Cicatrizes de Um Passado Que Não Volta
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Capítulo 1

João Miguel olhou para o convite em suas mãos, o papel timbrado da casa de fado em Lisboa parecia pesado, uma âncora para um futuro incerto, mas uma boia para escapar do presente.

Mestre Arruda, seu mentor, tinha facilitado tudo, uma chance de recomeçar longe, muito longe.

Esta decisão significava renunciar à família, às primas que o criaram, Clara, Sofia, Helena, e a Isabella, sua noiva, ou melhor, ex-noiva.

Uma série de decepções o empurrava para longe.

Ele apertou o pulso esquerdo, a cicatriz ali, fina e branca contra a pele morena, latejava com a lembrança.

Não era só uma marca física, era a prova do abandono.

Naquela noite terrível do assalto, os bandidos tinham ferido suas mãos, o instrumento da sua arte, de seu sustento.

E sua família?

Eles escolheram socorrer Ricardo, o primo distante, de um suposto "pequeno incidente".

João Miguel ficara para trás, sangrando, suas mãos destruídas.

Agora, Ricardo surgia na sua frente, um sorriso vitorioso nos lábios, e uma marca de batom vermelho vivo no colarinho da camisa, o batom de Isabella.

"Parece que ganhei, primo", Ricardo murmurou, a voz cheia de falsa humildade.

Isabella, que jurara amor eterno, que implorara aos céus por ele, tinha sido coagida.

Um escândalo, habilmente orquestrado por Ricardo, a forçara a pedir à família que o noivado fosse transferido.

Para Ricardo.

O show de despedida de João Miguel no Rio, num bar famoso da Lapa, seria seu último elo.

Ele precisava cortar os laços, um por um.

Ricardo aproximou-se, a falsa modéstia escorrendo por cada poro.

"João, meu primo, sei que é sua noite de despedida, mas seria uma honra se eu pudesse ser a atração principal. Apenas para... bem, você sabe, mostrar meu apoio."

João Miguel sentiu o sangue ferver.

"Não", ele disse, a voz firme, cortante.

Ricardo cambaleou para trás, como se tivesse levado um soco.

Então, num movimento teatral, ele tropeçou, caindo no chão com um gemido exagerado.

"Ai, meu tornozelo!"

Isabella e as primas, Clara, Sofia e Helena, correram em seu socorro, os rostos contorcidos de preocupação.

"Ricardo, você está bem?" Isabella perguntou, ajoelhando-se ao lado dele.

Clara fuzilou João Miguel com o olhar.

"João Miguel! O que você fez? Como pode ser tão cruel?"

Helena concordou, a voz trêmula.

"Ele só queria te apoiar, e você o trata assim?"

Sofia, sempre a mais prática, já examinava o tornozelo de Ricardo.

"Acho que ele torceu. João Miguel, você tem que ceder o palco. Ricardo precisa se apresentar, mostrar que está bem, acalmar os fãs dele que vieram."

Exigiam que ele desistisse da sua última apresentação, do seu adeus.

A traição final.

            
            

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