O telefone chamou uma, duas, três vezes. A cada toque, a esperança idiota dentro de mim diminuía um pouco mais. O barulho da sala de espera parecia ter desaparecido. Eu só ouvia o som da chamada e o bater acelerado do meu próprio coração.
No quinto toque, ela atendeu. A voz dela estava relaxada, com o som de ondas quebrando ao fundo.
"Maria? Aconteceu alguma coisa? Estou meio ocupada."
Tentei manter minha voz firme.
"Mãe, é o Pedro. Ele foi baleado no protesto. Está no Hospital das Clínicas, em estado grave. A enfermeira disse que a bala está perto do coração. Eles precisam de você. Você é a melhor."
Houve uma pausa do outro lado da linha. Eu podia ouvi-la suspirar, um som de pura irritação.
"Maria, pelo amor de Deus, que drama. Quantas vezes eu já te disse para não exagerar? Os médicos da emergência são competentes. Tenho certeza de que é só um ferimento superficial."
A voz de Sofia apareceu ao fundo, alegre e despreocupada. "Mamãe, o moço do coco chegou! Vem!"
"Já vou, querida!", minha mãe respondeu para Sofia, e depois, de volta para mim, com a voz dura. "Olha, estou passando um dia raro e maravilhoso com a Sofia na praia. Não vou largar tudo e atravessar a cidade por causa de um ataque de histeria seu. Deixe os médicos fazerem o trabalho deles. Me ligue mais tarde quando tiver notícias de verdade."
"Mãe, não!", eu quase gritei, o desespero tomando conta de mim. "É sério! Ele pode morrer! Por favor, vem pra cá!"
"Chega, Maria! Não vou discutir. Tchau."
E ela desligou.
O silêncio que se seguiu foi pesado, mortal. Todos na sala de espera me encaravam, esperando.
"Ela... ela não acreditou em mim", gaguejei, olhando para o meu pai. "Ela disse que eu estava sendo dramática. Ela está na praia com a Sofia."
O rosto do meu pai se fechou em uma máscara de fúria e incredulidade. Ele arrancou o celular da minha mão e discou o número dela ele mesmo.
Eu observei enquanto ele tentava. Uma, duas, três, dez, quinze chamadas. Todas iam direto para a caixa postal. Ela tinha desligado o celular.
A cada tentativa fracassada, o pânico na sala de espera crescia. Meus avós andavam de um lado para o outro. Sofia continuava com seu teatro de preocupação, secando lágrimas que não existiam.
E eu? Eu estava sentada, paralisada. Eu já sabia que isso ia acontecer. Eu vivi isso. Mas ver a cena se repetir, ver a esperança no rosto do meu pai se transformar em desespero, era uma nova forma de tortura.
Uma hora se passou. Duas. O cirurgião de plantão, um homem jovem e visivelmente exausto, veio falar conosco.
"Fizemos o nosso melhor, mas o dano foi muito extenso. A hemorragia era incontrolável. Se tivéssemos alguém com a experiência da Dra. Lúcia... talvez...". Ele não precisou terminar a frase.
"Nós perdemos ele. Sinto muito."
As palavras caíram sobre a sala como uma sentença de morte.
Minha avó materna desmaiou. Meu avô paterno começou a socar a parede, gritando de dor e raiva. Meu pai ficou parado, congelado, o rosto sem expressão, como se sua alma tivesse deixado o corpo.
Pedro estava morto.
De novo.
E a culpa, mais uma vez, encontraria seu caminho até mim.