Abandonada no Dilúvio: A Vingança de Lia
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Capítulo 4

Dona Helena deu um passo à frente, a sua expressão mudou de pena para irritação.

"Lia, não fales assim com o meu filho! Ele também está a sofrer!"

"A sofrer? Ele não estava lá! Eu estava lá! O nosso filho estava lá!"

A minha voz subiu de tom, a calma a quebrar-se como vidro.

"Ele não podia adivinhar que ia ser tão grave," ela defendeu-o. "Ele fez o que achou certo no momento. A Sofia estava descontrolada, podia ter feito uma asneira!"

Olhei para o Marcos, à espera que ele dissesse alguma coisa. Que ele a mandasse calar. Que ele me defendesse.

Ele continuou em silêncio, a olhar para o chão, como uma criança apanhada em falta.

"Uma asneira," repeti, incrédula. "E eu, a afogar-me com o vosso neto, não era uma situação grave o suficiente?"

"Não sejas injusta," disse a Helena, a sua voz a tornar-se mais dura. "O Marcos está destroçado. Em vez de o apoiares, estás a atacá-lo. Uma esposa devia estar ao lado do marido nestes momentos."

O absurdo da situação atingiu-me em cheio.

Eu era a vítima. O meu filho estava morto por causa da negligência dele. E eu é que tinha de o apoiar.

Virei a minha cabeça para a janela. Não queria mais olhar para eles.

"Saiam," disse eu, baixinho.

"O quê?" perguntou o Marcos, finalmente a falar.

"Eu disse para saírem. Os dois. Quero ficar sozinha."

"Lia, não vamos resolver nada assim," ele tentou argumentar.

"Não há nada para resolver, Marcos."

Olhei para ele, e pela primeira vez, não vi o homem que amava. Vi um estranho. Um estranho fraco e egoísta.

"Acabou. Eu quero o divórcio."

O choque no rosto dele foi quase cómico. A Helena ofegou, a mão no peito.

"Divórcio? Estás louca?" gritou ela. "Depois de tudo o que passámos? Vais deitar o teu casamento fora por causa de um... de um acidente?"

Um acidente.

Ela chamou à morte do meu filho um acidente.

"Saiam," repeti, a minha voz gelada. "Agora. Ou eu chamo a segurança."

O Marcos olhou para a mãe, depois para mim. Havia fúria nos seus olhos agora.

"Está bem. Se é isso que queres. Mas vais arrepender-te disto, Lia. Quando a tua cabeça arrefecer, vais ver o erro que estás a cometer."

Ele virou-se e saiu, batendo a porta. A Helena lançou-me um último olhar cheio de desprezo antes de o seguir.

Sozinha no quarto silencioso, o vazio no meu peito tornou-se pesado, uma âncora a puxar-me para o fundo.

Mas no meio da dor, uma pequena chama acendeu-se.

A chama da raiva. E da decisão.

                         

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