Capítulo 2 Nunca seria manipulado

Capítulo 02

Por Contrato

O Sentido do Amor

A mistura estava deliciosa demais para ela parar, e Thaila se sentia tão bem, tão relaxada... Contudo, ela não fazia ideia de que o remédio de corticoide que havia tomado reagiria tão mal com o álcool.

De repente, a bebida fez efeito, e, como em um sonho, ela se viu curtindo um pouco do luxo que jamais lhe seria permitido.

Só dessa vez, prometeu a si mesma, quebraria as regras e fingiria ser dona daquele lugar. Uma loucura, mas a combinação de bebida e remédio a fez agir de uma forma que nunca teria cogitado antes.

Sem pensar nas consequências, Thaila simplesmente tomou um banho na incrível banheira que mais cedo ela mesma havia higienizado com tanto capricho.

Em seguida, vestiu um roupão felpudo azul-escuro, absurdamente grande, deixando claro que o dono só poderia ser um homem bem grande ou talvez verdadeiro gigante.

Totalmente fora de si, rindo solta pelo efeito do álcool e da sensação surreal de estar eufórica e quase sonhando, Thaila passou a procurar, curiosa, qualquer indício do cliente, dono daquele luxuoso apartamento.

E então teve um pensamento louco: poderia viver no luxo se fosse uma acompanhante profissional no estilo da sua prima Aline...

Mas não. Ela jamais teria coragem de seduzir um homem, muito menos teria alguma chance com alguém tão rico.

- Nem uma foto... fungou, triste, frustrada por não saber nem como ele era.

- Ótimo, estou louca!

Falando e respondendo a mim mesma.

Rindo alto, Thaila colocou as mãos na cintura antes de começar a vasculhar os armários de roupa.

- Hmm... Deve ser um italiano feio! Seguiu conversando consigo mesma em voz alta, e rindo muito, Ah mas, pelo menos, ele tem bom gosto...

Completou, tomando mais um gole do drink, em seguida acabou levando um pequeno susto ao perceber que a taça estava novamente vazia.

- Aí que droga! - reclamou.

Eu jurei que seria o último...

Voltou a rir eufórica sozinha, se sentindo divertida, mas por um momento ela teve um lapso de consciência de que estava longe demais de sua versão sensata e comedida que era seu normal.

Mas continuou, ainda aproveitou para borrifar um dos perfumes do dono. Inspirou profundamente e suspirou, encantada com o aroma sofisticado e sutil...

Ou talvez fosse só o álcool deixando tudo mais agradável, já que sua cabeça rodava e nada fazia sentido.

Thaila estava sem dúvida completamente bêbada. Seus pensamentos eram aleatórios, desconexos, sem o menor sentido do mundo real.

Depois de toda essa extravagância, o sono chegou com força, e ela acabou desabando em um sono profundo, na imensa cama do quarto principal.

************

Alexissuos Giordanni estava furioso. Com a exigência inesperada de casamento arranjado, fruto de um acordo entre sua avó e aceito por seus pais com outra família igualmente rica, o acordo o deixava completamente revoltado.

O mais absurdo era que tudo isso fora decidido anos atrás, sem seu consentimento.

Afinal ele, claro, jamais levou a sério aquelas conversas de acordo de casamento que ouvirá da sua mãe Olívia certa vez.

Embora todos na família sempre tivessem se casado dessa forma: casamentos arranjados por interesse, sobre condições de alianças empresariais disfarçadas de matrimônio.

A raiva era, sem dúvida, o sentimento que melhor definia Alexissuos naquele momento.

E ele precisava se controlar muito para não explodir e descontar sua ira na velha matriarca da família, que achava que ainda mandava em todos, inclusive nele.

Por isso, anos atrás, ele fizera a melhor escolha: sair da mansão dos Giordanni, em Florença, comandada por sua avó dominadora.

Como o neto mais velho da família, ele tinha acertado em cheio ao decidir viver seu próprio destino. Claro que seus pais o ajudaram, presenteando-o com um apartamento e custeando seus estudos na faculdade, mas, fora isso, Alexissuos trilhou seu caminho com esforço e dedicação, tornando-se o melhor aluno de medicina da turma.

Sua vida bem-sucedida era seu maior trunfo contra os desmandos de sua avó Eugêni.

Porém, contudo o encontro inesperado com sua ex -namorada da adolescência, que agora era a escolhida de sua avó, para ser sua esposa durante um jantar formal na grande mansão. O irritou profundamente, pois sua avó Eugêni fez de propósito, pois claro ela só estava fazendo questão de lembrá-lo de que ele ainda era um herdeiro do grupo Giordanni, e que ela tinha poder sobre a vida dele.

Mas ele não pensou duas vezes: em seguida já deixou claro, ali mesmo, que nunca seria manipulado, como os outros membros da família.

Levantou-se bruscamente da mesa, saindo sem olhar para trás e deixando todos perplexos após o anúncio repentino da avó sobre o iminente casamento.

- Seu rebelde! Irresponsável! Volte aqui, Alexissuos! ...Ainda não terminei de falar sobre seu casamento!

Gritou: Eugêni, tentando contê-lo com a mesma voz autoritária que usava na infância.

Sem se importar, ele seguiu em frente, sem se dar ao trabalho de responder, andando com passos largos em direção à saída.

Enquanto se afastava, ainda ouvia a discussão acalorada entre os parentes, mas a única voz que se destacou, clara, foi a de seu pai:

- Calma, mamã. Ele não tem escolha. Alexissuos vai ceder!

Ignorando as palavras do pai e da mãe, que claramente concordavam com tudo, Alexissuos deixou a mansão dos Giordanni em Florença, entrando em disparada no seu carro conversível.

Seus planos eram passar o fim de semana na casa dos pais, mas, diante daquela situação, o melhor era voltar imediatamente para seu apartamento em Milano.

Pisando fundo no acelerador, ele chegou à cidade em tempo recorde. A cidade que prometera conquistar desde muito jovem, e de fato, estava se saindo muito bem, graças à sua dedicação à medicina, profissão que tanto amava.

Ser médico era um sonho de infância. Na verdade, era um sonho compartilhado com seu melhor amigo, Paolo, um irmão de vida.

Eles passavam horas brincando de médicos e prometeram juntos, que um dia teriam seu próprio hospital.

Mas a vida foi cruel. Paolo morreu tragicamente em um acidente de carro logo após ambos passarem no vestibular.

O pior foi que Paolo poderia ter sobrevivido...

Se o médico não tivesse demorado tanto para operá-lo.

A agonia do amigo preso a uma cama, implorando para ao menos sentir o vento no rosto, foi como faca em Alexissuos, pois era como se seu querido amigo soubesse que não teria muito tempo, esse foi um trauma que Alexissuos jamais conseguiu esquecer.

Por pouco, ele não desistiu de tudo. Mas, graças à terapia com um bom psicanalista, entendeu que o legado do amigo não podia ser esquecido. E, como médico, ele poderia fazer a diferença, salvando vidas e não permitindo que ninguém morresse por negligência.

E assim cumpriu a promessa. Formou-se médico, e com apoio financeiro da família, comprou um hospital. Em homenagem ao amigo, deu-lhe o nome de hospital San Paolo, o que irritou profundamente sua avó Eugêni, que havia organizado uma grande festa de inauguração, esperando que o hospital levasse o nome da família: Giordanni, assim como todos os empreendimentos do grupo.

Para se livrar, de uma vez por todas, desse controle sufocante da avó, Alexissuos preferiu buscar ajuda, e acabou aceitando ter um sócio ao invés de dever favores à família.

E foi assim que Giancarlo entrou em sua vida, não só como sócio, mas também como um grande amigo e parceiro de confiança e confidente.

Claro que isso deixou Eugêni ainda mais furiosa. E, com certeza, sua vingança estava vindo na forma desta tentativa de intervir na sua vida pessoal, afinal ela só queria controlar ele arranjando-lhe um casamento forçado. Alexissuos bufava de raiva só de pensar nisso.

Para aplacar sua raiva, antes de subir para seu apartamento, decidiu ligar para Giancarlo. Pouco tempo depois, já estavam juntos, tomando várias dose de uísque em um bar badalado no centro de Milano.

Enquanto Alexissuos contava as últimas novidades, Giancarlo falava sobre o plantão puxado que tivera, cheio de cirurgias. Mas, definitivamente, o assunto que dominou a conversa foi a família de Alexissuos.

- Isso é inacreditável! - indignou-se Giancarlo. - Sua família quer mesmo te forçar a um casamento arranjado?

- Isso não é tudo, meu amigo. A velha megera da minha avó disse que essa é a nossa tradição familiar. Que eu já fui rebelde por tempo demais, afinal, sou o único longe da empresa da família e que seguiu seu próprio caminho... E aquele blá blá blá de sempre! Que as irmãs do meu pai já estão cuidando do legado dela, mas que, pelo menos, o meu casamento quem vai decidir será ela!

- E a tal da sua futura noiva? Como ela é? Pergunta curioso, Giancarlo.

- Noiva? - Alexissuos riu, irônico. - Isso nunca! Mas... Mariza é bonita. Nós nos conhecemos desde o ensino médio. Eu até tive uma queda por ela, namoramos na época... Mas, definitivamente, ela não vale nada. Me traiu. Então, o sentimento que eu tinha morreu naquela época.

- Merda... Então vamos beber! - respondeu Giancarlo, levantando o copo.

- Ei garçom mais duas rodadas, aqui!

Grita alto Alexissuos, exigindo ser atendido o quanto antes.

- Sim, senhor, aqui está!

Assim que foi servido pelo garçom.

Alexissuos voltou a exclamar alto:

- Maldita vadia traidora! Um brinde a todas as vadias, desculpa, amigo Giancarlo por tocar na sua ferida.

- Está tudo bem, Alexissuos, a mim isso já não me afeta.

Giancarlo, até pareceu ser sincero, mas Alexissuos sabia de tudo que o amigo passara recentemente, e por isso ele tinha certeza que Giancarlo ainda sofria pela ex-esposa.

Autora: Graciliane Guimarães

            
            

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