A Filha Esquecida: Meu Novo Destino
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Capítulo 3

O telefonema veio no final da tarde. Eu estava no meu quarto, fingindo ler um livro, mas meus olhos não conseguiam focar nas palavras. Cada sirene que eu ouvia na rua fazia meu coração saltar.

Meu pai atendeu. Eu ouvi a voz dele, primeiro calma, depois tensa, e então um grito abafado de dor.

"O quê? Qual hospital?"

Meu corpo gelou. Era agora. Estava acontecendo.

Saí do meu quarto. Meu pai, Carlos, estava pálido como um fantasma, o telefone ainda na mão. Sofia estava ao lado dele, com uma expressão de choque perfeitamente ensaiada no rosto.

"O Pedro...", meu pai gaguejou. "Ele... ele foi baleado no protesto. Está em estado grave no Hospital das Clínicas."

Sem dizer uma palavra, nós três corremos para o carro. O trajeto até o hospital foi um borrão de silêncio tenso. Eu olhava pela janela, vendo a cidade passar, mas minha mente estava vazia. Era como se eu estivesse assistindo a um filme ruim pela segunda vez. Eu já sabia o final.

Quando chegamos à sala de espera da emergência, ela já estava cheia. Meus avós maternos e paternos estavam lá, seus rostos contorcidos de preocupação.

Assim que me viram, minha avó materna, a mãe de Lúcia, veio na minha direção, o dedo em riste.

"Maria! Onde você estava? Por que não estava com seu irmão?"

A voz dela era estridente, acusadora.

"Eu... eu não estava me sentindo bem", murmurei, a desculpa fraca morrendo nos meus lábios.

"Não estava se sentindo bem?", meu avô paterno zombou. "Seu irmão está entre a vida e a morte e a sua desculpa é essa? Você deveria tê-lo impedido de ir! Você é a irmã mais velha!"

"Mas ele não me escuta...", tentei me defender, minha voz um fio.

"É sua responsabilidade!", gritou minha avó. "Você sempre foi a ajuizada! Como pôde deixar isso acontecer?"

As acusações vinham de todos os lados, uma avalanche de culpa me soterrando. Sofia, a mestre da manipulação, começou a chorar baixinho no ombro do meu pai, dizendo: "Eu disse para ele não ir, papai... eu tentei...".

Ninguém notou que as lágrimas dela eram falsas. Ninguém notou que ela não tinha um pingo de preocupação genuína nos olhos.

Eu me encolhi em uma cadeira no canto, sentindo o peso de todos aqueles olhares. Era exatamente como da última vez. A mesma cena, as mesmas palavras, a mesma dor. Minha decisão de não intervir não mudou nada. Eu ainda era a culpada.

Uma enfermeira apareceu na porta.

"A situação é crítica. A bala atingiu uma artéria perto do coração. Precisamos do melhor cirurgião cardíaco disponível, e rápido."

Todos os olhares se voltaram para mim.

"Ligue para sua mãe", ordenou meu pai, a voz dura. "Agora."

Meu coração afundou. Mesmo sabendo o que aconteceria, uma parte estúpida de mim ainda tinha uma faísca de esperança. Talvez, desta vez, fosse diferente. Talvez, desta vez, ela atendesse.

Peguei o celular, as mãos trêmulas. Disquei o número dela, o número que eu conhecia de cor, o número da mulher que me deu a vida e que estava prestes a tirar a do meu irmão.

            
            

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