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O Acidente do Ceo

Melissa Mel
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Capítulo 1 Prólogo O Dono do Mundo

O Acidente do Ceo

Prólogo

Há momentos na vida em que tudo parece estar exatamente onde deveria.

A conta bancária florescendo, o corpo esculpido pelo tempo e disciplina, a empresa crescendo como um império silencioso... e uma mulher linda demais ao lado, como moldura para o sucesso.

Eu tinha tudo.

Tudo, menos o que não se compra.

Paz. Amor. Verdade.

Olhando de fora, eu era o homem que muitos invejavam. Mas por dentro...

Eu era uma bomba-relógio prestes a explodir.

E explodi.

Foi numa curva mal calculada. Um segundo, um erro. E então, o silêncio.

Quando acordei, havia tubos, luzes brancas e um veredicto irreversível:

"Você nunca mais vai andar."

Naquele dia, enterrei o homem que fui.

No lugar dele, nasceu outro - cético, amargo, envenenado pelo rancor.

Amigos desapareceram. A mulher perfeita me traiu com o sócio perfeito.

E a minha vida virou um campo de batalha entre aquilo que me restou e o que me foi arrancado.

Foi então que ela apareceu.

Clara, era o seu nome.

Com aqueles olhos que pareciam enxergar feridas que nem eu sabia que tinha.

Com uma força doce, quase insuportável.

Com uma língua afiada demais para o meu orgulho.

E mãos... capazes de reanimar nervos mortos - e sentimentos ainda mais dormentes.

Ela entrou como terapeuta. Ficou como tempestade.

Me odiou no início.

E eu a desejei mesmo assim.

Porque o que havia entre nós não era simples. Nunca foi.

Ela me fez gritar. Me fez sangrar.

Me fez querer ser homem de novo - inteiro.

Não pelas pernas.

Mas pelo que pulsa quando se ama alguém ao ponto de rasgar cicatrizes só para sentir de novo.

A história que você vai ler... não é sobre um romance fácil.

É sobre queda.

Sobre carne.

Sobre perdão.

E sobre o tipo de amor que te quebra... para depois te ensinar a voar.

Se você acha que sabe o que é paixão, dor, sexo, vingança e redenção...

Espere até conhecer nossa história.

Ela começa com uma cadeira de rodas.

Mas termina com algo muito maior.

Os nomes delas...Eram Rosa e Esperança.

E nada mais foi igual depois que elas nasceram - em mim.

Capítulo 1 – O Dono do Mundo

Narrado por Leonardo

O sol ainda nem tinha beijado o topo dos prédios da Vila Nova Conceição quando abri os olhos. Quase seis horas da manhã. A cidade fervilhava lá fora, mas aqui em cima, no trigésimo oitavo andar, o silêncio era absoluto, sagrado. Era a paz comprada a preço de ouro.

Desviei o olhar da vista panorâmica que se derramava além da cortina de vidro e me joguei de volta no colchão king-size. Marina ainda dormia ao meu lado, nua, com os lençóis bagunçados cobrindo apenas o quadril. Os cabelos loiros se espalhavam pelo travesseiro como um anúncio de perfume importado. Linda. Escultural. Uma mulher digna de capa da Vogue.

E era minha.

Ainda era.

Sorri, sem convicção, e me levantei. O piso de mármore estava gelado sob os pés descalços. Caminhei até o closet, onde tudo era feito sob medida: camisas alinhadas por cor, ternos italianos perfeitamente alinhados, sapatos reluzentes como joias. Peguei uma calça de moletom, vesti e desci os dois andares da cobertura até a sala de treino.

Rodrigo, meu personal, já me esperava.

- Dormiu bem, chefe? - perguntou, enquanto ajustava o peso no supino.

- Sempre durmo bem quando não preciso pensar - respondi, puxando a barra com facilidade. - Hoje tem reunião com os suecos, lembra?

- Como esquecer? Está no grupo da equipe inteira. Todo mundo nervoso. Eles querem ver a NavTech ao vivo.

- E vão ver. E vão assinar o cheque.

Sessenta minutos depois, suor escorrendo pelo abdômen, músculos tensionados, endorfina a mil. Rodrigo foi embora, e minha assistente já me esperava na cozinha gourmet com o café da manhã servido. Ovo pochê, torradas com abacate, smoothie de frutas vermelhas. Orgânico, funcional, sem açúcar. Tudo milimetricamente planejado para manter o corpo e a mente em modo alfa.

- Seu helicóptero sai em dez minutos, senhor Navarro - ela informou, sorrindo com aquele profissionalismo gelado que eu adorava.

- Obrigado, Júlia. Avise ao Renato para me encontrar na cobertura da empresa. E peça para separar a sala de reuniões 01. Quero tudo impecável.

- Sim, senhor.

Entrei no helicóptero como quem entra numa sala de estar. O piloto já sabia a rota: cobertura na Vila Nova - sede da NavTech - almoço no Fasano, se der tempo. A cidade de São Paulo se desenhava abaixo de mim como um tabuleiro caro. Os carros pareciam brinquedos. As pessoas, formigas. Eu, acima de tudo. Literalmente.

Aterrissamos no heliporto exclusivo da NavTech, na Avenida Faria Lima. Um prédio espelhado, moderno, arrogante. A criança que fui jamais imaginaria chegar ali. Mas o homem que me tornei já não se impressionava com quase nada.

Renato me esperava na porta do elevador, vestido em seu habitual blazer azul-marinho, sapato engraxado, sorriso de quem sempre quer algo.

- Pronto para impressionar os vikings? - ele perguntou, piscando.

- Eles que se preparem para ser seduzidos - retruquei, apertando sua mão. - Os números estão no lugar?

- E melhoraram desde ontem. A simulação do OmegaX rodou com 92% de acurácia. Eles vão querer nos comprar e levar para Estocolmo.

- Eles podem querer o que quiserem. Eu só vendo uma parte. E com cláusula de veto.

Passamos pela recepção sob os olhares dos funcionários. Havia algo de magnético em mim. Sempre houve. Não era só o dinheiro, nem o rosto. Era o jeito como eu entrava num ambiente e ele se ajustava à minha presença. Poder puro.

A reunião durou duas horas. Os suecos ficaram impressionados. Renato apresentou os gráficos, eu conduzi o discurso com a confiança de um rei diante do próprio exército. Ao final, brindamos com espumante na copa executiva.

E então, antes do almoço, ela apareceu.

Marina.

Vestido preto justo, blazer cinza claro aberto, salto agulha. E por baixo... lingerie vermelha da La Perla. Eu sabia porque ela entrou na minha sala, trancou a porta e tirou o casaco sem cerimônia.

- Senti sua falta ontem à noite - ela disse, empurrando meu corpo contra a mesa.

- Você estava comigo - retruquei, com um sorriso enviesado.

- Não como eu queria - respondeu, subindo na mesa com a graça de uma pantera.

Tirei o cinto. Ela já estava sem calcinha.

A cidade inteira fervendo lá fora, e ali dentro, éramos apenas instinto. Pele contra pele. Beijo sujo. Mão na garganta. Gosto de desejo e poder. Foda rápida, selvagem, em silêncio. Com pressa de quem sabe que cada segundo custa caro.

Quando terminamos, ela ajeitou o cabelo no espelho da sala.

- Vamos almoçar? - perguntou, como se nada tivesse acontecido. - Fasano?

- Claro. Preciso comemorar a performance da manhã.

No restaurante, ela sorriu para todos. Era ótima em parecer doce. As pessoas a adoravam. Mal sabiam que, por dentro, ela era gelo com glitter. Mas isso não importava. Ela era minha. E o mundo também.

Entre uma taça de vinho e outra, olhei nos olhos dela.

- Hoje à noite, quero jantar num lugar especial. Só nós dois. Tenho algo importante para te dizer.

- Hummm... mistério? Gosto disso. Vai me dar mais uma joia?

- Algo mais eterno que isso.

Ela sorriu, mas seus olhos se estreitaram, atentos.

Eu sabia o que ela pensava. E deixei que pensasse. Queria ver o brilho da surpresa, o medo da responsabilidade, o desejo de controle.

Queria dar o próximo passo. Porque eu, Leonardo Navarro, era um homem que tinha tudo. E, como todo homem que tem tudo... queria ainda mais.

            
            

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