Renascida para Amar de Novo
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Capítulo 2

Isabela olhou ao redor do quarto de Lucas. Era um santuário para a ambição dele, com guitarras penduradas na parede e partituras espalhadas pela escrivaninha. Ela esteve ali inúmeras vezes, apoiando seus sonhos, ouvindo suas composições. Agora, o lugar a sufocava. Ela precisava sair.

Ela começou a juntar suas coisas metodicamente: um livro que estava lendo, seu carregador de celular, um moletom que havia esquecido ali. Cada item era um elo com um passado que ela queria apagar. Ela enfiou tudo em sua mochila, o movimento rápido e decidido. Seu objetivo era um só: pegar o que era seu e desaparecer da vida dele antes que a noite caísse.

Quando estava prestes a sair pela porta, Lucas entrou, o celular ainda na mão, uma expressão de irritação no rosto.

"O que você pensa que está fazendo desligando na minha cara?" ele perguntou, bloqueando a passagem.

"Estou indo embora, Lucas," ela disse calmamente, tentando passar por ele.

Ele a segurou pelo braço. "Indo embora? Por quê? Por causa de uma festa? Isa, não seja infantil."

"Não tem nada a ver com a festa. Apenas... acabou."

A confusão no rosto dele rapidamente se transformou em raiva. Ele viu a mochila nas costas dela. Com um movimento brusco, ele a arrancou de seus ombros, o conteúdo se espalhando pelo chão.

"Acabou? Você não pode simplesmente terminar comigo na véspera do dia mais importante da minha vida!"

No meio dos itens espalhados, um papel dobrado chamou sua atenção. A ficha de inscrição de Isabela para a seletiva de um time de futebol profissional. A seletiva era em dois dias. Era o sonho dela, a razão pela qual ela treinava incansavelmente desde criança.

Lucas a pegou, seus olhos se estreitando. "O que é isso?"

"É a minha ficha de inscrição para a seletiva. Devolva, Lucas. É importante," ela disse, sua voz finalmente vacilando. Aquele pedaço de papel era seu futuro.

Ele riu, um som amargo e debochado. "Sua seletiva? É por isso que você está assim? Porque eu tenho a minha audição e você não quer que eu tenha meu momento de brilhar?"

Mariana, que o havia seguido para dentro do quarto, colocou a mão no ombro dele. "Lucas, querido, não se estresse com isso. Ela só está tentando tirar o foco de você. É o que pessoas invejosas fazem."

Os amigos dele, Felipe e Rodrigo, concordaram, parados na porta como um coro de idiotas.

"É, cara," disse Felipe. "Ela sempre quer ser o centro das atenções. Deixa essa garota pra lá e vamos pra festa. A Mari preparou tudo pra você."

"Devolve o meu formulário, Lucas," Isabela implorou, o desespero começando a corroer sua calma. "Por favor. Significa tudo para mim."

Ver o desespero dela pareceu alimentar a crueldade dele. Manipulado por Mariana e incentivado por seus amigos, Lucas olhou para o papel em suas mãos e depois para Isabela, um brilho feio em seus olhos.

"Você quer tanto assim? Então pegue."

Com um movimento deliberado e cruel, ele rasgou a ficha de inscrição ao meio. E depois de novo. E de novo. O som do papel sendo rasgado ecoou no silêncio do quarto, cada rasgo um golpe no coração de Isabela. Ele deixou os pedaços esvoaçarem até o chão, como confete em uma celebração macabra.

Isabela ficou paralisada, olhando para os fragmentos de seu sonho espalhados a seus pés. Uma dor aguda, mais profunda do que qualquer ferida física, a atravessou. Naquele momento, qualquer resquício de afeto que ela pudesse ter por ele se desintegrou, transformando-se em pó e cinzas.

Ela não chorou. Não gritou. Ela apenas levantou os olhos e o encarou, e o que ele viu ali o fez recuar um passo. Não era tristeza. Era um vazio gelado, uma promessa silenciosa de retribuição.

Lentamente, ela se ajoelhou, ignorando os pedaços da ficha. Juntou seu livro, seu carregador, seu moletom. Colocou tudo de volta na mochila. Levantou-se, o rosto uma máscara impenetrável.

"Tudo bem," ela disse, a voz surpreendentemente firme. "Você fez sua escolha."

Ela se virou e saiu do quarto, passando por Mariana e pelos outros como se eles não existissem. Lucas ficou ali, no meio dos pedaços de papel, uma sensação desconfortável de que ele não tinha apenas rasgado um formulário, mas sim destruído algo que ele nunca mais conseguiria consertar.

Assim que Isabela estava na rua, longe daquela casa tóxica, ela pegou seu celular. Ela não ligou para reclamar com amigas. Ela não postou nada nas redes sociais. Ela ligou para a única pessoa que importava.

"Pai?" sua voz embargou pela primeira vez.

"Isa? Filha, o que foi? Aconteceu alguma coisa?" a voz calorosa de seu pai a envolveu como um abraço.

"Ele... ele rasgou minha ficha de inscrição," ela sussurrou, a primeira lágrima escorrendo por seu rosto.

Houve um silêncio do outro lado, e então a voz calma de sua mãe. "Onde você está, querida? Venha para casa. A gente dá um jeito. Sempre tem um plano B. Nós estamos aqui com você."

O calor daquelas palavras era o antídoto para o veneno que Lucas havia injetado em sua vida. Ela enxugou a lágrima com as costas da mão. Sim, ela tinha um plano B. Ela tinha uma cópia digital da ficha salva em seu email. Ela não precisava daquele papel. Mas Lucas não sabia disso.

Ele a havia subestimado. Havia subestimado o amor de sua família. E ele pagaria caro por isso. Muito caro.

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