Os Sete Anos Roubados
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Capítulo 2

No dia seguinte, encontrei-me com a mãe de Hugo, a Senhora Gordon, num café discreto e luxuoso na Avenida Vieira Souto. O ar condicionado estava demasiado frio, ou talvez fosse apenas o gelo no meu coração.

Ela não perdeu tempo com gentilezas. Um envelope grosso foi deslizado pela mesa de mármore.

"O contrato," disse ela, a sua voz tão fria como o ambiente. "Cinquenta milhões de reais. Metade agora, a outra metade quando estiveres fora do Brasil. O acordo estipula que nunca mais contactarás o Hugo, nem te aproximarás dele ou da nossa família. Se quebrares o contrato, terás de devolver o dobro do valor."

Assinei sem hesitar, a minha caligrafia firme. Ela observou-me com uma satisfação mal disfarçada.

"És uma rapariga esperta, Raelyn. O dinheiro pode comprar-te uma vida muito melhor do que a que terias com o meu filho."

Não respondi. Peguei na minha cópia do contrato e saí do café, deixando-a com o seu triunfo. O dinheiro não significava nada. A única coisa que importava era a distância.

Comecei a planear a minha partida. Lisboa, Portugal. Um novo continente, uma nova vida. Enquanto tratava dos vistos e comprava a passagem, um tipo diferente de tortura começou.

Nicole Perry, a noiva secreta de Hugo, começou a exibir a sua felicidade no Instagram, numa campanha claramente dirigida a mim. As suas publicações estavam definidas para "Apenas Amigos Próximos", e eu era a única na lista.

Primeiro, uma foto desfocada de uma certidão de casamento, com a legenda: "Oficialmente Sra. Gordon. ❤️"

Eu cliquei em "gosto".

Depois, uma vista deslumbrante da varanda de uma nova penthouse em Copacabana. "A nossa nova casa. O Hugo tem um gosto impecável."

Eu cliquei em "gosto".

Seguiram-se fotos de provas de vestidos de noiva, anéis de diamante, jantares românticos. Cada publicação era uma facada deliberada. E a cada uma, eu respondia com um "gosto" calmo e indiferente. Era o meu pequeno ato de rebeldia, a minha recusa em dar-lhe a satisfação de ver a minha dor.

Quando Hugo regressou da sua "viagem de negócios", encontrou a nossa casa a meio de ser esvaziada. Caixas empilhadas nos cantos, espaços vazios nas prateleiras onde antes estavam as nossas memórias partilhadas.

"O que é isto?" perguntou ele, a sua voz cheia de confusão. "Estás a fazer uma limpeza de primavera?"

"Algo do género," respondi calmamente, dobrando uma camisola que ele me tinha dado. "A livrar-me de coisas velhas."

Ele viu a minha certidão de nascimento e outros documentos pessoais em cima da mesa. "Porque é que precisas disto?"

"Apenas a tratar de alguns assuntos pessoais," menti, o meu rosto uma máscara de serenidade. "Burocracia."

Ele pareceu aceitar a minha explicação, demasiado preocupado com os seus próprios segredos para ver os meus. Naquela noite, tentou compensar a sua ausência.

"Tenho uma surpresa para ti," disse ele, beijando-me o pescoço. "Um colar. Para usar no leilão de caridade amanhã à noite. Quero que todos vejam o quão bonita és."

O leilão. Um evento público. O palco perfeito para mais humilhação.

No evento, Nicole apareceu, deslumbrante num vestido de seda, agarrada ao braço de outro homem, mas os seus olhos estavam fixos em Hugo. Ela aproximou-se de nós, o seu sorriso doce e venenoso.

"Raelyn, que bom ver-te," disse ela, a sua voz a pingar falsa simpatia. "Hugo, querido, pareces cansado. Tens trabalhado demasiado."

A sua presença pairava sobre nós, uma nuvem desconfortável. Ela fez questão de mencionar piadas internas, de tocar no braço de Hugo de forma familiar, de me fazer sentir como uma estranha na minha própria relação. A humilhação não era aberta, mas subtil, um veneno lento que se infiltrava na minha pele.

            
            

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