Nova Aventura: Além Deste Mundo
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Capítulo 3

A contagem regressiva continua a diminuir, um lembrete constante de que minha libertação está próxima. Faltam vinte dias.

Eu decido voltar ao que um dia foi meu lar. Não por saudade, mas para buscar algumas coisas que me pertenciam, peças de arte que criei antes de sacrificar minha carreira pela família.

A casa está silenciosa quando eu entro. Aparentemente, ninguém está em casa. Subo as escadas em direção ao antigo quarto principal.

Quando me aproximo da porta, ouço um som. Um gemido baixo, seguido por uma voz.

É Beatriz.

"Ah, Ricardo... mais rápido..."

Meu estômago se revira. Eu paro, congelada do lado de fora da porta do quarto que dividi com meu marido por cinco anos. A porta está entreaberta, e eu posso ouvir tudo.

A dor da traição, que eu pensei ter superado, volta com força total.

De repente, uma pequena figura surge do corredor, correndo em minha direção como uma bala de canhão. É Pedro.

Ele me vê e seu rosto se contorce em raiva. Ele se joga contra mim, me empurrando para longe da porta.

"O que você está fazendo aqui, sua mãe má?", ele grita. "Vá embora! Não atrapalhe o papai e a tia Bia!"

Suas palavras são mais dolorosas do que a cena que acabei de ouvir. Meu próprio filho, protegendo o caso do pai com a minha irmã.

Eu olho para o rosto dele, o rosto que eu amei mais do que tudo no mundo, e não sinto nada além de um vazio gelado.

"Tudo bem, Pedro", digo, minha voz surpreendentemente calma. "Eu já estou de saída."

Eu me viro e desço as escadas, sem olhar para trás. Minhas pinturas podem ficar. Elas pertencem a uma vida que não é mais minha.

A dor é insuportável. Preciso de uma distração. Preciso queimar mais dinheiro.

Vou direto para o banco e retiro uma quantia absurda em dinheiro vivo. De lá, vou a uma concessionária de carros de corrida.

"Quero o mais rápido que você tiver", digo ao vendedor, que me olha com espanto.

Compro um carro de corrida vermelho brilhante, um monstro de velocidade que eu mal consigo controlar. Eu o levo para a pista e dirijo por horas, o rugido do motor abafando os gritos na minha cabeça.

Depois, vou às compras. Entro nas lojas de grife mais exclusivas da cidade. Chanel, Dior, Hermès. Compro tudo o que vejo, sem olhar o preço. Bolsas, sapatos, vestidos. Peço que entreguem tudo na minha suíte de hotel.

Meu telefone toca. É um número desconhecido. Eu atendo.

"Sra. Ana Lúcia? Aqui é a Sra. Mendes, professora do Pedro."

Meu coração dá um salto. "Aconteceu alguma coisa?"

"Sim. Pedro se envolveu em uma briga na escola hoje. Ele está bem, mas o outro menino se machucou. O diretor precisa falar com um dos pais."

Antes que eu possa responder, ouço a voz de Ricardo ao fundo. Ele deve ter pegado o telefone da professora.

"Ana Lúcia, o que diabos você está ensinando ao nosso filho? Ele está se tornando um delinquente por sua causa! Venha aqui agora e assuma a responsabilidade por sua péssima criação!"

A acusação é tão absurda que eu rio. Um riso seco, sem humor.

"Minha criação, Ricardo? Eu não crio Pedro há semanas. Ele é todo seu agora. Ele e sua nova 'mãe'. Resolva você mesmo os seus problemas."

"Você é a mãe dele! É sua obrigação!"

"Não mais", digo, e a decisão se solidifica em minha alma. "Eu renuncio a essa obrigação. Eu renuncio a ele. Ele não é mais meu filho. Não me liguem mais sobre ele."

Eu desligo o telefone antes que ele possa responder. Uma sensação de alívio e culpa me invade. Mas o alívio é mais forte.

No dia seguinte, quando saio do hotel, sou cercada por repórteres. Eles devem ter sido avisados sobre o incidente na escola.

"Sra. Lúcia, é verdade que seu filho foi suspenso por agressão?"

"Você se sente responsável pelo comportamento rebelde dele?"

"Fontes dizem que você estava fazendo compras de luxo enquanto seu filho estava na diretoria. O que você tem a dizer sobre isso?"

As perguntas vêm de todos os lados, microfones e câmeras apontados para o meu rosto.

Eu paro. Olho diretamente para a câmera mais próxima.

"Sim, meu ex-filho se meteu em uma briga. Talvez ele tenha aprendido a ser agressivo com seu pai. Quanto a mim, eu estava, de fato, fazendo compras. E quer saber? Foi maravilhoso."

Um repórter mais ousado grita: "E sobre Beatriz, a nova mulher de Ricardo? Dizem que ela é uma ótima madrasta."

Uma raiva fria me percorre. É hora de jogar um pouco de fogo de volta.

"Beatriz?", eu sorrio, um sorriso afiado. "Ah, sim. Minha querida irmã. Uma mulher de muitos talentos. Perguntem a Ricardo sobre os talentos que ela estava exibindo no quarto deles ontem à tarde. Tenho certeza de que ele ficaria feliz em compartilhar os detalhes."

O silêncio chocado dos repórteres é música para os meus ouvidos. Eu me viro e entro no meu novo carro de corrida, deixando o caos para trás.

Enquanto dirijo, uma tosse repentina me sacode. É uma tosse seca e forte. Eu a ignoro, mas ela volta, mais violenta. Eu coloco a mão na boca.

Quando a afasto, vejo uma mancha vermelha na minha palma.

Sangue.

O carro derrapa um pouco enquanto eu tento processar o que vejo. O que está acontecendo comigo?

A contagem regressiva pisca na minha visão. 19:08:12:05.

O tempo está se esgotando. De mais de uma maneira, ao que parece.

            
            

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