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Capítulo 06
Por Contrato
O Sentido do Amor
Ao chegar em casa e tomar um banho, Alexissuos logo depois se serviu do jantar que pedira em um restaurante famoso próximo do apartamento, e em seguida, voltou a pensar na sua reação fora do normal pela paciente que ele mal conhecia.
Como um homem de quase trinta e sete anos poderia ficar tão impressionado assim com uma mulher? Ainda mais uma total desconhecida... Ele se questionava enquanto comia seu jantar.
Talvez sua avó estivesse certa, e fosse realmente hora dele se casar e formar uma família. Porém, ele escolheria a noiva, disso, Alexissuos não tinha a menor dúvida.
Antes de dormir, porém, resolveu ligar para o hospital e saber se sua paciente, Thaila, já estava dormindo. Com a confirmação de que ela descansava, ele se deitou, pensando em como agiria ao vê-la novamente.
Refletiu, especialmente, sobre a forma grosseira com que a tratou na consulta.
Definitivamente, ele devia pedir desculpas a ela. Afinal nunca havia agido daquela maneira com nenhum paciente. Seu modo educado e cortês sempre foi muito elogiado por todos.
O primeiro impacto com a bela jovem mulher o abalou tanto como nunca antes aconteceu, e seu extremo nervosismo o fez agir como um garoto imaturo, que não conseguia controlar os próprios hormônios. E, sinceramente, essa só podia ser a explicação para tanta grosseria da parte dele.
Rindo da própria reflexão, Alexissuos adormeceu, mas acordou muito cedo.
E a primeira coisa que fez foi ligar, imediatamente no hospital, para saber como estava sua paciente. Ao receber a informação de que ela estava exigindo alta, ele não pensou duas vezes e foi vê-la pessoalmente.
Thaila acordou bem melhor, mas, assim que soube que estava internada, foi tomada por uma enorme preocupação. Já que ela sabia que os custos de um hospital como aquele deviam ser altíssimos, e definitivamente ela não podia arcar com isso.
Sua vida financeira era rigorosamente organizada, de forma que quase nada sobrava na sua conta poupança. O cartão de crédito que usava, emprestado pela prima, tinha um limite baixo justamente para ela não se descontrolar nos gastos. Por isso, assim que conversou com a enfermeira e depois com o médico plantonista, ficou nervosa e começou a falar, aflita:
- Como assim não posso ter alta? Se todos os exames já foram feitos e estou em tratamento!
- Lamento, senhorita Sousa, mas estamos seguindo o protocolo do hospital. Respondeu o médico do plantão, de forma educada.
- Eu entendo, doutor... Mas, por favor, eu quero minha alta. Prometo que tomarei os remédios certinhos em casa!
- Por mim está bem, senhorita Sousa, mas aguarde o doutor Gio. Ele está vindo, e se julgar seguro, ele mesmo lhe dará a alta.
- É sim, seguro, doutor. Porque, se eu não sair agora, terei que pagar outra diária.
Respondeu, Thaila meio desesperada.
- Calma senhorita Sousa, seu nervosismo não ajuda em nada!
- É eu sei, doutor, mas sinceramente, eu não tenho a menor condição de bancar esses gastos neste momento!
- Eu entendo... Mas, por favor, não fique nervosa. O doutor Gio fará o melhor pela senhorita. Agora me dê licença, preciso ver outros pacientes.
- Ah... sim!
Thaila, segue respirando fundo, tentando se acalmar.
Alexissuos entrou direto na ala de internação, esquecendo completamente que estava sem seu jaleco. Assim que a enfermeira Rose o viu, apressou-se em oferecer um.
- Tudo bem, Rose.
Respondeu ele, segurando-a levemente pelo braço, num gesto natural, quase íntimo, e completou piscando de forma sedutora: Me traga depois um jaleco.
- Certo, doutor Gio - respondeu ela, suspirando, antes de sair andando.
Alexissuos respirou fundo, ajeitou-se e bateu na porta, antes de entrar. Pela primeira vez, se pegou pensando em como conduzir um encontro com um paciente.
Algo que nunca havia sido um problema para ele antes. Mas, como tudo tem sua primeira vez, a verdade é que aquela jovem mulher havia mexido com ele de uma forma que nenhuma outra jamais fora capaz.
Decidiu, então, que seria o mais profissional possível, com total dedicação, como sempre fazia, afinal, esse era seu ponto forte.
Thaila estava mordendo o lábio, fazendo contas mentalmente, pensando em como conseguir um dinheiro extra para cobrir aquela dívida inesperada, quando ouviu uma batida na porta.
- Bom dia, senhorita Sousa. Me informaram que a senhorita está exigindo sua alta, imediatamente! - disse ele, ao entrar.
Aflita e sem a menor paciência, Thaila mal percebeu o "bom dia" educado do médico e só processou o final da frase, o que a fez responder de forma brusca, lembrando-se da prepotência dele no dia anterior.
- Sim! É exatamente isso que eu quero! - rebateu.
- Entendo... Mas, analisando seu prontuário, como médico, acho melhor que a senhorita permaneça conosco por mais três dias.
O grito de horror quase escapou da garganta de Thaila ao imaginar a fortuna que seriam mais três diárias naquele hospital. Ela se levantou imediatamente, com a voz alterada e começou a recusar.
- Não mesmo! Olha escute, doutor, eu prefiro ir embora agora mesmo, pois não vou ficar nem mais um minuto aqui com o senhor!
Alexissuos respirou fundo. Queria, de fato, ser um exemplo de educação, mas sua paciente não estava ajudando. E, movido por um sentimento estranho, quase possessivo e somado à ofensa que sentia por ela querer se afastar dele.
Sem querer resolveu ser mais duro do que nunca, até mesmo apelando para informações que não eram exatamente verdadeiras.
- Escuta aqui, senhorita Sousa, você ainda não entendeu, pelo visto, mas seu quadro pode evoluir rapidamente para uma meningite com isquemia sistêmica, o que exigiria isolamento e internação no CTI, além de uma equipe inteira dedicada a você, que no momento não está disponível no hospital, e eu sinceramente, não vou arriscar meu trabalho por alguém irresponsável com a própria saúde, lhe dando alta!
Assustada, apavorada com aquela informação e, mais ainda, com a dívida que aquilo tudo poderia gerar, Thaila simplesmente desabou. Caindo de joelhos no chão, chorando copiosamente.
Alexissuos sabia que havia exagerado. Na verdade, o quadro de Thaila não evoluiria para nada daquilo que ele citava. Mas, de certo modo, era a única maneira de fazer aquela paciente cabeça-dura entender quem estava no comando. No fundo, ele só queria garantir o bem-estar dela. Mesmo assim, não conseguiu evitar o peso da culpa ao vê-la tão desesperada.
Rapidamente, se abaixou, segurou-a com firmeza e a levantou nos braços, levando-a de volta para a cama.
O que deveria ser apenas um gesto profissional de cuidado, nesse momento, se confundiu com algo muito mais pessoal.
Ele não queria só acalmá-la como médico, Alexissuos queria mesmo era confortá-la como homem.
O sentimento foi tão intenso que ele manteve Thaila nos braços mais tempo do que o necessário, e quando finalmente a colocou de volta no leito, precisou respirar fundo para não ceder ao impulso de beijá-la, ali mesmo.
Thaila, por sua vez, estava perdida entre a dor e a preocupação. Mas, ao se ver aninhada nos braços fortes do médico, sentiu algo completamente novo. Seu corpo ficou ao mesmo tempo confortável e trêmulo.
Foi esse turbilhão de sensações que a fez parar de chorar. Assim que sentiu o colchão sob suas costas e percebeu o olhar penetrante dele, uma onda ainda mais intensa de confusão e vergonha a fez se encolher, virando de lado.
Percebendo que quase ultrapassou todos os limites da ética profissional, Alexissuos tentou se recompor e entender de forma racional o motivo de tanta insistência da paciente em querer a alta.
Percebendo que ela precisava de um momento sozinha, ele deixou o quarto e foi conversar com o colega que estava de plantão.
Bastaram algumas palavras para que ele finalmente entendesse o que se passava. Então, respirou fundo e voltou ao quarto de Thaila.
Desta vez, mais calmo e no modo profissional que dominava tão bem, chamou-a de forma eficiente e cordial.
- Senhorita Sousa... está me ouvindo? Está se sentindo bem? - perguntou, esperando que ela se virasse e lhe respondesse.
Ela virou lentamente, encarou-o com os olhos marejados, mas respondeu com firmeza:
- Sim... estou ouvindo. E estou bem... apesar desse quadro terrível que o senhor me disse que eu tinha! - ironizou.
- Calma... - respondeu, sorrindo de canto.
A senhorita está bem, sim. E, sinceramente, sinto muito por ter te assustado daquele jeito. Mas agora que eu entendi o verdadeiro motivo da sua vontade de me...Ele se interrompeu, quase tropeçando nas próprias palavras ...digo, da sua vontade de deixar o hospital...
- Como? Não entendi, doutor! Thaila questionou, franzindo o cenho.
- Quero dizer...sua pressa de deixar o hospital - repetiu, disfarçando.
"Droga... Como eu falei isso? Me deixa? Desde quando eu sou dependente emocional de uma mulher? Definitivamente preciso voltar para a terapia. Só posso estar alucinando..."
Alexissuos pensou, enquanto lutava contra o próprio devaneio da mente, e logo teve uma ideia relâmpago, oferecendo ajuda a Thaila.
- Sério, você pode me ajudar, doutor, mas como seria isso? Porque, pelas minhas contas, eu precisaria de uma fortuna em euros. A menos, claro, que o senhor seja um dos donos do hospital e tenha uma conta astronômica dedicada à caridade... ou me dê um emprego noturno extremamente bem remunerado. Caso contrário, nada poderá fazer por mim.
Respondeu ela, sarcástica.
Alexissuos precisou se controlar para não rir. Na verdade, ela não fazia ideia de que ele era um dos donos do hospital. Mas, por algum motivo que nem ele entendia, não queria resolver aquilo com dinheiro.
Queria que ela aceitasse de outro jeito. E, sem pensar muito, ouviu-se, fazendo uma proposta que mudaria tudo.
Autora: Graciliane Guimarães