Rafael lançou um olhar rápido e cortante para Sofia.
"Que tocante. Mas, como eu disse, não estou com fome. Talvez Isa queira provar?"
A resposta sarcástica dele foi como um açoite.
Isabella, com um sorriso doce que Sofia achou enjoativo, aceitou a sugestão.
"Eu adoraria, Rafa. Parece delicioso."
Rafa? O apelido íntimo a fez cerrar os punhos sob a mesa.
Enquanto Isa comia com apetite, Rafael demonstrou um carinho por ela que ele nunca, jamais, demonstrara por Sofia em público.
Ele colocava mais vinho no copo dela, perguntava se estava bom, afastava uma mecha de cabelo do rosto dela.
Cada gesto era uma facada no coração de Sofia.
De repente, Isabella fez uma careta.
"Rafa, está uma delícia, mas é um pouco pesado para mim agora. Será que teria algo mais simples? Um sanduíche, talvez?"
Rafael imediatamente se levantou.
"Claro, meu bem. Eu mesmo preparo para você."
Ele foi para a cozinha e, em poucos minutos, voltou com um sanduíche simples de queijo e presunto.
Sofia nunca o vira tão solícito.
Rafael entregou o sanduíche para Isa com um sorriso terno.
Ela agradeceu com um beijo estalado na bochecha dele.
Ele aceitou o gesto com naturalidade, como se fosse a coisa mais comum do mundo.
Para Sofia, aquilo era uma afronta direta.
A mensagem era clara: qualquer migalha de atenção de Isa valia mais do que o banquete que Sofia tentara lhe oferecer.
Após o "jantar", Rafael anunciou que Isa ficaria no quarto de hóspedes ao lado do dele.
"Para o caso de ela precisar de algo durante a noite," ele justificou, com um olhar desafiador para Sofia.
A proximidade física deles era outra tortura.
Sofia se retirou para o seu próprio quarto, do outro lado do corredor, sentindo-se uma intrusa em sua própria casa.
A angústia a consumia.
O que Rafael estava tentando fazer?
Puní-la? Testá-la? Ou ele realmente se apaixonara por essa... cópia?
Ela se deitou na cama, mas o sono não veio.
Cada risada abafada que vinha do corredor, cada murmúrio, era uma nova pontada de dor.
Ela não reconhecia mais o Rafael que amara em segredo na vida passada.
Aquele homem gentil, reservado, quase tímido, desaparecera.
Em seu lugar, havia um homem frio, calculista, cruel em sua indiferença.
Ou talvez, este fosse o verdadeiro Rafael, liberto das amarras de um amor não correspondido.
A incerteza era enlouquecedora.
Os dias seguintes foram um inferno.
Os rumores sobre o novo "interesse amoroso" de Rafael Costa se espalharam rapidamente pela alta sociedade paulistana.
Sofia ouvia os cochichos, via os olhares de pena e zombaria.
Ela, Sofia Pereira, a herdeira intocável, sendo publicamente trocada por uma sósia.
Rafael fazia questão de ostentar seu relacionamento com Isa.
Jantares em restaurantes caros, presentes luxuosos, passeios de mãos dadas em lugares badalados.
Tudo devidamente registrado pelos paparazzi, que pareciam estar sempre no lugar certo, na hora certa.
Sofia suspeitava que Rafael mesmo os alertava.
Ele parecia determinado a esfregar a felicidade dele (ou a farsa dela) na cara de Sofia.
Ele enchia a casa de rosas vermelhas, as favoritas de Isa, aparentemente.
Sofia odiava rosas vermelhas. Sempre preferiu a simplicidade elegante dos lírios brancos.
Rafael sabia disso. Ou costumava saber.
Agora, ele parecia ter se esquecido de tudo que um dia importou para ela, ou para eles.
As flores eram um símbolo da substituição dela.
Os criados da casa comentavam em voz baixa.
"A nova senhora é tão parecida com a antiga, não é?"
"Mas o Sr. Rafael parece muito mais feliz com esta."
"Dizem que a antiga era muito arrogante. Esta parece mais doce."
Cada palavra era como um pequeno corte.
Um dia, Sofia descia as escadas e ouviu os comentários.
Parou no meio do caminho, o coração apertado.
Ao chegar ao hall de entrada, encontrou Isa parada perto de um vaso de rosas, admirando-as.
Isa se virou e sorriu para Sofia. Um sorriso que não alcançava os olhos.
"Bom dia, Sofia. Lindas rosas, não acha? Rafael tem um gosto impecável."
Antes que Sofia pudesse responder, Isa tropeçou "acidentalmente" no tapete, derrubando o vaso caro no chão, que se espatifou em mil pedaços.
Ela soltou um gritinho de dor, segurando o tornozelo.
Aquilo fora claramente uma armadilha.
Rafael surgiu do escritório, atraído pelo barulho.
Viu Isa no chão, os cacos de porcelana ao redor, e Sofia parada perto dela.
Ele correu para Isa, ajudando-a a se levantar.
"Isa, meu amor, você está bem?"
Então, ele se virou para Sofia, os olhos faiscando de raiva.
"O que você fez, Sofia? Não suporta ver outra pessoa feliz, é isso? Precisa destruir tudo?"
Ele a acusava sem nem perguntar o que aconteceu.
Antes que Sofia pudesse se defender, Rafael pegou Isa no colo.
"Vamos, querida. Vou cuidar de você. E você, Sofia, fique longe de nós."
Ele subiu as escadas com Isa nos braços, deixando Sofia sozinha no hall, cercada pelos cacos do vaso e pela frieza dele.
O vazio da casa pareceu engoli-la.
Sofia ficou ali, paralisada, sentindo as lágrimas de raiva e frustração brotarem.
Por que ele se recusava a ver? Por que ele confiava tão cegamente em Isa?
Era tão óbvio que a mulher estava manipulando a situação.
Mas Rafael parecia enfeitiçado.
Ou talvez, ele quisesse ser enganado. Talvez fosse mais fácil culpar Sofia.
Nos dias seguintes, Rafael se isolou ainda mais com Isa no quarto dela, usando a desculpa do "tornozelo machucado".
Ele mal saía, e quando o fazia, ignorava Sofia completamente.
Sofia, engolindo o orgulho e a dor, decidiu tomar uma iniciativa.
Se Isa estava realmente machucada, precisava de um médico.
E se não estivesse, um médico desmascararia a farsa.