Ele a amava desde o dia em que o pai dela, o Sr. Pereira, o apresentou como o novo talento do jornalismo investigativo do grupo.

Um jovem humilde, brilhante, com uma integridade que o Sr. Pereira admirava.

O casamento deles foi arranjado pelo pai dela.

Sr. Pereira via Rafael como o genro ideal, um pilar para o futuro do império de comunicação da família.

E, secretamente, ele esperava que Rafael pudesse proteger Sofia, talvez até mesmo mudá-la.

O casamento deles foi um desastre.

Discussões constantes, a frieza dela como uma barreira de gelo.

Ela o humilhava em público, o ignorava em particular.

Ele suportava tudo em silêncio.

Continuava trabalhando arduamente, protegendo os interesses do Grupo Pereira, mesmo quando ela o sabotava indiretamente com seus escândalos e indiscrições.

Rafael fazia sacrifícios silenciosos.

Ele cobria as dívidas de jogo de Tiago, para que Sofia não se decepcionasse com o "amigo".

Ele intervinha discretamente para abafar os escândalos que ela causava, protegendo a reputação da família.

Ele até mesmo cuidava da saúde do Sr. Pereira, garantindo que ele tomasse os remédios, algo que Sofia, como filha única, raramente fazia.

Ele fazia tudo isso por amor a ela, e por lealdade ao Sr. Pereira.

O fim da vida anterior foi trágico.

Após a morte de Rafael, a Família Albuquerque, rival no setor de mídia, intensificou seus ataques.

Sem a inteligência e a proteção de Rafael, o Grupo Pereira começou a ruir.

Sr. Pereira adoeceu gravemente com o estresse.

Sofia, sozinha e despreparada, viu o império de sua família desmoronar.

Ela perdeu tudo. O dinheiro, o status, a família.

E o mais importante, perdeu a chance de dizer a Rafael que o amava.

A descoberta do cofre foi o golpe final.

Lá estavam cartas de amor nunca enviadas, gravações de conversas onde ele a defendia de acusações, um diário detalhando cada dia de sofrimento e amor não correspondido.

Havia também um plano meticuloso para proteger o Grupo Pereira, um plano que ele não teve tempo de executar.

Ela chorou por dias, agarrada àquele diário, relendo cada palavra.

A devoção dele era palpável, avassaladora.

Ele sabia que ela gostava de lírios brancos, mesmo que ela nunca tivesse dito. A casa estava sempre cheia deles.

Ele sabia que ela tinha enxaquecas terríveis e sempre deixava um analgésico e um copo d'água na mesa de cabeceira dela, mesmo que ela nunca agradecesse.

Ele sabia que ela tinha medo de escuro e sempre deixava uma pequena luz acesa no corredor, mesmo que ela o chamasse de ridículo por isso.

Detalhes. Pequenos detalhes que demonstravam um cuidado imenso.

Um cuidado que ela pisoteou.

Agora, deitada ao lado dele naquele quarto de hotel, Sofia fez um juramento silencioso.

Desta vez, seria diferente.

Ela o protegeria.

Ela amaria Rafael com todas as suas forças.

Ela não deixaria que o destino cruel se repetisse.

Ela lutaria por ele, por eles, e pela família Pereira.

E, se ele também tivesse renascido, ela faria o impossível para reconquistar a confiança e o amor dele, mesmo que doesse.

Ela estava pronta para pagar qualquer preço.

            
            

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