O Retorno de Isabella
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Capítulo 1

O cheiro de sangue e mofo enchia minhas narinas. O chão frio da masmorra grudava na minha pele, e a escuridão era tão densa que eu já não sabia diferenciar o dia da noite.

Lá fora, ouvi os sinos da cidade. Não eram sinos de celebração, mas o som pesado e sombrio que anunciava uma execução.

A minha execução.

A porta de ferro rangeu. Dois guardas entraram, suas armaduras faziam um barulho metálico que ecoava na minha alma vazia.

Eles não vieram sozinhos.

Atrás deles, caminhando com uma graciosidade que não pertencia a este lugar imundo, estava Verônica, minha meia-irmã.

Ao seu lado, segurando sua mão com uma ternura que um dia fora minha, estava Ricardo, meu noivo. Ou melhor, meu ex-noivo.

"Querida irmã" , disse Verônica, com um sorriso que não alcançava seus olhos frios. "Vim me despedir. Não seria justo que você partisse sem saber a verdade."

Eu não respondi. Não tinha mais forças. Minha família, o Ducado de Valéria, havia sido acusada de traição contra o império. Meu pai, o Duque, foi executado há uma semana. Agora, era a minha vez.

"Fui eu" , ela continuou, sua voz um sussurro venenoso. "Eu falsifiquei as cartas. Eu plantei as 'provas' no escritório do nosso pai. E Ricardo me ajudou em cada passo."

Ricardo olhou para mim. Seus olhos, que antes me prometiam o mundo, agora estavam cheios de desprezo.

"Você nunca foi boa o suficiente para mim, Isabella. Sempre tão arrogante, tão cheia de si. Verônica, sim, ela sabe como tratar um homem."

Verônica riu, um som delicado e cruel.

"Tudo o que era seu, agora é meu. O título, a fortuna... e Ricardo. E em breve, serei a nova Duquesa. Você não passa de uma lembrança vergonhosa."

Eles se viraram para sair, deixando-me com a verdade que me rasgava por dentro. A traição doía mais do que a morte iminente.

Os guardas me arrastaram para fora, para a praça pública. A multidão gritava, me xingava, atirava coisas em mim.

Eles me forçaram a subir no cadafalso. A última coisa que vi antes da lâmina descer foi o rosto de Verônica na multidão, sorrindo.

Se eu pudesse ter outra chance... Se eu pudesse voltar... Eu faria eles pagarem. Cada um deles.

Uma dor aguda.

Escuridão.

E então... luz.

Abri os olhos, ofegante. O ar não cheirava a mofo, mas a flores e cera de vela. Eu não estava em um chão de pedra fria, mas em lençóis de seda macia.

Sentei-me abruptamente. Eu estava no meu próprio quarto, no palácio do Ducado. O sol da tarde entrava pela janela, iluminando a poeira dourada no ar.

Olhei para minhas mãos. Eram as mãos de uma jovem, sem as cicatrizes e a sujeira da prisão. Corri para o espelho.

A garota que me encarava era eu, mas mais jovem. Com dezesseis anos. Seu rosto era fresco, cheio de vida, sem o desespero que me consumiu.

Eu estava usando um vestido de baile magnífico, o mesmo que usei na minha festa de debutante.

A festa... O dia em que tudo começou a dar errado.

A porta se abriu e uma criada entrou.

"Senhorita Isabella, está se sentindo bem? A festa já começou. Seu pai, o Duque, está perguntando pela senhora."

Eu voltei. Eu realmente voltei.

Uma risada baixa escapou dos meus lábios, um som que começou com descrença e se transformou em uma promessa de vingança.

Desta vez, as coisas seriam diferentes.

Desci as escadas. O salão de baile estava cheio de nobres, a música era alegre, as luzes dos candelabros brilhavam. Era exatamente como eu me lembrava.

E então eu a vi.

Verônica.

Ela estava perto da mesa de sobremesas, conversando com algumas damas. E em seu cabelo, brilhando sob a luz, estava o grampo de safira. O grampo que o Imperador, meu tio, me deu de presente. Na minha vida passada, eu o perdi naquela noite e nunca mais o vi.

Agora eu sabia o porquê.

Ela o roubou.

Na minha vida anterior, eu era ingênua. Eu a tratava como uma irmã de verdade, mesmo ela sendo apenas a filha de uma concubina que meu pai trouxe para casa após a morte da minha mãe. Eu dividi tudo com ela. E ela me apunhalou pelas costas.

Desta vez, não haveria bondade. Não haveria perdão.

Caminhei firmemente em sua direção. A música pareceu parar, e os olhares se voltaram para mim.

Verônica me viu chegando e sorriu, um sorriso falso e doce.

"Irmã! Você finalmente desceu. Estávamos todos preocupados."

Eu não disse uma palavra. Apenas parei na sua frente. E, com toda a força que a raiva e a dor da minha vida passada me deram, eu a esbofeteei.

TAPA!

O som ecoou pelo salão silencioso.

Todos congelaram.

Verônica levou a mão ao rosto, seus olhos arregalados em choque e incredulidade.

"O que... o que você fez?" ela gaguejou.

Eu olhei para ela, meu rosto uma máscara de gelo.

"Quem te deu permissão para usar o meu grampo de cabelo?"

            
            

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