"Estou providenciando", menti. "Em um mês, o controle da empresa será seu."
Ela me estendeu a mão. "Conte comigo, Diogo."
O aperto de mão dela era firme. Naquele momento, ela não era uma paixão antiga, mas uma ferramenta. A minha única saída.
Naquela noite, Isabela tentou uma reconciliação.
Chegou em casa com uma caixa de veludo. Dentro, um relógio de uma marca suíça que eu desejava há anos.
"Feliz aniversário atrasado, meu amor", ela disse, tentando me abraçar.
Eu me afastei.
"Obrigado."
Peguei o relógio e o coloquei na mesa de cabeceira, sem nem experimentar.
Ela percebeu minha frieza.
"Diogo, o que foi? Sobre o outro dia... Luan é um doente. Eu estava com medo, só queria que ele fosse embora sem fazer um escândalo. Você sabe como eu sou."
"Eu sei", respondi, olhando para o nada.
Eu sabia que ela era uma mentirosa.
No dia seguinte, eu tinha um presente para ela também.
Era uma caixa pequena, embrulhada em papel de seda.
"O que é isso?", ela perguntou, sorrindo.
"Abra daqui a vinte e oito dias", eu disse.
Dentro da caixa estava o pacto antenupcial assinado e o pedido de divórcio.
Ela olhou para mim, confusa, mas guardou a caixa.
Naquela tarde, estávamos dirigindo pela Marginal Pinheiros, presos no trânsito infernal de São Paulo.
O celular dela tocou.
Ela atendeu no viva-voz, irritada. "O que você quer, Luan?"
"Isabela... eles estão aqui", a voz dele soava desesperada. "Os caras da facção... é por causa da dívida do meu pai. Eles vão me matar!"
"Eu já te disse para não me ligar mais!", ela gritou, mas seu rosto estava pálice.
"Por favor, Isabela... eles estão na minha porta..."
A ligação caiu.
Isabela agarrou o volante com força, as juntas dos dedos brancas.
"Que imbecil", ela murmurou, mas seus olhos estavam cheios de pânico.
De repente, ela jogou o carro para o acostamento, cantando pneu, e começou a acelerar perigosamente, costurando entre os outros veículos.
"Isabela, o que você está fazendo? Você vai nos matar!", gritei.
"Eu preciso resolver isso!", ela respondeu, os olhos fixos na estrada.
Ela estava indo salvá-lo.
Acelerou ainda mais, entrando numa alça de acesso em alta velocidade.
Um caminhão buzinou.
Eu só vi a luz dos faróis e senti o impacto violento.
O mundo girou. Senti uma dor aguda no peito, como se minhas costelas tivessem se quebrado.
O carro parou, amassado contra uma mureta de proteção.
O celular dela tocou novamente. Era Luan.
"Isabela, onde você está? Por favor..."
Ela olhou para mim, meu rosto coberto de sangue de um corte na testa.
"Diogo, você está bem?", ela perguntou, mas já estava abrindo a porta.
"Meu peito... dói", consegui dizer.
"Eu preciso ir. Eu juro que volto para te buscar. Fique aqui, chame uma ambulância."
E ela saiu correndo, me deixando sozinho na beira da estrada, ferido, enquanto o som da sirene se aproximava ao longe.
Eu apaguei.