Um Amor Contra o Destino
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Capítulo 2

Uma pontada aguda e violenta atravessou o estômago de Clara, fazendo-a dobrar-se de dor. Ela pressionou a mão contra o abdômen, o ar faltando em seus pulmões. A dor era um velho conhecido, mas hoje ela parecia mais forte, mais insistente. Trêmula, ela se arrastou até o armário do banheiro, os dedos desajeitados tentando abrir o frasco de analgésicos. As pílulas caíram na pia, e ela as pegou com as mãos trêmulas, engolindo-as a seco.

Ela se apoiou na pia, ofegante, olhando seu reflexo no espelho. O rosto estava pálido, os olhos fundos, a pele fina demais sobre os ossos. A doença a estava consumindo por dentro, deixando apenas uma casca vazia.

Naquele momento de fraqueza, o celular tocou. O nome "Heitor" brilhava na tela. Por um instante, toda a sua fachada de indiferença desmoronou. A dor física e o desespero emocional se fundiram, e ela atendeu, a voz saindo como um soluço infantil.

"Heitor..." ela choramingou, um som que ela não emitia há anos. "Meu estômago dói tanto... dói muito..." Era um apelo desesperado por conforto, uma regressão a um tempo em que ele era seu porto seguro.

Houve um silêncio do outro lado da linha, seguido por um som de movimento apressado. "Onde você está? Fique aí, não se mexa. Estou indo para casa." A voz dele, geralmente fria e cortante, tinha um tom de urgência, de preocupação genuína.

Vinte minutos depois, a porta da frente se abriu com um estrondo. Heitor entrou correndo, o rosto marcado pela ansiedade. Ele a encontrou encolhida no chão do banheiro. Por um momento, o homem frio e vingativo desapareceu, dando lugar ao jovem preocupado que ela conhecia.

"Clara! O que aconteceu?" Ele se ajoelhou ao lado dela, tocando sua testa para verificar a febre. Ele a pegou no colo com facilidade e a levou para a cama, cobrindo-a com o edredom. Ele foi até a cozinha e voltou com um copo de água morna e um prato de mingau de arroz, a única coisa que ela conseguia comer quando as crises eram fortes. Era o mesmo mingau que ele costumava fazer para ela na faculdade.

Aquele gesto de cuidado, tão familiar, foi um golpe doloroso. A memória do calor do passado invadiu o frio do presente, e Clara sentiu os olhos arderem. Mas ela não podia ceder. Ela precisava mantê-lo afastado.

Quando ele se sentou na beira da cama para alimentá-la, ela afastou o rosto. "Não preciso da sua pena," ela disse, a voz deliberadamente ríspida. "Você não estava ocupado com sua nova namorada? Por que se dar ao trabalho de voltar?"

A preocupação no rosto de Heitor se transformou em uma máscara de raiva. A lembrança da traição dele, da dor que ela sentiu, alimentou a crueldade dela.

"Você sempre sabe como estragar tudo, não é, Clara?" ele rosnou, a voz baixa e perigosa.

"É o que eu faço de melhor," ela retrucou, um sorriso zombeteiro nos lábios. "Afinal, foi por isso que você se casou comigo, não foi? Para que eu pudesse te fazer infeliz todos os dias."

A raiva de Heitor explodiu. Ele se levantou abruptamente, o prato de mingau escorregando de suas mãos e se espatifando no chão. O som do vidro quebrando ecoou no silêncio tenso do quarto. "Às vezes, eu realmente odeio você," ele disse, a voz carregada de uma fúria impotente.

Ele se virou e saiu do quarto, batendo a porta com força. Momentos depois, ela ouviu o som do motor do carro dele se afastando.

Sozinha novamente, Clara sentiu um alívio amargo. Ele tinha ido embora. Era o que ela queria, o que ela precisava. Ela não podia deixá-lo ver o quão doente ela realmente estava. Ela não podia deixá-lo descobrir a verdade. O ódio dele era a armadura dela, a única coisa que o manteria seguro quando ela finalmente se fosse.

Os dias que se seguiram foram um borrão de dor e medicação. As crises se tornaram mais frequentes, e ela aumentou a dose dos analgésicos, escondendo os frascos vazios no fundo da lixeira. Heitor continuou sua tortura emocional. Ele não trazia mais mulheres para casa, mas falava delas constantemente. Ele descrevia seus encontros em detalhes, seus presentes caros, as noites que passavam juntos. Cada palavra era um pequeno corte.

O motorista particular dele, um homem mais velho e gentil chamado Jonas, às vezes a olhava pelo espelho retrovisor com um olhar de compaixão. "Senhora," ele disse um dia, a voz baixa. "O senhor Heitor... ele não era assim antes. Ele a amava muito."

Clara apenas olhou pela janela, observando a cidade passar. "As pessoas mudam, Jonas," ela respondeu, a voz sem emoção. Ela sabia que Heitor a amava. Era exatamente por isso que ele a odiava tanto agora.

            
            

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