Luan era um entregador de aplicativo que desenvolveu uma obsessão doentia pela minha esposa. Ele já tinha feito de tudo: serenatas desafinadas na porta da empresa, tatuagens malfeitas com o rosto dela, tentativas de invadir eventos.
Isabela sempre o tratou com desprezo público, mas eu sabia que a segurança já tinha sido chamada dezenas de vezes. Ele era uma praga persistente.
Ignorei-o e entrei no elevador.
Eu não estava preocupado. Nosso relacionamento foi forjado na dor. Quando o pai de Isabela morreu, ela entrou em uma depressão profunda. Eu, na época apenas um colega de faculdade, a ajudei a se reerguer, a assumir a empresa e a transformar o luto em força.
Nosso amor era, para mim, inabalável.
Tão inabalável que ela insistiu em um pacto antenupcial bizarro: se o divórcio fosse motivado por uma traição dela, todos os seus bens e 50% das ações da empresa seriam meus.
Era a sua forma de me provar que jamais repetiria o erro da mãe, que traiu seu pai e o levou à morte por desgosto. Isabela tinha um ódio patológico da infidelidade.
Por isso, quando usei meu cartão de acesso para entrar na sua sala e dar-lhe uma surpresa, o que vi me deixou paralisado.
Luan estava lá.
Nu.
Deitado na poltrona de couro caríssima de Isabela, coberto apenas por uma canga de praia que eu tinha dado a ela em nossa última viagem.
Meu cérebro demorou a processar a cena. O cheiro de suor e perfume barato misturado ao aroma do couro italiano. O corpo flácido e comum de Luan relaxado no símbolo do poder da minha esposa.
A porta se abriu atrás de mim.
Era Isabela.
Ela viu a cena, seu rosto empalideceu, mas sua reação não foi a que eu esperava.
Não houve gritos. Não houve violência.
Ela rapidamente fechou a porta, olhou para mim com um pânico controlado e sussurrou:
"Diogo, pelo amor de Deus, me ajude a vesti-lo. Não podemos deixar ninguém ver isso."
Ela se aproximou de Luan, que sorriu de forma doentia, e começou a tentar colocar as roupas nele como se veste uma criança birrenta.
"Vamos, Luan, levanta. Para com isso."
Fiquei ali, segurando as rosas, o estômago revirado. A voz dela era de quem abafa um escândalo, não de quem foi violada.
Mais tarde, em casa, o choque ainda me paralisava.
Isabela agia como se nada tivesse acontecido. Falava sobre o jantar, sobre um novo projeto de arquitetura para mim.
Até que a vi tirar a canga da bolsa. A mesma canga que cobria o corpo nu de Luan.
Eu esperava que ela a jogasse no lixo com nojo, que a queimasse.
Mas ela a dobrou.
Dobrou cuidadosamente, alisando as dobras, e a guardou na gaveta de roupas de praia.
Aquele gesto simples foi o ponto de ruptura.
Foi mais chocante que a nudez, mais doloroso que um grito.
Foi a prova de que algo estava fundamentalmente podre.
Senti uma ânsia de vômito subir pela garganta. Corri para o banheiro e vomitei, esvaziando tudo o que tinha dentro de mim.
Quando me recompus, a decisão estava tomada.
Fui até nosso escritório, abri o cofre e peguei o pacto antenupcial.
A poeira fina cobria o envelope.
Assinei meu nome na linha pontilhada.
Depois, peguei meu celular. Fui até a lista de contatos bloqueados e encontrei o nome dela.
Sofia.
Minha antiga colega de faculdade. A maior rival de Isabela no mercado.
Enviei uma mensagem curta e direta.
"Posso te vender as ações. Quero 2 bilhões de reais. Em um mês."
A resposta veio em menos de um minuto.
"Fechado."