Era uma mentira deslavada. As ideias mais lucrativas da empresa nos últimos anos tinham vindo de Laura.
E para piorar, Pedro, que agora ocupava um cargo de "consultor sênior" criado especialmente para ele, teve a audácia de complementar.
"É verdade. Muitas vezes eu tentei sugerir abordagens mais modernas para a Laura, mas ela era muito apegada aos seus próprios métodos. Era difícil trabalhar com ela."
Tia Cida, ao telefone com Laura, bufava de raiva.
"Aquele moleque! Inacreditável! Seus 'métodos' eram o que pagavam o salário dele! A equipe toda ficou de queixo caído com a falsidade."
Laura ouvia tudo em silêncio, sentindo o nó em sua garganta apertar.
Mais tarde, no grupo de WhatsApp, seus ex-colegas leais expressaram sua revolta.
"Que reunião nojenta. Senti vontade de vomitar."
"O Pedro é o maior Judas que eu já conheci."
"Laura, você precisa se cuidar. Eles estão tentando te queimar no mercado."
Um deles, um jovem engenheiro chamado Lucas, que sempre admirou o trabalho de Laura, enviou uma mensagem privada.
"Laura, você não pode deixar isso barato. Eles vão destruir sua reputação. Você tem que reagir, processá-los, sei lá!"
Laura leu as mensagens, o calor da lealdade deles aquecendo um pouco seu coração gelado. Eles a conheciam, sabiam da verdade. E isso importava.
Ela respondeu no grupo:
"Obrigada a todos pelo apoio. De verdade. Não se preocupem comigo."
Lucas insistiu na conversa privada: "Não se preocupar? Laura, o Sr. Mendes tem muita influência. Você precisa de um plano."
Laura olhou para a mensagem dele e um pequeno sorriso, o primeiro sorriso genuíno em dias, surgiu em seus lábios. Era um sorriso sombrio, cheio de segredos.
Ela digitou uma resposta curta.
"Eu tenho um plano, Lucas. Na verdade, eu tenho uma carta na manga que eles nem imaginam."
A curiosidade de Lucas foi imediata. "Que carta? O que é?"
Laura fez uma pausa dramática antes de digitar. Ela confiava em Lucas e em Tia Cida. Eles mereciam saber. E, para ser honesta, ela precisava compartilhar seu segredo com alguém, ou explodiria.
Ela ligou para Tia Cida e pediu que ela chamasse Lucas para uma conversa privada. Em uma chamada de vídeo a três, com os rostos ansiosos de seus aliados a encarando, Laura respirou fundo.
"Vocês estão preocupados que o Sr. Mendes possa destruir minha carreira, certo?"
"Sim!", disseram os dois em uníssono.
"Vocês estão preocupados que ele seja o dono todo-poderoso da 'Construções Futuro'?"
"Claro", disse Tia Cida, impaciente. "Onde você quer chegar, menina?"
Laura inclinou-se para a câmera, sua voz baixa e cheia de um poder recém-descoberto.
"Ele é o dono da empresa. Mas ele não é o dono do prédio."
Tia Cida e Lucas se olharam, confusos.
"Ele não é o dono do terreno onde o prédio da 'Construções Futuro' foi construído", continuou Laura, saboreando cada palavra. "Ele paga aluguel."
"E daí?", perguntou Lucas. "Isso não muda muita coisa."
Laura sorriu. E então, ela soltou a bomba.
"Muda tudo. Porque o terreno, o prédio, tudo... pertence à minha família. E o contrato de aluguel dele venceu há dois meses. Ele está inadimplente, e meu avô só não o despejou ainda por consideração aos velhos tempos. Consideração essa que acabou."
O silêncio na chamada foi total. Os queixos de Tia Cida e Lucas caíram. A expressão deles era uma mistura de choque, incredulidade e, finalmente, um deleite absoluto.
"Meu Deus, Laura...", sussurrou Tia Cida, os olhos arregalados.
Lucas começou a rir, uma risada alta e incrédula. "Isso é... isso é genial! Eles não fazem a menor ideia!"
"Nenhuma", confirmou Laura. "O Sr. Mendes acha que eu sou apenas uma arquiteta órfã e sem ninguém. Ele não sabe que meu sobrenome, Costa, é o mesmo dos donos do Grupo Costa, um dos maiores conglomerados imobiliários do país. Eu nunca quis usar o nome da minha família, queria construir minha própria carreira. Mas eles me forçaram a jogar um jogo sujo."
Ela se recostou na cadeira, o olhar fixo e determinado.
"Pois bem. Agora vamos jogar o meu jogo. E com as minhas regras."
---