Capítulo 10 Escovas com Perfume para Cães e Latas de Sopa

Um pouco antes das 20:30, Kathryn, Blair e Anthony já estavam confortavelmente instalados na sua mesa. Além deles, estavam mais três convidados: Johanne Patterson, uma conhecida socialite e investidora em pequenas empresas, celebridade de um concurso de televisão, John Platrow, conhecido por ter construído um império vendendo comida enlatada, e ainda Nancy Drew, uma septuagenária membro da elite nova iorquina, conhecida por seu apoio a várias fundações de caridade. Por volta das 20.35, cada um deles se serviu do sumptuoso buffet.

Um pouco nervosa, Kathryn apenas escolheu um pouco de salada de batata com trufa e espargos.

- Que entusiasmo conhecer você, Nancy - disse timidamente Kathryn - Faz muitos anos que acompanho o seu trabalho de benfeitoria.

- Ora, minha querida, faço o que consigo por tanta gente que precisa do meu apoio, disse Nancy sorrindo.

- E você Johanne, como têm corrido seus mais recentes investimentos? -perguntou Blair, fazendo a conversa fluir.

- Hein, eu... - Johanne ainda não retirara os olhos de Anthony, pelo que teve de se concentrar na pergunta antes de responder - sim, investi recentemente numa empresa de escovas de pelo com massajador e perfume incluído para cães e gatos que está tendo um enorme sucesso.

Kathryn teve de se controlar para não revirar os olhos... escovas para animais domésticos com massajador e perfume? Que bobagem! Johanne era alta, magra e elegante, com cabelos loiros cacheados que pendiam num apanhado lateral. No entanto, o seu outrora lindo rosto parecia já sujeito a demasiadas intervenções estéticas, o que lhe conferia um aspeto um pouco estranho. Para seu alívio, Anthony não olhara muito para ela até aquele momento, apesar dos olhares sucessivos de Johanne, que ia mexendo ainda no cabelo e fazendo ligeiros beicinhos para tentar chamar a atenção dele.

- Que interessante. Certamente todos os cães e gatos da cidade estarão felizes com seu novo negócio - retorquiu Blair sorrindo para Johanne. E você, John, como estão correndo seus negócios?

John Platrow teria uns 60 anos. Herdara um pequeno negócio de sopas enlatadas do seu avô, que expandira fazendo vendas de porta em porta e em pequenas mercearias. Gostava de conseguir tudo o que queria e tinha tanto espírito comercial quanto era arrogante e tenaz. Recentemente, as vendas da sua empresa tinham sofrido um forte abalo na sequência de um escândalo de assédio. Uma antiga funcionária da empresa viera comentar com a imprensa que John a assediara sexualmente durante vários meses, tendo finalmente acabado por despedi-la. Embora os factos não tivessem sido provados, a imagem da empresa tinha sido muito denegrida, motivo pelo qual John tentava agora frequentar eventos de caridade, como forma de melhorar essa imagem. "Não estamos em condições de exclui-lo, toda a ajuda é bem-vinda", dissera Blair a Jane. Normalmente, John detestava eventos de caridade, mas estava a adorar este em particular. Sentado em frente a Katrhyn, olhava com languidez, sem disfarçar minimamente, os seus fartos seios, moldados pelo tecido justo do vestido vermelho. Anthony ia cerrando o maxilar e olhando alternadamente para Kathryn e para John, parecendo cada vez mais furioso.

- Tivemos alguns contratempos ultimamente, mas estou certo que as vendas melhorarão no próximo ano... mas chega de falarmos de negócios, vamos falar de diversão. Conte-me, Kathryn, o que você gosta de fazer?

Cordialmente, embora um pouco constrangida pelos olhares que aquele homem estava lhe lançando, Kathryn respondeu:

- Sou uma pessoa simples. Gosto de assistir TV, ler livros de romance e de dar longos passeios ao ar livre...

- Deve ser assim que mantém essa esplêndida forma física - comentou John, ao mesmo tempo que Anthony bufava de impaciência.

O jantar prosseguiu, com todos falando de trivialidades e chegou o momento porque todos aguardavam: o momento do baile.

Um quinteto de músicos de jaqueta montou o seu estaminé num pequeno palco no canto da sala e todos os convidados se foram lentamente preparando para dançar. Blair anunciou, feliz, que tinham recolhido uma quantia muito avultada e abriu oficialmente o baile, agradecendo a presença de todos e desejando que se divertissem.

Sentido-se um pouco tímida, Kathryn colocou-se a um canto, esperando que ninguém a convidasse para dancar. Costumava dançar com o pai nos bailes da sua terra natal, mas tinha algum receio de tombar por causa do vestido e aquele era todo um novo ambiente.

Subitamente, sentiu uma mão a tocar-lhe grosseiramente no fundo das costas, desferindo depois uma ligeira palmada no seu traseiro. Intrigada, voltou-se, para encarar John.

- E aí beleza rara, dançamos?

Dançar com John era, sem dúvida, a última coisa que lhe apetecia naquele momento. E isso nem tinha que ver com a cauda do seu vestido, com o cabelo loiro oxigenado, penteado para o lado, para esconder a careca, de John, e nem tão pouco com o seu proeminente ventre, mas sim com o facto de sentir que ele achava que ela era um objeto decorativo e bonito, que podia ser usado a seu bel-prazer. Que ódio! Mas Blair havia-lhe pedido o máximo de cortesia para com todos os convidados, pelo que se viu forçada a aceitar.

Deslizando pela pista ao som da música, Kathryn sentia, com repugnância crescente, a mão de John passando casualmente no seu traseiro e ia tentando se esquivar elegantemente.

Do outro lado da pista, Anthony dançava com Johanne, pouco confortável com o modo com a socialite se colara ao seu corpo e ia encostando os seios e até a pélvis nele. Por um momento, os seus olhos se cruzaram com os lindos olhos de Kathryn, que estava com um ar muito pouco divertido. Droga, ele não poderia aguentar mais aquilo. Lentamente, foi conduzindo Johanne até próximo de Kathryn e John e, assim que a música acabou, disse decididamente:

- Troca de pares.

Kathryn sorriu, aliviada, dirigindo-se imediatamente a Anthony e John e Johanne começaram a dançar, parecendo ambos furiosos.

Anthony tomou Kathryn em seus braços e olhou-a nos olhos. Ela engoliu em seco e estremeceu involuntariamente, sentindo um arrepio percorrer-lhe o corpo. Devagar, foram deslizando pela pista, os dois de coração acelerado.

            
            

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