O silêncio na sala tornou-se pesado. O meu sogro olhou para mim como se eu tivesse enlouquecido. A minha sogra ofegou, pondo a mão no peito.
Miguel foi o primeiro a quebrar o silêncio. Ele riu, um riso de desprezo.
"Divórcio? Estás a brincar, certo? Estás a ter uma reação exagerada por causa das hormonas e do choque."
"Eu nunca estive tão séria na minha vida, Miguel."
Ele aproximou-se da cama, o seu rosto agora uma máscara de fúria contida.
"Não sejas ridícula, Clara. Divórcio? E vais para onde? Vais viver de quê? Esqueceste-te que a casa é da minha família? Que o carro da empresa é meu? Que tu não trabalhas há quase um ano para te preparares para o bebé?"
Cada palavra era uma facada, calculada para me lembrar da minha dependência.
"O bebé que tu deixaste morrer," retorqui, a minha voz a tremer de raiva.
A cara dele contorceu-se. "Isso é baixo, até para ti. Foi um acidente."
"Não. Foi uma escolha. Tu escolheste a Sofia em vez de mim e do teu filho. E agora eu estou a escolher-me a mim."
Helena juntou-se ao ataque. "Sua ingrata! Depois de tudo o que fizemos por ti, de te acolhermos nesta família. É assim que retribuis? Com ameaças de divórcio na primeira dificuldade?"
"A primeira dificuldade?" Olhei para a minha barriga vazia. "Isto não é uma 'dificuldade'. Isto é o fim."
Miguel abanou a cabeça, recuperando a sua arrogância.
"Ouve, vais descansar. Vais pensar melhor. Vais perceber que não tens para onde ir. Sem o bebé, não tens qualquer poder de negociação, Clara. És só tu. E tu, sozinha, não és nada."
Ele virou-se para sair, os pais a reboque, como se a conversa estivesse encerrada e ele tivesse vencido.
"Vamos embora," disse ele por cima do ombro. "Ela precisa de tempo para cair na realidade."
A porta fechou-se, deixando-me no silêncio do quarto de hospital. As suas palavras ecoavam na minha cabeça. "Sem o bebé, não tens qualquer poder de negociação."
Ele tinha razão. Ele tinha-me tirado tudo. O meu filho, a minha segurança, a minha dignidade.
Mas ele tinha-se esquecido de uma coisa.
Ele tinha-me tirado o medo. Quando já não tens nada a perder, tornas-te perigosa.