Laura trabalhava na empresa há três anos, desde que se formou com louvor na faculdade de arquitetura. Ela entrou como uma novata cheia de sonhos e, com seu talento e esforço, rapidamente se destacou, liderando projetos cada vez mais importantes e trazendo lucros significativos para a empresa. A promoção não era apenas um desejo, era uma consequência lógica do seu trabalho.
Seu telefone vibrou sobre a mesa, era uma mensagem de Pedro, seu namorado.
"Ansiosa para a reunião de hoje? A futura Diretora precisa comemorar."
Laura sorriu e respondeu rapidamente.
"Muito! Já estou pensando onde vamos jantar. Escolha um lugar chique, a ocasião merece."
Ela olhou para o relógio na tela, a reunião geral com o Sr. Mendes, o dono da empresa, seria em dez minutos. Era o momento. Seu coração batia um pouco mais rápido, uma mistura de nervosismo e excitação.
Enquanto arrumava suas coisas para ir à sala de reuniões, Tia Cida, a ex-gerente de RH que agora cuidava de assuntos administrativos, aproximou-se discretamente de sua mesa. Tia Cida era uma mulher mais velha, com um olhar gentil, e tinha um carinho especial por Laura desde que a contratou.
"Laura, querida", ela começou em voz baixa, "só queria te dizer para ter cuidado hoje."
Laura franziu a testa, confusa.
"Cuidado? Por quê, Tia Cida? É só o anúncio da promoção."
Tia Cida suspirou, seu olhar era de preocupação.
"Eu ouvi umas coisas... O Sr. Mendes tem andado estranho desde que a filha dele voltou do exterior. Apenas... não crie expectativas demais, ok? Este lugar nem sempre é justo."
Laura sentiu um calafrio, mas tentou ignorar.
"Que isso, Tia Cida. O Sr. Mendes sabe do meu valor. O projeto 'Jardins do Amanhã' vai render milhões para a empresa. Ele não seria louco de ignorar isso."
Tia Cida apenas deu um tapinha no ombro de Laura e se afastou, deixando um rastro de incerteza no ar.
Laura balançou a cabeça, tentando afastar os maus pensamentos, e caminhou com confiança para a sala de reuniões. A maioria da equipe já estava lá, todos a cumprimentavam com sorrisos cúmplices, cochichando sobre sua iminente promoção. Ela era respeitada e querida por seus colegas, que reconheciam sua competência.
O Sr. Mendes entrou na sala, seu rosto impassível como sempre. Ao seu lado, uma jovem com um ar arrogante e roupas de grife que pareciam deslocadas no ambiente corporativo. Laura a reconheceu vagamente das redes sociais de Pedro, era Sofia Mendes, a filha do chefe.
Laura não deu muita importância, imaginou que ela estava ali apenas para observar.
O Sr. Mendes limpou a garganta e começou a falar sobre os resultados da empresa, elogiando o sucesso do último trimestre, um sucesso que tinha o nome de Laura por toda parte.
"E para dar continuidade a esse crescimento", disse o Sr. Mendes, com um pequeno sorriso, "eu gostaria de anunciar uma mudança na nossa liderança. Temos uma nova Diretora de Projetos."
Laura ajeitou-se na cadeira, seu coração pronto para saltar.
"Gostaria de apresentar a vocês... Sofia Mendes, minha filha."
Um silêncio chocado caiu sobre a sala.
As pessoas se entreolhavam, incrédulas. Laura sentiu o ar faltar em seus pulmões, o sorriso congelado em seu rosto. Sofia? A garota que, segundo as fofocas, mal tinha terminado um curso de design de interiores qualquer no exterior e nunca havia trabalado um dia na vida?
Sofia deu um passo à frente, com um sorriso presunçoso.
"Olá a todos. Espero que possamos trabalhar bem juntos. Tenho muitas ideias inovadoras para revolucionar a 'Construções Futuro'."
A voz dela era irritante, cheia de uma confiança que não tinha base alguma.
Laura olhou para o Sr. Mendes, esperando que fosse uma piada de mau gosto, mas ele a encarava com uma frieza calculada, como se a desafiasse.
A humilhação queimou em seu rosto. Três anos de dedicação, de sacrifício, de resultados... tudo jogado no lixo pelo nepotismo descarado.
Ela não podia aceitar aquilo. Não podia ficar quieta e ver uma incompetente mimada roubar o lugar que era seu por direito.
Enquanto Sofia continuava seu discurso vazio, cheio de jargões que ela claramente não entendia, Laura se levantou.
Todos os olhares se voltaram para ela.
Ela não disse uma palavra, apenas pegou sua bolsa e caminhou em direção à porta. Seu passo era firme, sua cabeça erguida. Ela não ia dar a eles o prazer de vê-la chorar ou implorar.
Ela ia confrontar o Sr. Mendes.
Sozinha.
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