Hugo, consumido pela culpa, tentou compensar. Ele insistiu em organizar uma grande festa para o meu aniversário, que seria em poucos dias.
"Quero mostrar a toda a gente o quanto significas para mim," disse ele, a sua sinceridade forçada a deixar um gosto amargo na minha boca.
Eu concordei, sabendo que seria a nossa despedida.
A festa foi realizada na mansão da família Gordon, um lugar que nunca considerei meu. Estava cheio de gente rica e poderosa, os amigos e associados de Hugo. Eles olhavam para mim com uma mistura de curiosidade e desdém, a empregada que tinha tido sorte. Ignorei os seus olhares, contando as horas até poder partir.
No meio da festa, Nicole chegou. Não tinha sido convidada, mas entrou como se fosse a dona do lugar, com um sorriso radiante e um presente na mão.
"Feliz aniversário, Raelyn," disse ela, a sua voz doce como mel envenenado.
Ela estendeu-me uma caixa de presente. Dentro, num ninho de cetim, estava um cachorrinho, um pequeno terrier a tremer.
"O nome dele é Rae," disse Nicole, com um brilho malicioso nos olhos. "Achei que era apropriado."
O meu sangue gelou. Há cinco anos, numa noite de tempestade, Hugo estava a arder em febre. O médico não atendia o telefone. Desesperada, corri pela chuva para ir buscar ajuda. No caminho, fui atacada por um cão vadio. Ele rasgou-me a perna, deixando uma cicatriz feia e um medo paralisante de cães que nunca desapareceu.
Hugo nunca soube. Eu nunca lhe contei. Não queria preocupá-lo. Mas Nicole, de alguma forma, sabia. E ela estava a usar o meu trauma como uma arma.