Isabela ficou paralisada, o ar preso em seus pulmões. A acusação de Lucas era tão vil, tão distorcida da realidade, que seu cérebro demorou um segundo para processar. A multidão ao redor começou a murmurar, os olhares de pena se transformando em suspeita e hostilidade.
Antes que Lucas pudesse dar mais um passo, o pai de Isabela, Ricardo, se moveu. Ele se postou na frente da filha, um escudo humano protetor. Seu rosto, normalmente gentil, estava endurecido pela raiva.
"Que absurdo é esse que você está falando, Lucas?" sua voz era um trovão baixo e controlado. "Peça desculpas à minha filha agora mesmo."
Lucas, encurralado por sua própria mentira e alimentado pela adrenalina da raiva, não recuou. Ele viu o pai de Isabela não como uma figura de autoridade, mas como mais um obstáculo.
"Saia da minha frente, seu velho!" Lucas gritou, e com uma força nascida do desespero, ele empurrou Ricardo com as duas mãos no peito.
Foi um empurrão brutal e inesperado. Ricardo, pego de surpresa, perdeu o equilíbrio. Seus pés se enroscaram e ele caiu para trás, sua cabeça batendo com um som oco e doentio na borda de um banco de mármore.
O tempo pareceu congelar.
Um filete de sangue começou a escorrer da parte de trás da cabeça de Ricardo, manchando o chão branco de vermelho vivo.
A mãe de Isabela gritou, um som agudo de puro terror, e se ajoelhou ao lado do marido. "Ricardo! Meu amor!"
A visão do sangue quebrou o feitiço. A multidão explodiu. Mariana, vendo sua oportunidade, começou a gritar, apontando para Isabela.
"Ela o deixou louco! Ela o provocou! Olhem o que ela fez! A família dela é violenta!"
As palavras dela foram a faísca que incendiou o barril de pólvora. A raiva e a frustração da multidão, antes sem direção, agora tinham um alvo claro.
"Monstro!" alguém gritou.
"Ciumenta doentia!" gritou outro.
"Prendam essa garota!"
As pessoas começaram a avançar, um monstro de muitas cabeças movido pela histeria coletiva. Alguém jogou um copo de café, que se espatifou perto dos pés de Isabela, respingando líquido quente em sua calça. O linchamento virtual das redes sociais estava se tornando real, físico e perigoso.
Isabela, ajoelhada ao lado de seu pai, tentando estancar o sangramento com as mãos, olhou para cima. Em meio ao caos, seus olhos encontraram os de Lucas. E ela viu. Por trás da máscara de falsa indignação, ela viu um brilho de triunfo. O mesmo sorriso cruel da prisão, o mesmo prazer sádico em ver o sofrimento dela e de sua família.
Ele sabia que seu pai estava ferido. E ele estava gostando.
Naquele instante, toda a dor se transformou em uma fúria fria e cristalina. O medo se foi, substituído por uma determinação de aço. Ela não seria a vítima. Não de novo. Seus pais não sofreriam por causa dele. Não desta vez.
Com um movimento calmo e deliberado que contrastava com a anarquia ao seu redor, Isabela pegou o celular do bolso. Sua mão estava firme. Seus dedos deslizaram pela tela, encontrando o arquivo que ela havia preparado.
Ela não disse uma palavra. Apenas aumentou o volume ao máximo e pressionou o play.
O caos era ensurdecedor. O ódio era palpável. Mas a verdade estava prestes a gritar mais alto.
---