Entre o Abismo e o Novo Começo
img img Entre o Abismo e o Novo Começo img Capítulo 3
4
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

Acordei num quarto de hospital.

Uma enfermeira estava ajustando meu soro.

"Você teve sorte", ela disse. "Duas costelas trincadas e alguns cortes. Poderia ter sido muito pior."

Isabela estava sentada numa poltrona no canto, com o rosto cansado.

"Graças a Deus você está bem", ela disse, vindo até mim.

"E o Luan?", perguntei, minha voz rouca. "Ele está bem?"

Ela hesitou por um segundo. "Está. Eu... resolvi a situação. Paguei a dívida."

Notei uma marca roxa no pescoço dela, parcialmente coberta pelo colarinho da blusa.

Um chupão.

Meu estômago se revirou de nojo.

"Você me deixou na estrada para morrer", eu disse, sem emoção.

"Não diga isso, Diogo! Eu sabia que a ajuda estava chegando. Ele corria perigo de vida!"

"E eu não?", retruquei.

Ela não respondeu. A culpa estava estampada em seu rosto, mas não era culpa por me abandonar. Era culpa por ter sido pega.

Nos dias seguintes, ela tentou se redimir.

Cuidou de mim com uma dedicação sufocante. Trazia minhas comidas favoritas, lia para mim, não saía do meu lado.

Mas era como cuidar de uma casca vazia.

Eu não sentia nada. Estava emocionalmente anestesiado, esperando o tempo passar. Esperando o dia de abrir o presente.

Uma semana depois, eu já estava em casa, me recuperando.

Estava na sala quando o celular de Isabela, esquecido na mesa de centro, começou a vibrar.

Era uma notificação de um portal de notícias.

A manchete dizia: "Homem tenta suicídio em frente a conglomerado de café na Faria Lima".

Cliquei no link.

A foto mostrava Luan, com os pulsos ensanguentados, sendo contido por seguranças.

A matéria dizia que ele gritava o nome de Isabela, ameaçando se matar se ela não aparecesse.

E, numa foto menor, lá estava ela.

Correndo em direção a ele, com o rosto desfigurado pela preocupação, empurrando os seguranças para abraçá-lo e socorrê-lo.

Priorizando-o. De novo.

Naquela mesma noite, ouvi Isabela falando ao telefone na varanda. Pensei que era com a mãe dela.

"Sim, mãe, ele está bem. Foi só um susto... Não, não se preocupe, eu estou cuidando de tudo."

Fui até a cozinha pegar um copo d'água e passei pela porta entreaberta do quarto de hóspedes.

A voz dela vinha de lá também.

"Sim, já tomei banho... Não, ele não desconfia de nada... A marca já saiu? Que bom... Também estou com saudades. Durma bem."

Era uma segunda ligação.

Ela estava falando com ele.

A confirmação final. A desilusão completa.

Não senti dor. Senti apenas um cansaço profundo.

Voltei para o nosso quarto. Peguei minha mala e comecei a arrumar minhas coisas.

Não havia mais nada a ser dito.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022