Grávida de nove meses, estava presa num túnel inundado em Lisboa.
A água subia rapidamente, e o pânico apoderava-se de mim enquanto ligava desesperadamente para o Marcos.
A sua voz atendeu, irritada e distante, abafada pelos ruídos do fundo.
"Marcos, estou presa! A água está a subir!" implorei.
A sua resposta foi um golpe gélido: "Chama os bombeiros. Não te posso ajudar agora. A Sofia está a ter um ataque de pânico."
A Sofia? Enquanto eu me afogava, ele socorria a amiga de infância?
Abandonada, dei à luz prematuramente, perdendo o nosso bebé.
No hospital, Marcos e a sogra, Helena, defendiam o indefensável, minimizando a tragédia e culpando-me.
"Ele também está a sofrer," disse Helena, chamando a morte do nosso filho de "acidente".
Acidente? Seria eu a tola por exigir apoio, enquanto a minha vida e a do nosso bebé se desfaziam por uma aparente "crise de pânico"?
A voz de Sofia soava falsamente preocupada ao telefone, mas os hospitais não tinham registo dela.
Onde estavam eles, afinal? Uma terrível suspeita começou a crescer.
A verdade gelou-me: descobri um recibo. Um anel de noivado para "A minha Sofia. Para sempre."
No dia em que eu lutava pela vida, ele pedia outra mulher em casamento.
A dor virou fúria.
Não haveria perdão.
Apenas justiça.
Eles não me iriam destruir.
Eu reconstruir-me-ia, pedaço a pedaço, livre das suas mentiras.