Do Adeus à Coroa: A Jornada de Sofia
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Capítulo 3

A humilhação queimou mais do que qualquer ferida física. As palavras de Diogo ecoaram na sua mente, "já não tens idade para estas cenas". Como se ela fosse a culpada. Como se a sua dor fosse um mero espetáculo.

Sofia levantou-se lentamente, a sua dignidade a única coisa que lhe restava. Ela olhou diretamente para Diogo, ignorando Carolina, que se agarrava ao braço dele como um troféu.

"Um espetáculo, Diogo? É assim que chamas a isto?"

A sua voz era calma, mas carregada de um desprezo gelado.

Diogo evitou o seu olhar. A sua prioridade era claramente acalmar a sua amante chorosa.

"Vamos, Carolina. Vou levar-te para casa."

Ele virou-se para sair, levando Carolina com ele. Na porta, ele parou e olhou para trás, para Sofia.

"Limpa esta confusão."

disse ele, como se estivesse a falar com uma empregada.

E depois foram-se embora.

Sofia ficou sozinha no meio da sua sala de estar virada do avesso, o seu telemóvel estilhaçado no chão. Ela ouviu-os a descer o corredor, a voz suave de Diogo a consolar Carolina. O som era mais doloroso do que qualquer grito.

Ela não chorou. As lágrimas pareciam um luxo que ela não podia pagar. Em vez disso, uma raiva fria e calculista tomou conta dela.

Ela pegou no seu computador portátil, encontrou o número da esquadra de polícia mais próxima e ligou. Relatou a invasão de domicílio e a agressão, dando os nomes completos de Carolina Viana e das suas amigas.

Uma hora depois, Carolina e as suas cúmplices foram detidas.

A notícia espalhou-se como fogo no mundo da alta sociedade de Lisboa e do Porto. Sofia Almeida Monteiro tinha mandado prender a amante do seu marido. Foi um escândalo. Naquele mundo, as esposas deviam tolerar as infidelidades em silêncio, manter as aparências. Sofia tinha quebrado as regras não escritas.

O seu pai ligou-lhe, furioso com a publicidade negativa para o nome da família.

"O que é que tinhas na cabeça, Sofia? Devias ter aguentado!"

"Aguentado o quê, pai? Ser espancada na minha própria casa?"

"Isso resolve-se em privado! Não se chama a polícia! Pensa na reputação!"

Sofia desligou-lhe o telefone na cara.

Nos dias que se seguiram, Diogo não lhe ligou. Não perguntou se ela estava bem. Não mencionou o ataque. Era como se nada tivesse acontecido. Era como se ela não existisse.

A única comunicação que teve dele foi através do seu advogado. Diogo estava a pagar a fiança e os melhores advogados para Carolina.

Uma noite, ele apareceu no apartamento. Não para se desculpar, mas para fazer uma proposta.

"Retira a queixa contra a Carolina."

disse ele, sem rodeios.

Sofia olhou para ele, sentada no sofá, um copo de vinho na mão.

"Porque é que eu faria isso?"

"Porque se o fizeres, convenço o meu pai a aprovar a expansão da nossa adega para o mercado asiático. É algo que o teu pai quer há anos."

Ele estava a tentar suborná-la. A usar os negócios da família dela para proteger a sua amante.

"A liberdade da tua amante vale assim tanto?"

perguntou ela, a voz tingida de ironia.

Diogo deu de ombros, indiferente.

"Ela é jovem, comete erros. E esta situação está a ser um incómodo."

Ele sentou-se na poltrona em frente a ela, o retrato de um homem poderoso e sem remorsos.

"Olha, Sofia, vamos ser práticos. O nosso casamento é um acordo de negócios. Sempre foi. Eu não me meto na tua vida, tu não te metes na minha. Se te sentes sozinha, arranja um amante. Muitos homens gostariam de estar contigo. Desde que sejas discreta, eu não me importo."

As palavras dele atingiram-na com a força de um soco. Ele não só admitia a sua traição, como a incentivava a fazer o mesmo. Ele não se importava com ela, nem um pouco. A sua lealdade, a sua dignidade, não significavam nada para ele.

"E se eu não me importar de ser indiscreta?"

perguntou ela, a sua voz a tremer ligeiramente.

Diogo olhou para ela pela primeira vez com um vislumbre de emoção: irritação.

"Não sejas estúpida, Sofia. Não queiras estragar um bom negócio para todos."

Ela sentiu um zumbido nos ouvidos. O mundo parecia distante. O homem à sua frente era um estranho. Um estranho cruel e egoísta.

Ela não respondeu. Apenas continuou a beber o seu vinho, o líquido amargo a condizer com o sabor que tinha na boca.

Diogo levantou-se, impaciente com o seu silêncio.

"Pensa na minha proposta."

disse ele, e saiu.

Mais tarde naquela noite, enquanto estava deitada na cama, o seu telemóvel novo vibrou. Era um número desconhecido.

Uma mensagem de texto.

"Ainda a beber sozinha? Se precisares de companhia, sei de um barman barato que está disponível."

Era Tiago.

Sofia apagou a mensagem, o seu coração a bater um pouco mais depressa. A sugestão de Diogo ecoava na sua cabeça. "Arranja um amante."

Talvez ele tivesse razão. Talvez fosse altura de parar de jogar segundo as regras dele e começar a criar as suas próprias.

            
            

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