A acusação era tão absurda que Sofia quase se riu.
"O teu Diogo?"
repetiu ela, com uma calma que enfureceu ainda mais Carolina.
"Eu sou Sofia Almeida Monteiro. A esposa dele."
Uma das amigas de Carolina bufou.
"Esposa? Uma esposa que ele não ama. Uma esposa que ele deixa sozinha enquanto vem ter comigo. Ele ama-me a mim!"
Carolina deu um passo em frente, invadindo o espaço pessoal de Sofia.
"Se não fosses tu, ele já se teria divorciado. Estás a agarrar-te a ele por causa do dinheiro da família dele, não é, sua vadia interesseira?"
Sofia recuou um passo, não por medo, mas por puro nojo. A situação era surreal. A amante do seu marido estava à sua porta, a acusá-la de ser a outra mulher.
"Saiam da minha casa."
disse Sofia, a sua voz baixa e perigosa. Ela pegou no telemóvel para ligar para a segurança do prédio.
Carolina foi mais rápida. Arrancou-lhe o telemóvel da mão e atirou-o ao chão, onde o ecrã se estilhaçou.
"Ligar para quem? Ninguém te vai ajudar. O Diogo disse-me que não se importa contigo. Disse que és fria e aborrecida. Um pedaço de gelo."
As amigas de Carolina riram-se, um som agudo e maldoso. Elas entraram no apartamento, empurrando Sofia para o lado.
"Vamos dar uma lição a esta cabra."
disse uma delas.
Sofia tropeçou e caiu no chão de mármore polido. A dor no seu quadril foi aguda.
"O que é que vocês pensam que estão a fazer?"
gritou ela, tentando levantar-se.
Mas elas eram demasiadas. Duas delas seguraram-na pelos braços enquanto Carolina se agachava à sua frente, um sorriso triunfante no rosto.
"Vês? Ninguém te quer. És a esposa, mas és tu que estás a ser tratada como lixo. Porque ele ama-me a mim."
Carolina agarrou no cabelo de Sofia e puxou-lhe a cabeça para trás com força.
"Ele compra-me presentes. Leva-me a viajar. Diz-me que sou a sua musa."
Cada palavra era uma bofetada. Sofia olhava para o rosto de Carolina, um rosto jovem e bonito, mas distorcido pela arrogância e pela crueldade. E viu algo mais. Viu que Carolina estava a tentar imitar o seu próprio estilo de quando era mais nova, a forma como usava o cabelo, a maquilhagem, até a forma como falava.
Era patético. E doloroso.
"Ele comprou-me este colar."
disse Carolina, apontando para a joia que brilhava no seu pescoço.
"Custou uma fortuna. O que é que ele te comprou ultimamente, Sofia? Além de solidão?"
Uma das amigas deu um pontapé nas costas de Sofia. Outra cuspiu-lhe no chão, perto do seu rosto.
A humilhação era pior do que a dor física. Ser atacada na sua própria casa, pela amante do seu marido, que agia como se fosse a vítima.
"Parem!"
Uma voz masculina, fria e autoritária, cortou o ar.
Todas se viraram. Diogo estava parado à porta, a sua expressão indecifrável. Tinha a chave do apartamento.
Carolina soltou imediatamente o cabelo de Sofia e correu para ele, os seus olhos cheios de lágrimas de crocodilo.
"Diogo! Ainda bem que chegaste! Esta mulher... ela atacou-me! Ela disse coisas horríveis sobre nós!"
Diogo olhou para Carolina, depois para Sofia, ainda no chão, com o cabelo desgrenhado e a roupa amarrotada. Havia um silêncio tenso.
Sofia esperava que ele as expulsasse. Esperava que ele a defendesse. Afinal, ela era a sua esposa. Aquela era a sua casa.
Mas o que ele fez a seguir quebrou a última réstia de esperança que ela tinha.
Ele estendeu a mão e ajudou Carolina a levantar-se. Ignorou completamente Sofia.
"Está tudo bem, Carolina. Acalma-te."
disse ele, a sua voz suave de uma forma que Sofia nunca a tinha ouvido.
Sofia olhou para ele, incrédula.
"Diogo?"
A sua voz era um sussurro.
Ele finalmente olhou para ela, mas o seu olhar era frio, irritado.
"Sofia, o que é isto? Já não tens idade para estas cenas. Levanta-te e para de fazer um espetáculo."
O mundo de Sofia desabou.
Ele não a estava a defender. Ele estava a defender a amante dele. Na frente dela. Na casa dela.
Ele estava a escolher Carolina.