Ao seu lado, segurando sua mão com uma ternura que um dia fora minha, estava Ricardo, meu noivo. Ou melhor, meu ex-noivo.
"Querida irmã" , disse Verônica, com um sorriso que não alcançava seus olhos frios. "Vim me despedir. Não seria justo que você partisse sem saber a verdade."
Eu não respondi. Não tinha mais forças. Minha família, o Ducado de Valéria, havia sido acusada de traição contra o império. Meu pai, o Duque, foi executado há uma semana. Agora, era a minha vez.
"Fui eu" , ela continuou, sua voz um sussurro venenoso. "Eu falsifiquei as cartas. Eu plantei as 'provas' no escritório do nosso pai. E Ricardo me ajudou em cada passo."
Ricardo olhou para mim. Seus olhos, que antes me prometiam o mundo, agora estavam cheios de desprezo.
"Você nunca foi boa o suficiente para mim, Isabella. Sempre tão arrogante, tão cheia de si. Verônica, sim, ela sabe como tratar um homem."
Verônica riu, um som delicado e cruel.
"Tudo o que era seu, agora é meu. O título, a fortuna... e Ricardo. E em breve, serei a nova Duquesa. Você não passa de uma lembrança vergonhosa."
Eles se viraram para sair, deixando-me com a verdade que me rasgava por dentro. A traição doía mais do que a morte iminente.
Os guardas me arrastaram para fora, para a praça pública. A multidão gritava, me xingava, atirava coisas em mim.
Eles me forçaram a subir no cadafalso. A última coisa que vi antes da lâmina descer foi o rosto de Verônica na multidão, sorrindo.
Se eu pudesse ter outra chance... Se eu pudesse voltar... Eu faria eles pagarem. Cada um deles.
Uma dor aguda.
Escuridão.
E então... luz.
Abri os olhos, ofegante. O ar não cheirava a mofo, mas a flores e cera de vela. Eu não estava em um chão de pedra fria, mas em lençóis de seda macia.
Sentei-me abruptamente. Eu estava no meu próprio quarto, no palácio do Ducado. O sol da tarde entrava pela janela, iluminando a poeira dourada no ar.
Olhei para minhas mãos. Eram as mãos de uma jovem, sem as cicatrizes e a sujeira da prisão. Corri para o espelho.
A garota que me encarava era eu, mas mais jovem. Com dezesseis anos. Seu rosto era fresco, cheio de vida, sem o desespero que me consumiu.
Eu estava usando um vestido de baile magnífico, o mesmo que usei na minha festa de debutante.
A festa... O dia em que tudo começou a dar errado.
A porta se abriu e uma criada entrou.
"Senhorita Isabella, está se sentindo bem? A festa já começou. Seu pai, o Duque, está perguntando pela senhora."
Eu voltei. Eu realmente voltei.
Uma risada baixa escapou dos meus lábios, um som que começou com descrença e se transformou em uma promessa de vingança.
Desta vez, as coisas seriam diferentes.
Desci as escadas. O salão de baile estava cheio de nobres, a música era alegre, as luzes dos candelabros brilhavam. Era exatamente como eu me lembrava.
E então eu a vi.
Verônica.
Ela estava perto da mesa de sobremesas, conversando com algumas damas. E em seu cabelo, brilhando sob a luz, estava o grampo de safira. O grampo que o Imperador, meu tio, me deu de presente. Na minha vida passada, eu o perdi naquela noite e nunca mais o vi.
Agora eu sabia o porquê.
Ela o roubou.
Na minha vida anterior, eu era ingênua. Eu a tratava como uma irmã de verdade, mesmo ela sendo apenas a filha de uma concubina que meu pai trouxe para casa após a morte da minha mãe. Eu dividi tudo com ela. E ela me apunhalou pelas costas.
Desta vez, não haveria bondade. Não haveria perdão.
Caminhei firmemente em sua direção. A música pareceu parar, e os olhares se voltaram para mim.
Verônica me viu chegando e sorriu, um sorriso falso e doce.
"Irmã! Você finalmente desceu. Estávamos todos preocupados."
Eu não disse uma palavra. Apenas parei na sua frente. E, com toda a força que a raiva e a dor da minha vida passada me deram, eu a esbofeteei.
TAPA!
O som ecoou pelo salão silencioso.
Todos congelaram.
Verônica levou a mão ao rosto, seus olhos arregalados em choque e incredulidade.
"O que... o que você fez?" ela gaguejou.
Eu olhei para ela, meu rosto uma máscara de gelo.
"Quem te deu permissão para usar o meu grampo de cabelo?"