Do Adeus à Coroa: A Jornada de Sofia
img img Do Adeus à Coroa: A Jornada de Sofia img Capítulo 1
2
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
Capítulo 21 img
Capítulo 22 img
Capítulo 23 img
Capítulo 24 img
Capítulo 25 img
Capítulo 26 img
Capítulo 27 img
Capítulo 28 img
Capítulo 29 img
Capítulo 30 img
img
  /  1
img

Capítulo 1

Sofia Almeida olhou para as fotografias no seu telemóvel. Eram do Instagram de uma influencer chamada Carolina Viana.

As fotografias mostravam a Ilha da Madeira, com o seu sol radiante e mar azul. Numa delas, via-se a mão de um homem a segurar a de Carolina, e no pulso dele estava um relógio que Sofia reconheceu imediatamente.

Era o presente de aniversário que ela tinha dado ao seu marido, Diogo Monteiro.

Ele tinha-lhe dito que ia para uma conferência de negócios em Frankfurt.

Uma mentira.

Há três anos que estavam casados. Uma união de negócios para fortalecer as suas duas famílias, ambas gigantes na indústria do Vinho do Porto. Sofia sempre soube que não havia amor, mas pensava que havia, pelo menos, respeito e lealdade. Diogo era frio, distante, mas ela acreditava que ele não era como os outros homens do seu círculo, que colecionavam amantes como se fossem troféus.

Ela estava enganada.

A dor foi aguda, mas rápida. Foi substituída por uma frieza gelada que se espalhou pelo seu peito. Ela apagou as fotografias, bloqueou o perfil de Carolina e levantou-se.

Naquela noite, Sofia conduziu de sua casa no vale do Douro até Lisboa. Não disse a ninguém para onde ia. Deixou o seu carro de luxo num parque de estacionamento e apanhou um táxi para Alfama, o bairro antigo da cidade, conhecido pelas suas ruas estreitas e casas de Fado.

Entrou no primeiro bar que encontrou, um lugar pequeno e escuro, cheio de fumo e do som melancólico de uma guitarra portuguesa. Sentou-se ao balcão e pediu um copo de aguardente.

E depois outro. E mais outro.

A sua mente estava vazia, exceto pela imagem daquele relógio no pulso de outro homem. A sua carreira como fadista, destruída por um acidente que lhe danificou as cordas vocais, já lhe tinha ensinado o que era a perda. O seu casamento era apenas mais uma perda, mais uma desilusão.

"Mais um?"

A voz era jovem, um pouco rouca, com um toque de diversão.

Sofia ergueu a cabeça. O barman era um rapaz novo, talvez no início dos seus vintes. Tinha cabelo escuro e desarrumado, olhos brilhantes e um sorriso que parecia dizer que conhecia todos os segredos do mundo. Ele era bonito de uma forma perigosa.

Ela apenas acenou com a cabeça.

Ele encheu-lhe o copo.

"Beber sozinha não vai resolver os problemas."

disse ele, encostando-se ao balcão.

"Quem disse que tenho problemas?"

retorquiu Sofia, a sua voz mais áspera do que o habitual por causa da bebida.

"Ninguém precisa de dizer. Está escrito na sua cara. Uma mulher como você não vem para um bar como este em Alfama para beber aguardente barata a uma terça-feira à noite, a menos que esteja a fugir de alguma coisa."

Sofia riu, um som amargo.

"E o que é que um estudante sabe sobre mulheres como eu?"

Ele sorriu, um sorriso completo desta vez.

"Sou um estudante de História da Arte. Aprendo a observar os detalhes. E vejo uma mulher que usa um anel de casamento que vale mais do que este bar inteiro, mas que não tem o marido por perto."

O seu olhar desceu para a mão dela e depois voltou a subir para os seus olhos. Havia um desafio ali.

Sofia bebeu o resto da sua aguardente de um só gole. O álcool queimou-lhe a garganta. Ela olhou para o jovem barman, Tiago, como leu no seu crachá.

"Quanto queres para passar a noite comigo?"

A pergunta pairou no ar, crua e chocante.

O sorriso de Tiago vacilou por um segundo, mas recuperou rapidamente. Ele inclinou-se para mais perto, o seu hálito cheirava a menta e a algo mais, algo jovem e vivo.

"O meu turno acaba à meia-noite."

Na manhã seguinte, Sofia acordou num quarto de hotel barato perto do bar. A luz do sol entrava pela janela suja. Tiago dormia ao seu lado, o seu rosto relaxado e jovem no sono.

Ela levantou-se sem fazer barulho, vestiu-se e tirou uma grande quantidade de notas da sua carteira. Deixou o dinheiro na mesa de cabeceira. Não era um pagamento, era uma forma de apagar o que tinha acontecido, de transformar a noite numa simples transação.

Ela saiu do quarto sem olhar para trás.

De volta ao seu apartamento de luxo no Chiado, que mantinha em Lisboa, Sofia tomou um duche longo e quente, tentando lavar a noite anterior. Tentando lavar os três anos de casamento.

O seu telemóvel tocou. Era Diogo.

Ela atendeu, a sua voz fria e controlada.

"Olá, Diogo."

"Sofia. A conferência correu bem. Estou a voltar para casa. Trouxe-te um presente."

A sua voz era a mesma de sempre, calma, sem emoção. Como se ele não tivesse passado os últimos dias com outra mulher.

"Que bom."

disse ela.

"Estás bem? A tua voz parece estranha."

"Estou ótima. Apenas cansada."

Houve uma pausa.

"Ok. Vemo-nos em breve."

Ele desligou.

Sofia olhou para o seu reflexo no espelho. Os seus olhos estavam vazios. Ela pensou no rapaz no quarto de hotel, no dinheiro na mesa de cabeceira. E depois pensou em Diogo, no seu presente, na sua mentira.

Uma estranha calma apoderou-se dela. Pela primeira vez em três anos, sentia que o jogo estava equilibrado. Ele tinha a sua amante. E ela, por uma noite, teve a sua vingança.

Não era amor, não era nem sequer paixão. Era apenas... equilíbrio.

Nesse momento, a campainha tocou violentamente. Sofia franziu o sobrolho. Não estava à espera de ninguém. Ela foi até à porta e olhou pelo olho mágico.

Do outro lado estava Carolina Viana, a influencer. E ela não estava sozinha. Estava com um grupo de amigas, todas com expressões de raiva nos rostos.

Sofia abriu a porta.

"Posso ajudar?"

perguntou ela, a sua voz ainda fria como gelo.

Carolina olhou-a de cima a baixo com desprezo.

"És tu. A cabra que anda a tentar roubar o meu Diogo."

            
            

COPYRIGHT(©) 2022