Cicatrizes de Um Passado Que Não Volta
img img Cicatrizes de Um Passado Que Não Volta img Capítulo 3
4
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
Capítulo 21 img
Capítulo 22 img
Capítulo 23 img
Capítulo 24 img
Capítulo 25 img
Capítulo 26 img
Capítulo 27 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

No dia seguinte, João Miguel se trancou em seu apartamento.

Começou a organizar seus pertences, uma montanha de memórias.

Violões, partituras, prêmios empilhados em cantos, fotos com as primas sorrindo, presentes de Isabella.

Cada objeto, uma lembrança de uma vida que não era mais sua.

Ele olhou para tudo aquilo como se fossem antiguidades de um museu abandonado, sem valor, sem significado.

Decidiu se livrar de tudo.

Leiloar os instrumentos mais valiosos, doar as roupas, os livros, os discos.

Queimar as cartas, as fotos, qualquer coisa que o ligasse a elas.

Um ato de purificação, de corte.

Foi ao bar da Lapa para formalizar sua saída.

O gerente, um homem que antes o tratava com reverência, mal o olhou nos olhos.

Nenhuma menção ao show cancelado, nenhuma palavra de consolo.

A influência da família de Isabella, e agora de Ricardo, era palpável.

Quando saía, Isabella o interceptou na rua.

Dois seguranças dela, homens que antes o cumprimentavam com respeito, agora o cercavam com uma formalidade hostil.

"João Miguel, você vem comigo", ela disse, a voz sem emoção.

"Para onde?"

"Uma festa. Para comemorar o sucesso do Ricardo."

A ironia o atingiu em cheio.

Ele pensou em recusar, em lutar, mas para quê?

Cedeu.

Talvez fosse melhor assim, um último ato, uma despedida limpa, sem pontas soltas.

Chegaram a uma das mansões da família de Isabella.

Uma faixa enorme na entrada: "Celebração do Triunfo de Ricardo!".

Lá dentro, a festa era uma réplica exata das comemorações que antes faziam para ele.

O mesmo buffet, a mesma banda, os mesmos convidados bajuladores.

Ricardo veio ao seu encontro, a inocência fingida em seu rosto.

"Primo! Que bom que veio! Eu não queria essa festa, juro. Foram as meninas, Isabella... elas insistiram."

Isabella e as primas se aproximaram, defendendo Ricardo.

"Ele merece, João. Depois do susto de ontem, ele precisa desse carinho", disse Clara.

"Não seja tão amargo, João Miguel", emendou Helena.

João Miguel sorriu, um sorriso distante, quase sarcástico.

"Parabéns, irmão. E a você também, cunhada."

Ele usou os termos de propósito, para marcar a distância, a nova realidade.

Afastou-se do grupo, caminhando pelo salão.

Não iria competir, não iria mais se envolver.

A relação com elas, a partir de agora, seria puramente transacional, se é que haveria alguma.

Ele era um estranho ali.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022