Ricardo só notou a ausência do colar e da aliança no dia seguinte.
O pânico em seu rosto era quase cômico.
"Onde estão suas joias? O colar que eu te dei? Sua aliança?"
A voz dele era um fio de desespero.
Maria Antônia, que estava tomando café tranquilamente, deu de ombros.
"Acho que perdi. Talvez no passeio de barco. Ou talvez tenham roubado no hospital."
A explicação era tão esfarrapada, tão obviamente falsa, mas Ricardo se agarrou a ela como um náufrago a um pedaço de madeira.
"Perdeu? Como assim, perdeu? Nós vamos encontrar! Vou comprar outras, melhores!"
Ele preferia acreditar em uma mentira conveniente a enfrentar a verdade devastadora.
A verdade de que ela estava se desfazendo dele, pedaço por pedaço.
Nos dias seguintes, ele iniciou uma campanha patética de reconquista.
Carros de luxo apareciam na porta, com bilhetes implorando por seu amor.
Vestidos de alta costura, bolsas de grife, sapatos caríssimos.
Ele estava tentando soterrá-la em presentes, como se o amor pudesse ser medido em extratos de cartão de crédito.
Maria Antônia observava o espetáculo com um distanciamento clínico.
Ela percebeu, com uma clareza assustadora, que o método dele era exatamente o mesmo.
Ele a cobria de luxos para acalmar a própria culpa, da mesma forma que provavelmente fazia com Leo.
Comprava o silêncio, a cumplicidade.
Ela era apenas mais uma transação em sua vida conturbada.
Uma tarde, enquanto ela estava na sala de estar, lendo, ouviu a voz de Ricardo no escritório, alterada.
Ele estava no telefone, obviamente com Leo.
"Eu já te disse que não posso! Ela está em casa! Leo, por favor, não faça isso!"
Houve uma pausa. A voz de Ricardo se tornou um sussurro suplicante.
"Não, não ameace fazer isso de novo. Eu vou. Me dê uma hora. Apenas uma hora."
Ele desligou, o rosto pálido.
Poucos minutos depois, o celular dela apitou. Uma mensagem de Ricardo.
"Querida, tive uma emergência na empresa. Reunião de última hora. Não me espere para o jantar. Beijos."
A mentira descarada a fez sorrir. Um sorriso sem alegria, cheio de desprezo.
Ele achava que ela era estúpida.
Ela já não sentia mais dor. Apenas um tédio profundo.
Ela subiu para o quarto, decidida a acelerar seus planos.
Foi ao closet de Ricardo, procurar por seu passaporte.
Ao remexer em uma gaveta de meias, seus dedos tocaram em algo duro.
Um pen drive.
Curiosa, ela o pegou e conectou ao seu laptop.
O conteúdo do arquivo a fez prender a respiração.
Era um vídeo.
A qualidade era amadora, claramente gravada com um celular.
A cena era o ateliê de Leo.
Ricardo e Leo, juntos.
O vídeo mostrava atos de uma intimidade explícita, de uma depravação que fez o estômago de Maria Antônia se contrair violentamente.
Ela correu para o banheiro e vomitou.
Vomitou a traição, a mentira, a sujeira que havia contaminado sua vida.
Enquanto se recompunha, limpando o rosto com as mãos trêmulas, seu celular apitou novamente.
Era uma notificação do banco.
Uma transferência de uma quantia astronômica havia caído em sua conta.
Lucas.
Ele havia concluído a transação.
A venda de suas ações da empresa de Ricardo para o maior rival dele estava finalizada.
O acordo estava selado.
Ela estava livre. E rica.
Com uma nova onda de determinação, ela pegou uma mala.
Começou a enchê-la com suas roupas, seus pertences, sua vida.
Não havia mais nada para ela naquela casa.
Aquele capítulo de sua vida estava, finalmente, encerrado.
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