"Eu sei que errei," ele disse, enquanto servia o vinho. "Mas eu quero consertar as coisas. Eu te amo, Maria Antônia."
Ela provou a comida. Estava tecnicamente correta, mas sem alma. Faltava a paixão, o toque que só ela sabia dar.
Era uma imitação barata, assim como o amor que ele agora professava.
No final do jantar, ele lhe entregou outro presente.
"Eu sei que você adora arte moderna," ele disse, sorrindo, claramente orgulhoso de si mesmo.
Ela abriu a caixa e encontrou uma gravura.
Era uma peça abstrata, cheia de cores vibrantes e formas agressivas.
Era o tipo de arte que ela detestava.
Ela sempre preferiu a sutileza do impressionismo, as paisagens serenas, a luz suave. Ricardo, depois de todos aqueles anos, ainda não a conhecia de verdade.
Ou talvez, ele simplesmente não se importava o suficiente para lembrar.
"É... interessante," ela disse, a voz neutra.
O sorriso dele vacilou.
Naquele momento, o celular dele tocou.
O nome de Leo brilhou na tela mais uma vez.
Ricardo olhou para o celular, depois para ela, o pânico retornando.
"Eu preciso atender. É sobre trabalho," ele mentiu, levantando-se apressadamente.
Ele foi para o escritório, fechando a porta atrás de si.
Mas Maria Antônia não ficou sentada esperando.
A suspeita, agora uma certeza amarga, a impulsionou.
Ela pegou as chaves do carro e saiu silenciosamente pela porta dos fundos.
Esperou na rua escura até vê-lo sair apressado, entrar em seu carro e acelerar.
Ela o seguiu.
A perseguição não foi longa.
Ricardo não foi para o escritório, nem para um bar, nem para a casa de um amigo.
Ele foi para o ateliê de Leo.
Um espaço amplo e moderno em um bairro industrial chique.
Maria Antônia estacionou do outro lado da rua, o coração martelando contra as costelas.
As luzes do ateliê estavam acesas, e as enormes janelas de vidro ofereciam uma visão clara do interior.
Ela não precisou esperar muito.
A cena que se desenrolou diante de seus olhos foi mais explícita e devastadora do que qualquer coisa que ela pudesse ter imaginado.
Ela viu Ricardo pressionar Leo contra uma tela recém-pintada, as tintas frescas manchando suas roupas caras.
Ela viu as mãos dele nos cabelos de Leo, o beijo desesperado, faminto.
Não era consolo. Não era ajuda.
Era desejo.
Era traição em sua forma mais crua e inegável.
Leo riu, um som que Maria Antônia quase pôde ouvir do outro lado da rua, e o puxou para mais perto, os corpos se movendo em uma dança de paixão ilícita.
Maria Antônia sentiu o ar faltar em seus pulmões.
A náusea voltou, mais forte do que nunca.
Ela desviou o olhar, incapaz de suportar mais.
Uma dor oca e profunda se instalou em seu peito, mas não havia lágrimas.
As lágrimas haviam secado.
Em seu lugar, havia uma resolução fria como o aço.
Ela ligou o carro e dirigiu, não para casa, mas para o centro da cidade.
Parou em frente a uma loja de penhores 24 horas.
Entrou e, sem hesitar, tirou o colar de diamantes que Ricardo lhe dera do pescoço.
Colocou-o sobre o balcão.
Depois, tirou a aliança de casamento de seu dedo.
Colocou-a ao lado do colar.
"Quanto você me dá por isso?" ela perguntou ao homem sonolento atrás do balcão.
Ele examinou as peças, os olhos brilhando com a ganância.
Ele ofereceu um valor que era uma fração do que valiam.
"Eu aceito," ela disse, sem negociar.
Ela não queria o dinheiro.
Ela queria o ato.
O simbolismo de se desfazer daqueles objetos, de transformar os símbolos do amor e do compromisso deles em mero dinheiro sujo.
Ela assinou os papéis, pegou o maço de notas e saiu da loja, sentindo-se um pouco mais leve.
Era o primeiro passo para cortar os laços, para apagar o passado.
Ela não olhou para trás.
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