Nova Aventura: Além Deste Mundo
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Capítulo 4

A mancha de sangue na minha mão parece zombar de mim. Eu tusso de novo, uma tosse profunda e dolorosa que me faz parar o carro no acostamento. Eu me inclino sobre o volante, tentando recuperar o fôlego.

Quando finalmente chego ao hotel, a primeira coisa que faço é ligar para o sistema.

"O que está acontecendo com meu corpo?", pergunto ao vazio.

[Análise corporal em andamento... Detectada doença terminal no corpo da anfitriã. Estágio avançado. Prognóstico: menos de um mês de vida.]

Doença terminal. As palavras flutuam na minha mente, desprovidas de significado no início. Câncer de pulmão, em estágio final. O corpo que eu habito está morrendo.

Uma risada estranha escapa dos meus lábios. É irônico. Eu estava contando os dias para escapar deste mundo, e o próprio mundo já estava me expulsando.

De repente, a porta da minha suíte se abre com um estrondo. Ricardo está lá, seu rosto uma máscara de fúria.

"O que você disse aos repórteres?", ele grita, avançando em minha direção.

Eu me levanto, tentando esconder minha fraqueza. "Apenas a verdade."

"Você humilhou a Beatriz! Você me humilhou!"

Outra crise de tosse me atinge, mais forte desta vez. Eu me dobro, tentando conter a dor. Sangue escorre pelos meus dedos e pinga no tapete branco e caro.

Ricardo para. Pela primeira vez, vejo pânico em seus olhos. "Ana Lúcia? O que é isso?"

Ele dá um passo em minha direção, a mão estendida, quase como se fosse me ajudar.

Por um segundo, uma faísca de esperança se acende em mim. Ele se importa?

Mas eu a apago rapidamente. Não posso me dar a esse luxo.

Eu me endireito, limpando a boca com as costas da mão, deixando uma mancha vermelha na minha pele pálida. Eu sorrio para ele.

"O que foi, Ricardo? Assustado?", eu digo, minha voz rouca. "Não se preocupe. É só um truque. Um pouco de sangue falso para chamar a atenção. Aprendi com os melhores."

O pânico no rosto dele desaparece instantaneamente, substituído por uma fúria ainda maior. Seu rosto se fecha.

"Você é doente", ele cospe as palavras. "Você realmente faria qualquer coisa para ser o centro das atenções."

"Eu aprendi com você", retruco.

"Eu vou te processar por difamação", ele ameaça. "Vou fazer você se desculpar publicamente com a Beatriz."

Eu dou de ombros, uma sensação de total indiferença me invadindo. "Faça o que quiser, Ricardo. Nada do que você fizer pode me machucar mais."

Ele me encara por um longo momento, como se não me reconhecesse. Então, ele se vira e sai, batendo a porta com força.

Eu desabo no chão, o corpo tremendo de exaustão e dor. A contagem regressiva continua. 15 dias restantes.

Eu decido que preciso de uma despedida. Um grande final.

Meu aniversário está chegando. O verdadeiro, não a farsa do Dia dos Namorados. Eu vou dar uma festa. A maior, mais extravagante festa que esta cidade já viu.

Eu alugo o salão de festas mais luxuoso da cidade. Envio convites para centenas de pessoas – celebridades, empresários, a elite da cidade. E, claro, para Ricardo, Beatriz e minha mãe.

A notícia da minha festa de aniversário se espalha, e a mídia a trata como o evento mais bizarro do ano.

No dia da festa, Ricardo aparece antes de começar. Pedro está com ele.

"O que você pensa que está fazendo?", Ricardo exige.

"Dando uma festa. É meu aniversário."

Pedro me olha com seus olhos grandes e sérios. Em alemão, ele diz: "Papai disse que você está fazendo isso para nos provocar. Ele disse que você é uma mulher má e patética."

Eu olho para ele, o menino que eu cantei para dormir todas asnoites, e sinto uma pontada de dor. Mas ela é rapidamente substituída por uma resignação fria.

"Seu pai está certo", digo em português, para que ambos entendam. "Agora, se me dão licença, tenho convidados para receber."

A festa começa. A música está alta, o champanhe flui livremente. Eu estou usando um vestido deslumbrante, coberto de diamantes. Por fora, sou a imagem da extravagância. Por dentro, estou desmoronando.

No meio da festa, as luzes diminuem. Um telão desce no palco. Eu penso que é uma surpresa que organizei e esqueci.

Mas então, o rosto de Ricardo aparece no telão. Ele está em uma coletiva de imprensa improvisada, ao vivo. Beatriz está ao seu lado, parecendo frágil e magoada. Pedro está entre eles. Minha mãe e meu pai estão logo atrás.

"Eu gostaria de fazer um anúncio", diz Ricardo, sua voz séria e sombria. "Hoje, minha família e eu estamos aqui para cortar publicamente todos os laços com minha ex-esposa, Ana Lúcia."

O salão fica em silêncio. Todos os olhos estão em mim.

"Seu comportamento recente tem sido uma fonte de grande dor e constrangimento para todos nós", continua ele. "Ela abandonou seu filho, humilhou minha noiva e envergonhou sua própria família. Não podemos mais tolerar isso."

Minha mãe dá um passo à frente. "Como mãe, é com o coração pesado que digo que não considero mais Ana Lúcia como minha filha."

Beatriz chora suavemente no ombro de Ricardo. Pedro olha para a câmera e diz: "Eu não tenho mãe."

A humilhação é total. Pública. Brutal.

O dono do salão, amigo de Ricardo, se aproxima de mim. Seus seguranças estão com ele.

"Senhora Lúcia, peço que se retire", ele diz, sem me olhar nos olhos.

Eu sou expulsa da minha própria festa de aniversário. Caminho pelo salão silencioso, sob o olhar de centenas de pessoas, e saio para a noite fria.

Sozinha na calçada, eu começo a rir. Uma risada que se transforma em uma tosse violenta, trazendo mais sangue.

A contagem regressiva pisca. 13:18:30:11.

Quase lá.

            
            

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