Quando o Perdão Liberta
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Capítulo 2

Meus pais não me apoiaram. Quando anunciei, durante um jantar tenso naquela noite, que queria cancelar o casamento com Pedro, a reação deles foi exatamente a que eu esperava. Minha mãe chorou, dizendo que eu estava arruinando a reputação da família e a amizade dela com a mãe de Pedro. Meu pai, sempre prático, falou sobre as implicações financeiras, sobre a aliança poderosa que a nossa família faria com a de Pedro. Ninguém me perguntou se eu estava feliz. Ninguém se importou com os meus motivos.

Naquele momento, ficou claro que eu estava sozinha nessa luta, e isso, estranhamente, só fortaleceu minha decisão. Eu não tinha um lar para onde voltar, então a única direção era para frente.

Na manhã seguinte, liguei para o escritório de Pedro. Sua secretária atendeu.

"Gostaria de falar com o Pedro, por favor. É a Estrela."

"Senhorita Estrela, o senhor Patterson está em reunião. Posso deixar um recado?"

"Sim", eu disse, com a voz calma. "Diga a ele que eu reafirmo o que disse ontem. O casamento está cancelado. Estarei enviando os documentos formais através do meu advogado."

Desliguei antes que ela pudesse responder. Não haveria mais discussões, não haveria mais súplicas. Seria um rompimento limpo e profissional.

Depois disso, havia algo que eu precisava fazer. Algo que eu precisava recuperar. Na vida passada, para me agradar no início do nosso noivado, Pedro comprou para mim em um leilão um conjunto de facas de cozinha artesanais, feitas por um mestre cuteleiro japonês. Eram a minha posse mais preciosa. Depois que nos casamos e eu abandonei a culinária, as facas ficaram guardadas, esquecidas. Agora, eu precisava delas. Eram um símbolo do meu sonho, da minha identidade.

Lembrei-me que o leilão aconteceria novamente, uma edição anual. Aconteceria naquela mesma tarde. Vesti-me rapidamente e fui para a casa de leilões no centro da cidade. O lugar estava cheio, o ar vibrando com a excitação dos lances. Encontrei um lugar no fundo e esperei, o coração batendo forte.

Finalmente, o leiloeiro anunciou o lote 27: "Um conjunto excepcional de facas de chef, forjadas à mão pelo mestre Takeshi Tanaka". Meu estômago se revirou. Elas eram ainda mais bonitas do que na minha memória.

"Lance inicial de dez mil", disse o leiloeiro.

Levantei minha placa.

"Vinte mil", uma voz gritou do outro lado do salão.

"Trinta mil", eu respondi imediatamente.

A guerra de lances continuou. Cinquenta mil. Setenta mil. Cem mil. O preço estava ficando alto, mas eu não me importava. Eu tinha economias, e gastaria cada centavo se fosse preciso.

"Cento e cinquenta mil", disse uma voz familiar, vinda de algumas fileiras à minha frente.

Meu sangue gelou. Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Era Pedro. E ao lado dele, sorrindo docemente, estava Sofia.

Virei o rosto, tentando me esconder na multidão, mas era tarde demais. Os olhos de Pedro encontraram os meus. Ele parecia surpreso por me ver ali. Então, seu olhar se tornou desdenhoso.

"Estrela? O que você está fazendo aqui?", ele perguntou, caminhando em minha direção, com Sofia o seguindo de perto. "Não me diga que você ainda está com essa ideia boba de ser cozinheira."

A forma como ele disse "cozinheira", com tanto desprezo, acendeu uma chama de raiva dentro de mim.

"Eu vim comprar as facas, Pedro", eu disse, mantendo minha voz firme.

Sofia se aproximou, segurando o braço de Pedro. "Ah, Pê, deixe ela. Se ela quer as facas, talvez possamos dar de presente de casamento, né? Para ela cozinhar para você." Ela me olhou com uma falsa simpatia que me deu náuseas.

"Duzentos mil!", Pedro gritou para o leiloeiro, sem tirar os olhos de mim. Seu olhar era um desafio. Ele não estava comprando as facas para mim, ele estava competindo comigo. Ele queria me mostrar quem estava no controle.

"Duzentos e cinquenta mil!", eu gritei de volta, minha voz tremendo um pouco de raiva.

A sala ficou em silêncio, todos os olhos em nós. A competição pessoal era óbvia.

"Trezentos mil", Pedro disse, o sorriso arrogante de volta em seu rosto.

"Pedro, por favor", eu disse em voz baixa, a raiva dando lugar a um pingo de desespero. "Essas facas são importantes para mim."

Ele me ignorou completamente.

"Quinhentos mil!", ele anunciou, a voz alta e clara.

O leiloeiro bateu o martelo. "Vendido! Para o senhor na fila da frente!"

Meu coração afundou. Eu o encarei, incrédula. Ele gastou meio milhão em um conjunto de facas apenas para me humilhar, para provar um ponto.

"Por quê?", eu sussurrei, sentindo as lágrimas brotarem nos meus olhos. "Por que você fez isso?"

Ele se aproximou, o rosto a centímetros do meu. "Para te ensinar uma lição", ele disse, a voz baixa e cruel. "Você é minha noiva. Seu lugar é ao meu lado, não em uma cozinha. Esqueça essas fantasias ridículas."

Eu o olhei, vendo pela primeira vez não o homem que eu amava, mas um monstro arrogante e controlador. A dor era imensa, mas por baixo dela, algo novo nascia: uma determinação fria como aço. Eu não precisava daquelas facas específicas. Eu precisava do meu sonho. E eu o alcançaria, com ou sem ele.

            
            

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