Eu vejo Ricardo ao meu lado, limpando minha testa com um pano frio. Sua expressão é de preocupação genuína. Ele segura minha mão e sussurra: "Me desculpe, Ana. Eu sinto muito."
A sensação é tão real, tão reconfortante. Uma parte de mim, a parte tola que ainda o ama, quer se afundar nessa ilusão.
Mas então uma crise de tosse me traz de volta à realidade. O quarto está vazio. Estou sozinha. Sempre estive sozinha.
A campainha da suíte toca, me assustando. Eu me arrasto para fora da cama e olho pelo olho mágico.
É Ricardo.
Meu primeiro instinto é não abrir. Mas a curiosidade me vence. O que mais ele poderia querer de mim?
Eu abro a porta. Ele está impecavelmente vestido, como sempre. Em suas mãos, ele segura um envelope grosso, branco e elegante.
"O que você quer?", pergunto, minha voz fraca.
"Eu vim entregar isso pessoalmente", ele diz, evitando meu olhar. Ele me estende o envelope.
É um convite de casamento. O dele e de Beatriz.
A ironia é tão cruel que eu quase rio. Ele me humilha publicamente, corta todos os laços e depois vem me convidar para o seu casamento?
"Eu... eu queria explicar", ele começa, parecendo desconfortável. "A coletiva de imprensa... foi ideia da mãe da Beatriz. Eu não queria..."
"Não importa, Ricardo", eu o interrompo. Eu pego o convite. A data do casamento é em uma semana. "Parabéns."
Eu tento fechar a porta, mas ele a segura.
"Ana Lúcia, você não parece bem. Você está pálida."
"Estou ótima", minto, forçando um sorriso. "Apenas animada com o seu casamento."
Finalmente, ele desiste e vai embora. Eu fecho a porta e me encosto nela, o convite de casamento em minhas mãos. O papel caro parece queimar meus dedos.
Uma onda de náusea me atinge. Corro para o banheiro e vomito na pia. É quase todo sangue.
A contagem regressiva na minha visão brilha. 07:00:00:00.
Uma semana. A mesma semana do casamento deles.
Nos dias seguintes, a cidade é inundada com a imagem deles. Outdoors gigantes com suas fotos de noivado. Anúncios de TV sobre o "casamento do século". É impossível escapar.
Faltam três dias. A dor no meu peito é constante. Eu sei que não tenho muito tempo.
Decido que não vou morrer trancada neste quarto. Se estes são meus últimos dias, vou vivê-los.
Eu me maquio cuidadosamente, escondendo a palidez da minha pele e as olheiras sob meus olhos. Coloco meu vestido mais chamativo e contrato dois seguranças enormes para me acompanhar.
Eu volto para o mesmo clube exclusivo onde encontrei Ricardo e Pedro. O lugar está lotado. E, como se o destino gostasse de piadas cruéis, eles estão lá novamente. Ricardo, Beatriz e Pedro, sentados em um camarote VIP.
Eles me veem no momento em que eu entro. Beatriz sussurra algo no ouvido de Ricardo, e ele franze a testa.
Eu os ignoro. Peço uma garrafa do champanhe mais caro e me sento em uma mesa bem no centro da pista de dança.
Depois de um tempo, sinto uma presença ao meu lado. É Ricardo. Sozinho desta vez.
"O que você está fazendo aqui?", ele pergunta, sua voz baixa e tensa.
"Celebrando", digo, levantando minha taça. "Um brinde ao feliz casal."
"Ana Lúcia, pare com isso. As pessoas estão olhando."
"Que olhem", digo. "Eu não me importo mais com o que as pessoas pensam."
Pedro se aproxima, segurando a mão de Beatriz. Ele me olha com uma mistura de raiva e confusão.
"Por que você não nos deixa em paz?", ele pergunta.
Eu olho para ele, o menino que um dia foi meu mundo, e depois para Ricardo e Beatriz.
"Não se preocupem", digo, minha voz soando surpreendentemente forte. "Depois do casamento de vocês, eu prometo... vocês nunca mais vão me ver."
Eu me levanto, deixando a taça de champanhe intocada na mesa.
"Aproveitem a noite. E felicidades no casamento, Ricardo. E para você também, irmã."
Eu me viro e saio do clube, com meus seguranças abrindo caminho. Não olho para trás.
A contagem regressiva pisca. 02:15:30:10.
A promessa que fiz a eles era a mais pura verdade.