Ela deu-me o endereço de um apartamento de luxo em Copacabana.
"Por favor, vem rápido. Ele está com muitas dores."
Senti-me como um fantoche nas suas mãos. Que tipo de esposa era eu, a receber ordens da amante do meu marido? O nosso casamento era uma piada.
Mas o pensamento das mãos dele em perigo... as mãos de Léo...
Levantei-me, o meu corpo a protestar. Vesti-me mecanicamente. Lá fora, a chuva que se anunciava na noite anterior finalmente caía, torrencial.
Apanhei um táxi. A chuva batia contra o vidro, desfocando o mundo exterior.
Cheguei ao prédio luxuoso, encharcada e a tremer de frio. O porteiro, informado da minha chegada, deixou-me subir.
A porta do apartamento estava entreaberta. Entrei.
A cena que encontrei não era de um homem doente a precisar de cuidados.
Diogo estava no meio da sala, perfeitamente bem, rodeado de amigos e rindo. Estavam a jogar "Verdade ou Consequência". A sala estava cheia de fumo e do som de música alta.
Ele viu-me à porta. O seu sorriso desapareceu, substituído por uma expressão de desprezo.
"O que estás aqui a fazer?"
"A Isabella ligou-me," eu disse, a minha voz a falhar. "Ela disse que estavas a passar mal."
Isabella aproximou-se, um sorriso vitorioso nos lábios.
"Oh, querida. Foi só uma consequência do jogo. A consequência do Diogo era ver se a sua esposa submissa viria a correr se eu a chamasse."
As risadas encheram a sala. Os convidados olhavam para mim, para as minhas roupas simples e o meu cabelo molhado, e riam.
Senti o sangue a fugir do meu rosto. O meu corpo ficou gelado.
"É verdade, Diogo?" perguntei, olhando para ele.
Ele encolheu os ombros. "Foi só uma brincadeira, Sofia. Não sejas tão dramática."
Isabella pôs a mão no meu braço. A sua unha pintada de vermelho arranhou a minha pele.
"Vês? Eu disse que ela era submissa. Uma verdadeira cachorrinha."
Eu afastei a mão dela.
"Quem és tu para falar do meu casamento?"
Diogo interveio, a sua voz dura. "Isabella, para. Ela não entende estas coisas."
Isabella virou-se para mim, o seu rosto a contorcer-se numa máscara de falsa simpatia.
"Oh, Sofia, não fiques zangada. O Diogo só estava a mostrar aos amigos o quão dedicada tu és. Mas talvez devesses cuidar um pouco mais da tua aparência. Pareces tão... simples."
Ela olhou para as minhas roupas, depois para as dela, um vestido de seda caro que abraçava as suas curvas.
Confrontei Diogo diretamente. "O que se passa entre vocês os dois?"
"Não se passa nada," ele negou, mas os seus olhos não encontravam os meus. "Somos só amigos. Estás a imaginar coisas."
Isabella riu-se, uma risada baixa e cruel.
"Oh, Sofia, sê mais gentil com o teu marido. A confiança é a base de qualquer relacionamento."
Ela aproximou-se de mim, o seu hálito quente no meu ouvido.
"Ele dormiu comigo ontem à noite," ela sussurrou, as palavras um veneno lento. "Ele disse que o meu corpo o faz sentir vivo. Ao contrário do teu."
Uma fúria cega apoderou-se de mim. Empurrei-a.
Não a empurrei com força, mas ela era uma atriz. Cambaleou para trás, tropeçando nos seus próprios pés e caindo no chão com um grito dramático.
"Ai! O meu tornozelo!"
Diogo reagiu instantaneamente. Ele empurrou-me com força, fazendo-me bater contra a ombreira da porta. A minha cabeça bateu na madeira.
"Estás louca?" ele gritou, correndo para ajudar Isabella. "O que é que lhe fizeste?"
Ele ajoelhou-se ao lado dela, a sua preocupação palpável.
Isabella olhou para mim por cima do ombro dele, um sorriso triunfante no rosto.
"Está tudo bem, Diogo. Eu estou bem. A Sofia só está um pouco transtornada. Talvez seja melhor eu ir embora."
Ela levantou-se, mancando de forma exagerada, e saiu do apartamento, deixando-me a sós com a fúria de Diogo.
Senti algo quente a escorrer pela minha testa. Levei a mão à cabeça. Sangue.
Diogo olhou para o sangue na minha mão com nojo.
"Olha o que fizeste. Causaste uma cena. Estragaste a festa. Estás sempre a fazer isto."
Ele afastou-se de mim.
Ouvi os comentários dos outros convidados.
"Que esposa patética."
"Ele merece coisa melhor."
"Coitada da Isabella."
Fiquei ali, a sangrar, humilhada. Mas no fundo da minha mente, uma única pergunta ecoava.
Porquê? Porque é que eu ainda aguentava isto?
A resposta estava nas mãos dele. As mãos que agora confortavam outra mulher.
As mãos de Léo.