A minha sogra, Helena, foi a primeira a falar, a sua voz cheia de uma falsa simpatia.
"Oh, querida. Que susto nos pregaste. Graças a Deus que estás bem."
Ela olhou para a minha barriga vazia e acrescentou, com uma leveza cruel:
"Não te preocupes com o bebé. São jovens, podem tentar de novo."
As suas palavras foram como um soco no estômago. Tentar de novo? Como se Lucas fosse um objeto substituível.
O meu sogro, Jorge, pigarreou, o seu rosto severo.
"O importante é evitar um escândalo. Um acidente de carro, a tua gravidez... Isto é mau para a reputação da família."
Eu olhei para eles, um por um. Para a minha sogra preocupada com a sua linhagem, para o meu sogro preocupado com as aparências. E depois olhei para o meu marido.
"Onde está a Sofia?" perguntei, a minha voz era um fio.
Miguel hesitou. "Está em casa, a descansar. Partiu mesmo o tornozelo. O médico disse que foi uma sorte eu a ter levado logo."
Uma sorte.
Eu ri. Um som seco e amargo que encheu o silêncio do quarto.
"Uma sorte," repeti. "O meu irmão está nos cuidados intensivos, o nosso filho está morto, mas que sorte que o tornozelo da Sofia está a ser tratado."
A cara de Miguel endureceu. "Clara, não sejas dramática. Eu não podia adivinhar que ia ser tão grave. Pensei que era só um toque."
"Eu disse-te," a minha voz subiu de tom. "Eu disse-te que era sério. Eu implorei-te para vires."
Helena interveio, defensiva. "O meu filho fez o que achou correto! A Sofia estava a sofrer à frente dele. Tu estavas ao telefone. É diferente!"
"Diferente?" Olhei para ela, incrédula. "Eu era a mulher dele. Grávida do neto dela. O meu irmão podia estar a morrer."
"Não fales assim com a minha mãe," disse Miguel, a sua voz a tornar-se fria. "Já passaste por muito, estás sensível. Vamos falar sobre isto quando estiveres mais calma."
"Não," disse eu, a decisão a formar-se clara e sólida no meio da minha dor. "Não há nada para falar. Quero o divórcio."