O Retorno de Isabella
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Capítulo 2

O silêncio no salão de baile era absoluto. Todos os olhos estavam fixos em nós. O tapa ainda ecoava no ar, uma declaração de guerra.

Verônica recuperou-se rapidamente do choque inicial. Lágrimas começaram a brotar em seus grandes e inocentes olhos, uma tática que ela sempre usou com perfeição.

"Isabella... irmã... o que deu em você?" sua voz tremeu, carregada de uma falsa mágoa. "Eu encontrei este grampo no chão do seu quarto. Pensei que você o tinha perdido e só o peguei para guardá-lo para você. Eu ia te devolver."

Ela se virou para as outras damas, buscando simpatia.

"Eu nunca faria nada para te magoar. Você sabe disso."

Que atriz talentosa. Na minha vida passada, eu teria acreditado nela. Teria me desculpado, me sentido culpada por minha explosão.

Mas não hoje.

"Mentira" , eu disse, minha voz clara e firme, cortando seu lamento.

As lágrimas de Verônica pararam por um instante, surpresa com a minha resposta direta.

"Primeiro" , eu continuei, dando um passo à frente, diminuindo o espaço entre nós. "Este grampo foi um presente do Imperador. É uma peça única. Você sabia exatamente o que era. Não se 'encontra' algo assim e se usa como se fosse seu."

Eu apontei para o grampo em seu cabelo.

"Segundo, e mais importante" , minha voz baixou, tornando-se perigosamente calma. "Desde quando você tem o direito de me chamar de 'irmã' ?"

A cor sumiu do rosto de Verônica. Essa era a sua maior insegurança. Ela era a filha ilegítima, a mancha na honra do nosso pai.

"Eu sou Isabella de Valéria, a única filha legítima do Duque Afonso, herdeira deste ducado. Você é Verônica, a filha de uma concubina. Seu lugar não é ao meu lado. É atrás de mim. Você deveria se dirigir a mim como 'Senhorita Isabella' ."

Um murmúrio percorreu o salão. Eu estava quebrando a fachada de família feliz que meu pai insistia em manter. Estava expondo a verdade que todos sabiam, mas fingiam ignorar.

"Isabella, por favor... não faça isso" , ela implorou, as lágrimas agora reais, nascidas do pânico e da humilhação.

"Ajoelhe-se" , eu ordenei.

Ela recuou um passo, horrorizada.

"O quê?"

"Eu disse, ajoelhe-se. Você roubou algo que pertence à filha do Duque e mentiu sobre isso. Peça perdão."

Eu estava testando os limites, empurrando a situação para um ponto sem retorno. Eu precisava ver quem ficaria do meu lado e quem se revelaria meu inimigo.

E, como eu esperava, ele apareceu.

"Isabella! Já chega!"

Ricardo abriu caminho pela multidão, seu rosto uma mistura de raiva e desapontamento. Ele foi direto para o lado de Verônica, colocando um braço protetor ao redor dela.

Ah, aí está ele. O traidor.

"Olhe o que você fez" , disse Ricardo, olhando para o rosto choroso de Verônica. "Por que você está sendo tão cruel? É só um grampo de cabelo."

" 'Só um grampo de cabelo' ?" , repeti, um sorriso frio surgindo em meus lábios. "Este é um assunto da família Valéria. Não se intrometa, Ricardo."

Sua raiva aumentou. Ele não estava acostumado a ser desafiado por mim.

"Eu sou seu noivo! É claro que vou me intrometer quando você está agindo como uma criança mimada e intratável!" ele rosnou, usando a palavra que ele usaria para me descrever para os outros por anos. "Peça desculpas a Verônica agora mesmo."

Eu ri. Uma risada genuína e cheia de escárnio.

"Pedir desculpas a ela? Ricardo, você está me ouvindo? Ela roubou de mim. Ela mentiu. E você a defende?"

Ele cerrou os punhos.

"Isabella, não me force a ser duro. Nosso casamento está marcado. Pense na sua reputação. Pense na reputação das nossas famílias. Você quer que todos pensem que a futura Duquesa é uma tirana descontrolada?"

A ameaça era clara. Use o nosso noivado e a pressão social para me forçar a recuar. Era o que ele sempre fazia.

Mas a Isabella que se curvava a ele estava morta, enterrada em uma cova sem nome.

"Você está me ameaçando, Ricardo?" , perguntei, levantando uma sobrancelha. "Com o nosso casamento?"

Ele não hesitou.

"Se for preciso. Agora, pare com este espetáculo e peça desculpas."

Eu olhei para ele, depois para Verônica, que se escondia atrás dele como uma donzela indefesa. A mesma cena que vi inúmeras vezes na minha vida passada.

Mas desta vez, o roteiro seria meu.

            
            

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