Entre o Abismo e o Novo Começo
img img Entre o Abismo e o Novo Começo img Capítulo 1
2
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
img
  /  1
img

Capítulo 1

Era o nosso aniversário de três anos de casamento.

Comprei o buquê de rosas vermelhas que Isabela mais gostava e dirigi até o seu escritório na Faria Lima.

O conglomerado de café que ela herdou do pai ocupava os últimos dez andares de um dos arranha-céus mais imponentes da avenida.

Enquanto esperava o elevador, vi uma figura familiar do outro lado da rua.

Luan.

Ele estava de pé, na chuva fina, segurando um cartaz de papelão encharcado que dizia: "Isabela, eu te amo mais que café".

Senti uma pontada de irritação.

Luan era um entregador de aplicativo que desenvolveu uma obsessão doentia pela minha esposa. Ele já tinha feito de tudo: serenatas desafinadas na porta da empresa, tatuagens malfeitas com o rosto dela, tentativas de invadir eventos.

Isabela sempre o tratou com desprezo público, mas eu sabia que a segurança já tinha sido chamada dezenas de vezes. Ele era uma praga persistente.

Ignorei-o e entrei no elevador.

Eu não estava preocupado. Nosso relacionamento foi forjado na dor. Quando o pai de Isabela morreu, ela entrou em uma depressão profunda. Eu, na época apenas um colega de faculdade, a ajudei a se reerguer, a assumir a empresa e a transformar o luto em força.

Nosso amor era, para mim, inabalável.

Tão inabalável que ela insistiu em um pacto antenupcial bizarro: se o divórcio fosse motivado por uma traição dela, todos os seus bens e 50% das ações da empresa seriam meus.

Era a sua forma de me provar que jamais repetiria o erro da mãe, que traiu seu pai e o levou à morte por desgosto. Isabela tinha um ódio patológico da infidelidade.

Por isso, quando usei meu cartão de acesso para entrar na sua sala e dar-lhe uma surpresa, o que vi me deixou paralisado.

Luan estava lá.

Nu.

Deitado na poltrona de couro caríssima de Isabela, coberto apenas por uma canga de praia que eu tinha dado a ela em nossa última viagem.

Meu cérebro demorou a processar a cena. O cheiro de suor e perfume barato misturado ao aroma do couro italiano. O corpo flácido e comum de Luan relaxado no símbolo do poder da minha esposa.

A porta se abriu atrás de mim.

Era Isabela.

Ela viu a cena, seu rosto empalideceu, mas sua reação não foi a que eu esperava.

Não houve gritos. Não houve violência.

Ela rapidamente fechou a porta, olhou para mim com um pânico controlado e sussurrou:

"Diogo, pelo amor de Deus, me ajude a vesti-lo. Não podemos deixar ninguém ver isso."

Ela se aproximou de Luan, que sorriu de forma doentia, e começou a tentar colocar as roupas nele como se veste uma criança birrenta.

"Vamos, Luan, levanta. Para com isso."

Fiquei ali, segurando as rosas, o estômago revirado. A voz dela era de quem abafa um escândalo, não de quem foi violada.

Mais tarde, em casa, o choque ainda me paralisava.

Isabela agia como se nada tivesse acontecido. Falava sobre o jantar, sobre um novo projeto de arquitetura para mim.

Até que a vi tirar a canga da bolsa. A mesma canga que cobria o corpo nu de Luan.

Eu esperava que ela a jogasse no lixo com nojo, que a queimasse.

Mas ela a dobrou.

Dobrou cuidadosamente, alisando as dobras, e a guardou na gaveta de roupas de praia.

Aquele gesto simples foi o ponto de ruptura.

Foi mais chocante que a nudez, mais doloroso que um grito.

Foi a prova de que algo estava fundamentalmente podre.

Senti uma ânsia de vômito subir pela garganta. Corri para o banheiro e vomitei, esvaziando tudo o que tinha dentro de mim.

Quando me recompus, a decisão estava tomada.

Fui até nosso escritório, abri o cofre e peguei o pacto antenupcial.

A poeira fina cobria o envelope.

Assinei meu nome na linha pontilhada.

Depois, peguei meu celular. Fui até a lista de contatos bloqueados e encontrei o nome dela.

Sofia.

Minha antiga colega de faculdade. A maior rival de Isabela no mercado.

Enviei uma mensagem curta e direta.

"Posso te vender as ações. Quero 2 bilhões de reais. Em um mês."

A resposta veio em menos de um minuto.

"Fechado."

            
            

COPYRIGHT(©) 2022