A televisão no canto da área comum da prisão transmitia as notícias com uma indiferença cruel. Foi assim que ela soube. Uma manchete fria e impessoal anunciou o "suicídio" de um casal em sua casa, atormentado pela vergonha depois que a filha única foi condenada por sabotagem e homicídio culposo. Seus pais. Honestos, trabalhadores, o porto seguro de Isabela. Destruídos.
A dor era uma coisa física, uma pressão esmagadora em seu peito que a deixava sem ar. Mas o golpe final ainda estava por vir.
Lucas apareceu no dia de visita, não com o olhar de um namorado de luto, mas com um brilho vitorioso nos olhos. Ele se sentou do outro lado do vidro, o sorriso cruel que assombraria Isabela para sempre estampado em seu rosto.
"Eu disse que você pagaria", ele sibilou, sua voz distorcida pelo telefone.
Ele ergueu um tablet, pressionando o play. A tela se iluminou com a imagem granulada de uma câmera de segurança. A sala de estar de seus pais. A mesa com duas cartas. A corda. Isabela gritou, um som gutural de pura agonia, batendo no vidro até seus nós dos dedos sangrarem. Lucas apenas assistiu, saboreando cada segundo de seu sofrimento.
Aquela imagem foi a última coisa que ela viu antes de sucumbir à escuridão. O peso da injustiça, da traição e da perda foi demais. Na solidão de sua cela, seu coração simplesmente desistiu.
...
Um raio de sol forte atingiu seus olhos. Isabela piscou, confusa. O cheiro não era de mofo, mas de lençóis limpos e do perfume suave de sua mãe. Ela se sentou abruptamente, o coração martelando contra as costelas. As paredes eram rosa claro, cobertas com pôsteres de times de futebol. Seu quarto. O quarto de sua adolescência.
Ela olhou para as mãos. Lisas, sem calos ou cicatrizes da prisão. Seu corpo estava leve, forte. Ela correu para o espelho. A garota que a encarava de volta tinha dezoito anos, os olhos brilhantes de esperança, a pele impecável. Não havia sinal da mulher quebrada e vazia que ela havia se tornado.
Seu celular vibrou na mesinha de cabeceira. O nome na tela fez seu sangue gelar.
"Lucas".
Com as mãos trêmulas, ela olhou a data. Um dia antes da fatídica audição de Lucas. Um dia antes do "aniversário" de Mariana. Um dia antes do início do fim.
Ela não estava morta. Ela havia renascido. Uma onda de alívio tão intensa a atingiu que suas pernas cederam, e ela caiu de joelhos, chorando silenciosamente. Não eram lágrimas de dor, mas de uma gratidão avassaladora. Ela tinha uma segunda chance. Uma chance de salvar seus pais. Uma chance de se salvar.
O telefone continuou a vibrar. Desta vez, ela atendeu, a voz fria e controlada.
"Alô?"
"Isa! Finalmente! Onde você está? Estou tão animado para amanhã!" A voz de Lucas era a mesma, cheia de um otimismo ingênuo que agora soava para ela como pura estupidez.
Na vida passada, ela teria compartilhado de sua excitação, oferecido palavras de encorajamento. Agora, ela sentia apenas um vazio gelado.
"Estou em casa", respondeu ela, seca.
Houve uma pausa. "Em casa? O que aconteceu? Você está brava com alguma coisa?"
Ao fundo, ela ouviu risadas. A voz de um dos amigos de Lucas, Felipe, soou clara: "Ih, Lucas, a patroa tá de coleira curta, hein? Ciumenta como sempre."
Outra voz, a de Mariana, se sobrepôs, melosa e falsa. "Deixa ela, Felipe. A Isa só se preocupa com o Lucas. É fofo."
Na vida passada, essas palavras a teriam ferido, a teriam feito se defender. Agora, elas eram apenas ruído branco. A raiva era uma emoção quente, e tudo o que Isabela sentia era gelo.
"Lucas, sua audição é amanhã de manhã," ela disse, sua voz monótona. "Você deveria estar descansando."
"Eu sei, eu sei! Mas a Mari está dando uma festa de 'pré-celebração' do meu sucesso! E é aniversário dela, não posso fazer essa desfeita. Vai ser rápido, eu prometo," ele disse, a empolgação em sua voz a enojava. "Você deveria vir! Vamos comemorar juntos!"
Comemorar. Ele não tinha ideia de que estava caminhando direto para a armadilha que arruinaria sua carreira antes mesmo de começar. E desta vez, Isabela não moveria um dedo para impedi-lo.
"Não, obrigada. Tenho mais o que fazer," ela disse.
Antes que ele pudesse responder, ela ouviu Mariana sussurrar ao fundo, apenas alto o suficiente para ser ouvida: "Eu já falei com o produtor, ele adora a ideia. Disse que um músico que sabe se divertir tem mais 'personalidade'. A gente só precisa garantir que você beba o suficiente para relaxar de verdade antes de amanhã..."
A confirmação. A prova da sabotagem, dita com uma naturalidade assustadora. Na vida passada, ela teria gritado, confrontado Lucas, implorado para ele ouvir. Teria sido acusada de ciúme, teria iniciado a briga que levou a todo o resto.
Desta vez, um sorriso frio tocou os lábios de Isabela. Ela não disse nada. Apenas desligou a chamada, o clique do encerramento soando como o primeiro prego no caixão do futuro de Lucas. Ela não iria intervir. Ela não seria a salvadora. Ela seria a espectadora.
E ela iria aproveitar cada segundo da queda dele. A lei do retorno, afinal, podia ser lenta, mas era implacável. E ela estava de volta para garantir que a conta dele chegasse.
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