Laura olhou para a caixa, para o cacto morto, para a foto quebrada. Ela não sentiu tristeza. Não sentiu raiva. Sentiu apenas um desprezo gelado. Eles eram tão pequenos, tão previsíveis em sua crueldade.
Ela fechou a caixa e a colocou junto ao lixo. Era hora de ir para casa. De verdade.
Ela dirigiu por duas horas, saindo da selva de concreto da cidade e entrando nas colinas verdes e exuberantes onde sua família vivia. A mansão dos Costa erguia-se no topo de uma colina, imponente e acolhedora.
Seu avô, o patriarca da família, a esperava na varanda. Um homem de cabelos brancos e olhar astuto, que construiu um império do nada.
"Finalmente decidiu voltar para casa, minha neta?", ele disse, abraçando-a com força.
"Eu precisava, vovô", ela sussurrou, sentindo a segurança daquele abraço.
Naquela noite, reunida com seus pais e seu avô na enorme sala de estar, Laura contou tudo. A dedicação, o projeto, a promoção roubada, a humilhação pública, a traição de Pedro. Ela não chorou, sua voz era firme e objetiva.
Quando terminou, o silêncio pesou na sala. Seu pai, um homem de negócios implacável, mas com um coração mole para a filha, tinha o rosto vermelho de fúria.
"Aquele Mendes... Eu me lembro dele. Um verme que se aproveitou da minha amizade no passado para conseguir aquele terreno. E ele ousa fazer isso com a minha filha?"
Seu avô, no entanto, estava calmo. Ele olhou para Laura com orgulho.
"Eu sempre soube que você tinha fibra, menina. Eu nunca entendi essa sua ideia de ir trabalhar como uma Zé Ninguém, escondendo quem você era. Mas agora eu entendo. Você queria provar seu próprio valor. E você provou."
Laura assentiu. "Eu não queria que as pessoas me tratassem de forma diferente por causa do nosso nome, do nosso dinheiro. Eu queria ser a arquiteta Laura Costa, não a herdeira do Grupo Costa."
"E você conseguiu", disse sua mãe, a voz suave. "Mas agora, eles te desrespeitaram. Eles desrespeitaram não apenas você, mas a nossa família. Isso não pode ficar assim."
Seu avô sorriu, um sorriso que lembrava o de um tubarão.
"Não vai. Laura, o que você quer fazer?"
Laura o encarou, seus olhos brilhando com uma luz perigosa.
"Eu não quero apenas que eles paguem o aluguel. Isso é pouco. Eu quero a empresa dele, vovô. Eu quero a 'Construções Futuro'. Eu a construí com meu trabalho, e ele a está destruindo com a incompetência dele. Eu quero tomá-la de volta."
Seu pai e seu avô se entreolharam, e ambos sorriram. A mesma determinação fria corria no sangue da família.
"Um plano ousado. Eu gosto disso", disse seu avô. Ele se levantou e foi até um cofre antigo embutido na parede. Voltou com uma pasta de couro.
Ele a colocou sobre a mesa na frente de Laura.
"Aqui está", disse ele. "A escritura original do terreno, o contrato de aluguel vencido, os avisos de inadimplência que enviamos e que ele ignorou. Tudo o que você precisa."
Laura abriu a pasta. Os documentos eram o seu arsenal, as suas armas para a guerra que estava por vir.
"O Sr. Mendes está à beira da falência", continuou seu pai. "Nossos contatos no banco nos informaram que ele tem tentado conseguir um empréstimo desesperadamente, mas ninguém confia na gestão daquela filha dele. A empresa está sangrando dinheiro. É uma questão de tempo."
Laura fechou a pasta, um sentimento de poder percorrendo seu corpo. O poder de não ser mais a vítima. O poder de ditar as regras.
"Ele teve a chance de ser justo. Ele escolheu o nepotismo e a arrogância", disse Laura, a voz ressoando com uma nova autoridade. "Ele me disse para 'trabalhar ou sair'. Pois bem, eu saí. E agora, eu voltei para cobrar o aluguel."
Ela se levantou, o olhar fixo no horizonte, como se já pudesse ver a queda de seus inimigos.
"Eles vão aprender, da maneira mais difícil, que mexeram com a mulher errada."
A caçada havia começado.
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